Daniel Duarte
O Uruguai aplaudiu nesta quarta-feira (4) o fato de a Argentina ter concordado em flexibilizar o Mercosul para que os países membros possam negociar acordos comerciais com novos mercados de forma independente, uma exigência antiga do Uruguai no bloco.
“Estamos dando passos para uma maior abertura”, comemorou o chanceler Omar Paganini em declarações à imprensa.
O chefe da diplomacia uruguaia destacou que sua contraparte argentina, Diana Mondino, registrou por escrito a mudança de postura de Buenos Aires em reunião realizada segunda-feira na capital uruguaia, da qual também participaram representantes dos demais países membros do Mercosul: Mauro Vieira, do Brasil; Rubén Ramírez, do Paraguai; e Celinda Sosa, da Bolívia.
“O Mercosul não conseguiu, nestes anos, tornar-se um instrumento de acesso a grandes mercados externos, além de uma Tarifa Externa Comum elevada para os padrões internacionais. A Argentina propõe, portanto, que os membros do bloco dispostos a abrir novos mercados sejam autorizados a iniciar negociações individual ou plurilateral”, disse Mondino, segundo comunicado do Itamaraty.
“Nosso objetivo é que, se durante um período de tempo [duas reuniões do Grupo Mercado Comum, instância executiva do Mercosul] Caso não se chegue a um entendimento para negociar em conjunto, poderão ser iniciadas negociações nesta terceira modalidade, e os acordos assinados estarão abertos à adesão dos demais Estados Partes”, acrescentou.
O Uruguai, que ocupa a presidência pro tempore do Mercosul até o final do ano, espera que a iniciativa – que contrasta com a postura histórica do Brasil – avance.
“Claro que também precisamos que outros parceiros sejam mais flexíveis. Mas, ao mesmo tempo, estamos todos mais de acordo do que antes em sermos mais activos no comércio internacional”, destacou Paganini.
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, insistiu que o Mercosul buscasse um acordo de livre comércio com a China e até iniciou conversações bilaterais com Pequim. Isto provocou tensões no bloco, que ainda não conseguiu concluir o acordo com a União Europeia (UE), que negocia desde 1999.
“Esperamos que agora haja sinal verde. A expectativa é moderada”, disse Paganini sobre a retomada das negociações com a UE esta semana em Brasília.
Paralisado desde 2019, o pacto UE-Mercosul prevê eliminar a maior parte das tarifas entre as duas regiões para criar uma área comercial de 700 milhões de consumidores. Contudo, há resistência de alguns países europeus, principalmente da França, cujo setor agrícola teme a concorrência sul-americana.