ALAIN JOCARD
A modéstia é um traço de personalidade do turco Yusuf Dikeç, vice-campeão olímpico de tiro nos Jogos de Paris, que ganhou fama mundial ao viralizar nas redes sociais com imagens tiradas com uma mão no bolso, sem óculos de proteção e sem capacete.
“Ainda sou o mesmo. Um dia depois da nossa medalha de prata [no tiro de pistola de ar 10 metros por equipes mistas]todos me contaram quantas vezes minhas fotos foram compartilhadas nas redes sociais. Mas isso não importa para mim, continuo com a minha vida, como antes”, disse à AFP no campo de tiro onde treina em Ancara.
Sua postura descontraída, com aparente descuido, tornou-se símbolo de vitória e vários atletas dos Jogos Olímpicos o imitaram após conquistar uma medalha, com destaque para o sueco Armand Duplantis ao conquistar o ouro com novo recorde mundial no salto com vara.
Até o dono da rede social X, Elon Musk, compartilhou um vídeo do atirador, que foi visto 170 milhões de vezes. Uma infinidade de vídeos, memes e montagens com o turco proliferaram nas redes sociais.
– Sem equipamento de proteção –
Para Yusuf Dikeç, de 51 anos, o verdadeiro sucesso é a medalha de prata olímpica, a primeira da Turquia no tiro com pistola de ar 10m para equipes mistas, ao lado do companheiro Sevval Ilayda Tarhan.
“Alguns achavam que minha mão no bolso era um gesto de arrogância. Essas pessoas não sabem nada sobre mim nem sobre tiro esportivo”, diz rindo.
“Faço isso só para deixar meu corpo mais estável, para ficar equilibrado. Não tem mais nada além disso”, completa.
Policial aposentado há um ano, Yusuf Dikeç prefere atirar sem equipamento de proteção.
“Como tiro de olhos abertos, não me sinto confortável com óculos de proteção, capacetes ou qualquer outro acessório. Por isso não uso”, explica.
Uma preferência partilhada por Sevval Ilayda Tarhan, que também remata com a mão no bolso. No caso dela, com viseira como único acessório.
A jovem de 24 anos começou a praticar esportes aos 15 e sonhava um dia ser policial ou militar.
“Acabamos de provar ao mundo que é possível ter sucesso sem a necessidade de equipamentos de proteção”, orgulha-se o atirador.
Para Yusuf Dikeç, mais do que autoconfiança ou autossuficiência, sua postura no arremesso simboliza o espírito olímpico.
“O fair play, a rejeição ao doping e o desafio do talento e da anatomia humana em estado natural fazem parte do espírito olímpico. Há algo de lindo, de natural, nesse gesto. As pessoas gostaram e eu gosto”, afirma.
– Paixão –
Para ele, essa fama repentina vem depois de 24 anos no tiro esportivo, que começou a praticar dentro da polícia. Antes dos Jogos Olímpicos, conquistou vários campeonatos mundiais e europeus.
Para se preparar para os Jogos de Paris, Dikeç passou um ano treinando pelo menos quatro horas por dia, seis dias por semana.
O atirador lamenta ter perdido por pouco a medalha de ouro, mas espera conquistá-la em quatro anos, nos Jogos de Los Angeles 2028.
“Somos uma das melhores equipes do mundo. Posso até dizer que somos os melhores. Trabalhamos muito, tanto que quebramos um recorde olímpico. Só não tivemos sorte no dia da final” , avaliou.
Para ele, não basta trabalhar para vencer no esporte, é preciso também paixão.
“Até Elon Musk disse isso”, afirma Yusuf Dikeç em referência a uma conversa que teve com o milionário na rede social X.
“Perguntei-lhe se os robôs conseguem ganhar uma medalha de ouro com as mãos nos bolsos. Acho que não, porque há coisas que nem a tecnologia nem o dinheiro conseguem.