Eu poderia escrever sobre receitas de bolo, física quântica, mas além de não ter competência para os temas, meu coração não está lá. No dia 31 de julho de 2004, me despedi pela última vez do meu pai, há 20 anos. Um dia antes de ele ir para o hospital, o último banho… Ele foi, não voltou mais. A história do papai pode ter algumas variações, mas pode ser identificada por muitos de quem lê aqui. Em uma de suas frases de despedida, ele disse com raiva: “Estou cansado de lutar, lutar e lutar, queria ver chegar a parte de vencer, vencer e vencer, mas estou cansado”.
A referência era, claro, ao hino do Atlético, mas fazia parte da vida. Seu Roberto e Dona Luci precisavam alimentar e estudar duas crianças, superar acidentes de trânsito e continuar… Era uma história brasileira comum, sem nenhuma vitimização. Ele sempre dizia: triste história de superação no Brasil são 50 em cada rua. Vá à luta, só não deixe que o seu “bom” seja confundido com a sua “fera”.
…Papai uma vez levou um galo vivo para o Mineirão. Segundo ele disse, o sagrado passou de mão em mão, chegando em casa exausto. Seu Roberto se viu no Atlético, no time que lutou, mas foi tratado injustamente pelo sistema e que parecia que nunca levantaria o troféu que merecia. Mas a única coisa que eu não podia admitir era que aquele cara fosse derrotado. Com uma meta de 88 quadrados, fez “chover” projetos em uma prancheta de Arquimedes, com nanquim e estudou sua trupe.
Reza a história que o filho que aqui escreve um sentimento o teria feito cumprir sua missão: o Sr. Roberto deixou o primogênito na faculdade federal, que era a única possibilidade para o cenário, não era um luxo. Ele deixou uma raiz firme e isso foi o suficiente para iniciar este plano.
Então é! Na próxima terça-feira, mais um ciclo de vida se renova neste coração e o Atlético jogará para seguir na Libertadores contra o time do Papa. O presente desejado: a classificação, obviamente, esse é o desejo. Mas tudo acima diz sobre o Galo, acredite. Sobre tudo que ele inspira além de um gramado verde de 105 x 68.
Um dia depois de ele ser enterrado, comecei a faculdade de engenharia, ainda sem rumo, sem certezas, mas com a frase mais #ODA no peito: Vencer, vencer, vencer, esse é o nosso ideal.
Ele venceu. E ele me disse: eu sei que você gosta de matemática, sei que você também gosta de jornalismo, mas ouça seu pai: faça engenharia primeiro para alimentar sua família, o jornalismo vem depois e você será mais forte para a área. Podemos fazer e ser o que quisermos na vida, ninguém é só uma coisa
…eu obedeci.
Quando o Galo conquistou a Libertadores em 2013 e o BR em 2021, ou quando me casei ou meu filho nasceu, em todos os momentos a voz dele estava lá como a do Mufasa do Rei Leão. E Galo? O Galo esteve na nossa refeição, na nossa metáfora, na nossa oração, na nossa discussão, até nas nossas “perdas”.
Por isso, quando perguntam: o que é o Atlético para você? Fico admirado, porque o Galo é o tema do projeto escolar que posso escolher, é meu amigo, é minha canção de alegria, é meu pai, é meu melhor sentimento. O Galo é o nosso bom dia, a nossa família. Em suma, o Atlético é história, histamina e tormento. O Atlético não tem dono. Na verdade, o Atlético manda no nosso calendário, o Galo manda na gente.
De qualquer forma…
O Galo é assim, o canal de Deus em mim.
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