O ministro Raul Araújo, que deixou o Tribunal Superior Eleitoral na última sexta-feira, 6, decidiu, no último dia de trabalho na Corte, rejeitar petição da campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o principal adversário no a disputa da eleição presidencial de 2022, Jair Bolsonaro (PL), e a rádio Jovem Pan colocar abuso da mídia e disseminação de desinformação.
Na ação, a campanha de Lula alegou que a rádio, então comandada pelo empresário Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, conhecido como Tutinha, “se envolveu ativamente em um ecossistema de desinformação favorável ao candidato Jair Bolsonaro e ao seu vice, Walter Souza Braga”. Netto, especialmente durante as eleições de 2022.”
Tutinha deixou o comando da emissora paulista no dia 9 de janeiro de 2023, um dia depois de a horda bolsonarista atacar prédios na Praça dos Três Poderes na tentativa de dar um golpe de Estado.
A ação do PT citou uma série de comentários que deixaram claro de que lado estava o Jovem Pan estava naquele período eleitoral. Em uma delas, a comentarista Zoe Martínez afirmou: “Espero muito que assuntos como drogas, liberação de medicamentos, aborto, sejam colocados na agenda por Bolsonaro, para que o público que ainda está indeciso tenha a oportunidade de ver as bandeiras que Lula realmente defende.”
Em outro momento, a ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel disse sobre Lula: “o famoso ‘pai dos pobres’, autodenominado ‘pai dos pobres’, não pode sair às ruas. Nem no Nordeste consegue carregar multidões (…). E ainda assim, o outro lado, com um discurso muito orgânico, com um discurso natural (…) o presidente Bolsonaro, nesse sentido, consegue levar a multidão para as ruas”.
Além dos ataques a Lula e dos elogios a Bolsonaro, a ação também destacou uma série de ataques feitos ao TSE, reforçando o discurso de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. “O Tribunal Superior Eleitoral embargou a possibilidade de auditoria da eleição, essa eleição não é auditável”, declarou o comentarista Guilherme Fiuza ao microfone do Jovem Pan.
Diante das provas, o processo solicitou ao TSE que investigasse a campanha bolsonarista e a emissora por condutas que “afetam a legitimidade do processo eleitoral e violem princípios democráticos fundamentais”, solicitando igualdade de tratamento aos candidatos na campanha em curso.
O tema, porém, ficou “engavetado” até este momento, dois anos depois. Ao enterrar a ação, Raul Araújo afirmou que “as críticas e opiniões expressas pelos comentaristas da emissora estão protegidas pela liberdade de expressão, não havendo pedido explícito de voto, uso de palavras mágicas ou exposição desproporcional de candidatos”.
O então ministro do TSE, que votou contra a inelegibilidade de Bolsonaro no caso que constatou abuso de poder devido ao encontro do ex-capitão com embaixadores, destacou que “a alegação de tratamento privilegiado por parte do Jovem Pan não pode ser sustentada” e indicou “a falta de demonstração de que tais alegações tiveram um impacto significativo no equilíbrio do processo eleitoral”.
“Não foi comprovada a distribuição ilícita de fundos publicitários, citada como prova de abuso de poder económico, muito menos a existência de um esquema deliberado para influenciar as eleições; a tentativa de enquadrar tais manifestações no conceito de abuso de poder revela um entendimento equivocado”, explicou.
Araújo é ministro do Superior Tribunal de Justiça e chegou ao TSE em 2020. Em 2023, tornou-se inspetor-geral da Justiça Eleitoral. Ele será substituído na corregedoria por Isabel Gallotti.