Jason Redmond
Funcionários da Boeing na região de Seattle, noroeste dos Estados Unidos, votaram em massa a favor de uma greve nesta sexta-feira (13) e rejeitaram o novo acordo da gigante da aviação, que se declarou “comprometida” com as negociações apesar da difícil situação financeira .
O acordo foi rejeitado com 94,6% dos votos e a greve aprovada com 96%, disse Jon Holden, presidente do sindicato da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais do Distrito 751.
“Os nossos membros falaram claramente esta noite”, disse o líder deste sindicato que representa mais de 30 mil trabalhadores do fabricante aeronáutico nesta região.
“Começaremos a greve à meia-noite”, disse ele.
– “Continuamos comprometidos” –
O protesto afetará duas grandes montadoras de Puget Sound e interromperá a produção dos aviões 737, 777 e 767, cujas entregas já estão atrasadas.
Isto representa um problema adicional para o fabricante, que recebe a maior parte do pagamento (cerca de 60%) no momento da entrega da aeronave.
Apesar da votação esmagadora a favor da greve, o grupo Boeing afirmou em comunicado que está “comprometido” com as negociações.
“Continuamos empenhados em restabelecer a nossa relação com os nossos colaboradores e com o sindicato e estamos prontos para regressar à mesa de negociações para chegar a um novo acordo”, afirmou a empresa.
Segundo analistas da TD Cowen, uma greve de 50 dias privaria a Boeing de entre 3 mil milhões e 3,5 mil milhões de dólares (16,9 a 19,79 mil milhões de reais) em liquidez e teria um impacto de 5,5 mil milhões de dólares. (31,10 bilhões de reais) em receita.
A proposta inicial previa aumento salarial de 25% em quatro anos e a promessa de investimentos nesta região.
Previa também a construção da próxima aeronave, anunciada para 2035, na região de Seattle, berço histórico da fabricante, o que deverá garantir empregos para as próximas décadas.
– Um aumento “ilusório” –
No entanto, os trabalhadores consideraram que o acordo não era tão generoso e apontaram, por exemplo, que o aumento de 25% era ilusório porque, ao mesmo tempo, cortava um prémio anual.
“Eles estão falando de um aumento de 25% e esse não é o caso”, disse Paul Janousek, eletricista da fábrica de Everett que votou pela greve.
Janousek, de 55 anos e há 13 na Boeing, estima que o aumento seria de 9% com a eliminação do bônus anual.
A greve surge num contexto delicado para a Boeing, cuja reputação foi manchada por vários incidentes de segurança na aviação.
A fabricante enfrenta uma situação econômica complicada após os acidentes de dois 737 MAX 8 em 2018 e 2019, que ceifaram a vida de 346 pessoas, além de diversos outros problemas.
“Não é segredo que o nosso negócio atravessa um momento difícil, em parte devido aos nossos próprios erros do passado. (…) Uma greve colocaria em risco a nossa recuperação”, alertou Kelly Ortberg, CEO da empresa desde agosto.