Você já ouviu aquela expressão “gostemos ou não, teremos que aceitar”? Pois é, é assim que os torcedores que quiserem entrar em arenas e estádios de futebol no Brasil com capacidade para mais de 20 mil pessoas terão que enfrentar, até 2025, o sistema de reconhecimento facial na entrada dos jogos. A medida faz parte da Lei Geral Desportiva sancionada em 2023. Palmeiras é um dos clubes primeiros adotantes
de tecnologia e, desde o ano passado, 100% dos acessos ao Allianz Parque são feitos apenas desta forma.
Outro detalhe que chama a atenção é que recentemente, um evento ocorrido na final do Campeonato Sergipano envolvendo o sistema de reconhecimento facial, teve destaque negativo. Torcedor acabou detido por engano e passou por situação constrangedora
. Pouco depois, essa tecnologia, que não é a mesma do Allianz Parque, como explica Cadar, foi suspensa pelo governador do estado.
Com uma obrigação à vista, uma certa incerteza sobre o novo, como essa tecnologia pode de fato impactar a indústria esportiva? Tendo esta premissa em mente, o Esporte é Experiência
conversou com o CEO da Bepass, Ricardo Cadar, para detalhar melhor os benefícios da utilização do sistema de reconhecimento facial.
Leia as perguntas abaixo.
1 – Antes de entrar no assunto, seria interessante fazer um rápido passo a passo. A tecnologia é e sempre foi tema de qualquer questão na vida humana. Porém, atualmente, tudo parece convergir para isso, inclusive o desporto. Além dos recursos que ajudam e influenciam diretamente quem está em campo, como a tecnologia afeta, em geral, a experiência de quem está de fora, como os torcedores?
A evolução tecnológica tem desempenhado um papel fundamental em diversas áreas da sociedade, incluindo o setor desportivo. A sofisticação dessas atividades criou um mercado promissor para startups focadas em futebol, as chamadas sportstechs, que também crescem prestando serviços a diversos negócios voltados para um público apaixonado pelo esporte.
Podemos ver exemplos dessas empresas trabalhando para melhorar o desempenho, novas formas de os torcedores interagirem com o esporte e até integrando tecnologias dentro dos estádios, como é o caso do Bepass. Somos especializados em soluções de biometria facial em locais com capacidade para grandes aglomerações, como estádios de futebol.
A tecnologia oferece não só ao clube, mas principalmente aos torcedores, uma nova forma de experiência por meio de: segurança (validação e identificação de quem acessa o local, impossibilitando fraudes de acesso e eliminando ações de cambistas), agilidade (leitura do rosto em menos mais de três segundos), comodidade (sem perda de tempo ou necessidade de emissão de crachás, cartões ou QRCodes), acesso democrático (diferentemente de todos os outros acessos que possuem algum tipo de restrição para determinados públicos, como biometria digital, por exemplo), além de segurança (proibição de entrada de pessoas legalmente impedidas de acesso).
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2 – E falando especificamente em reconhecimento facial, solução que o Bepass oferece, e que já conta com mais de 1,5 milhão de rostos cadastrados, como funciona e quais os benefícios na prática?
Funciona assim, são basicamente duas etapas:
1º Cadastro de biometria facial – ao adquirir o ingresso online, o torcedor será direcionado a cadastrar seu rosto através do site de compra de ingressos. Este processo é intuitivo e realizado em menos de 10 segundos;
2º Reconhecimento imediato – uma vez cadastrada a foto e adquirido o ingresso, basta comparecer ao estádio com nada mais que o seu rosto, que será identificado na catraca e o acesso será liberado. Muito mais ágil e seguro. Os problemas de ingressos perdidos ou roubados, taxas de câmbio e filas não existem mais, fazendo com que os torcedores não precisem chegar tão cedo ao local para assistir ao jogo, pois todo o processo é muito mais dinâmico.
3 – Em 2024, durante a final do Campeonato Sergipano, um torcedor foi detido por engano pelo sistema de reconhecimento facial, o que levou o estado nordestino a suspender o uso da tecnologia pela PM. Por que o sistema falhou? Você acredita que esse tipo de evento pode gerar desconfiança por parte da indústria esportiva?
Estes são sistemas diferentes. O sistema de identificação de câmeras compara cada pessoa filmada com milhares de pessoas cadastradas em algum sistema. O Sistema de Reconhecimento Facial para Controle de Acesso Bepass limita o número de pessoas cadastradas àquelas que irão assistir à partida. Tomando como exemplo um jogo no Allianz Parque, estádio do Palmeiras, cada pessoa que passar pela catraca terá seu rosto comparado apenas com as pessoas cadastradas para entrar naquele portão específico, ou seja, menos de 10 mil pessoas.
Dessa forma, a possibilidade de falso positivo na tecnologia que utilizamos é extremamente menor, inferior a 1%. E mesmo que isso aconteça, temos mecanismos de contingência para uma verificação completa.
Finalmente, acredito que este é um tema interessante agora que o tema é cada vez mais popular. Vale ressaltar que o reconhecimento facial utilizado em estádios é diferente daquele aplicado na segurança pública, o que é proibido, por exemplo, na União Europeia devido ao risco de erros, como falsos positivos, que podem ocorrer quando a pessoa não está bem posicionado, em situações com pouca iluminação ou em ângulos desfavoráveis, como falar ao celular.
A tecnologia utilizada nos estádios, porém, é mais precisa e eficiente, pois visa validar e identificar as pessoas que acessam o local, além disso, permitem o uso do rosto para fins de acesso, algo diferente da segurança pública. Nesse caso, posicionam o rosto e assim minimizam as chances de falhas, proporcionando um ambiente seguro para os torcedores.
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4 – Escrevi aqui recentemente sobre os desafios que a Block Chain tem ao entrar no mercado esportivo. Você acredita que existe algum tipo de resistência por parte da nossa cultura em desconfiar do que há de novo, ou não foi bem assim com o reconhecimento facial?
É natural que o ser humano tenha medo do novo. Assim como também é natural abraçar essa mesma novidade quando você vê seus benefícios. Sem dúvida, haverá quem fale negativamente sobre a tecnologia, mas basta passar pela experiência para abraçar suas vantagens e benefícios.
Porém, com a nova Lei Geral do Desporto, que exige que estádios com mais de 20 mil lugares tenham essa tecnologia a partir de 2025, ela se tornará cada vez mais comum, afastando qualquer tipo de resistência.
Para ilustrar como o cenário esportivo caminha para uma era onde tecnologia e entretenimento se entrelaçam de forma inovadora e benéfica para todos os envolvidos, podemos citar aqui nossa atuação no Allianz Parque, no Palmeiras, primeiro estádio do mundo com 100% de acesso via biometria facial, com mais de 650 mil fãs cadastrados. Inicialmente, fomos contratados para trazer mais agilidade à entrada dos torcedores e eliminar o câmbio. Porém, fomos além e oferecemos a questão da segurança, em parceria com o programa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo e o clube, ajudamos na prisão de mais de 70 pessoas que estavam em situação irregular na justiça.
Dessa forma, acontecimentos que muitas vezes eram vistos como locais de tensão começam a mudar esse cenário por conta da tecnologia.
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5 – Para se ter uma ideia do custo de implementação e do retorno financeiro: é muito caro ter acesso 100% limitado ao reconhecimento facial como o do Palmeiras?
É difícil mensurar um valor fechado porque varia muito de acordo com a necessidade do clube. Nosso orçamento é bastante flexível e personalizado, varia, por exemplo, dependendo do público médio que frequenta o estádio, da quantidade de catracas para implantação da tecnologia, bem como da quantidade de jogos dos times ao longo da temporada.
6 – Santos informou recentemente que iniciou a implementação da tecnologia e que aderirá em 2025 de forma obrigatória. Pelo menos 12 estádios no Brasil já utilizam o sistema de reconhecimento facial. O que falta para essa tecnologia estar em 100% das arenas e estádios do Brasil (além de ser obrigatória, claro)? É dinheiro ou cultura?
Diversas arenas estão deixando para última hora, talvez por desconhecimento das facilidades e benefícios que a tecnologia traz. Mesmo arenas com menor capacidade apresentam muitos benefícios econômicos e de eficiência com esta tecnologia.
Na minha opinião, a solução não está mais difundida por falta de conhecimento ou mesmo medo do desconhecido. Porém, acredito que a introdução da tecnologia nos principais clubes do país como Flamengo, Atlético Mineiro, Palmeiras, Botafogo, por exemplo, incentivará a adesão de novos clubes.
7 – Agora, dúvidas que já me ocorreram e que gostaria de esclarecer com alguém que é especialista. Um gêmeo idêntico pode se passar por seu irmão, por exemplo, no reconhecimento facial?
Sempre nos perguntam isso, porém, cada pessoa tem suas características e cada pessoa é única. Até gêmeos idênticos podem ser reconhecidos individualmente. Já tivemos casos assim. No entanto, a nossa tecnologia consegue ler mais de 80 pontos nodais do rosto humano – características únicas no rosto de cada pessoa.
É claro que nada na vida é 100% e, em alguns casos muito específicos, com condições adversas, podem ser confundidos. Eles têm uma margem de erro inferior a 0,5%.
*Gilmar Junior é atleta de flag football 8×8 do Brasil Devilz, executivo de marketing da 100 Sports, jornalista, especialista em gestão e marketing esportivo e é especialista em gestão de experiência do consumidor