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Uma empresa química Unigel quer Petrobrás compensação por prejuízos em duas fábricas de fertilizantes arrendadas a uma estatal, mostrou carta vista pela Reuters, marcando mais um revés nas negociações que visam a renovação das ações.
As duas fábricas, que fazem parte da base do plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir a dependência do Brasil de fertilizantes estrangeiros, estão suspensas desde o segundo semestre do ano passado.
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Em dezembro, as duas empresas assinaram um “Contrato de Pedágio” no qual a Petrobras forneceria gás natural em troca de fertilizante, permitindo à Unigel retomar a produção sem se preocupar com o preço do gás. O negócio foi encerrado em junho, sem efeito, após o Tribunal de Contas da União (TCU) afirmar que resultaria em prejuízo de 487 milhões de dólares para a Petrobras.
Numa carta dos advogados da Unigel, datada de 20 de junho, a empresa química queixa-se de que o negócio tornou a situação financeira da empresa mais difícil.
“O atraso na entrada em vigor do Acordo Tributário causa enormes prejuízos” para a Unigel, disseram advogados à Petrobras uma semana antes de a estatal rescindir o acordo.
Os advogados acrescentaram que a Unigel deverá ser indenizada “integralmente” pela Petrobras pelos prejuízos ocorridos desde a assinatura do “Contrato de Ferramental”.
Em resposta a perguntas da Reuters, a Unigel disse que o prejuízo total foi de “centenas de milhões de reais”.
A Petrobras não respondeu aos questionamentos sobre o reembolso da Unigel. Ambas as empresas continuam a trabalhar numa solução para reiniciar a produção, disseram as duas empresas à Reuters em respostas separadas.
No entanto, a carta mostra que no mês passado as empresas – que atualmente estão em disputa – estavam longe de um acordo e as relações estavam tensas, e a Unigel classificou o comportamento da Petrobras como “abusivo”.
Aumentar a produção orgânica é prioridade do governo Lula. Desde que iniciou suas operações, em 2023, a Petrobras voltou à prática de não investir em fertilizantes, anunciando em junho passado que iniciará as operações em uma de suas fábricas.
Como potência agrícola, o Brasil é um dos maiores consumidores de fertilizantes do mundo, dos quais importa mais de 80%. Pelo plano anunciado em 2022, o Brasil planeja reduzir as importações de orgânicos para 45% até 2050.
No entanto, as duas fábricas em Sergipe e na Bahia que a Unigel alugou à Petrobras a partir de 2019 permaneceram ociosas este ano. Quando operacionais, as fábricas tornaram a Unigel a maior produtora de fertilizantes nitrogenados do Brasil.
A Unigel está gastando cerca de 13 milhões de reais por mês nas unidades, disseram os advogados, piorando a situação financeira da empresa, que está se recuperando agressivamente e tentando reestruturar sua dívida de R$ 4,1 bilhões com os detentores de títulos.
Até março, quando demitiu trabalhadores na fábrica, a Unigel gastava US$ 35 milhões por mês, disseram seus advogados, acrescentando que a empresa os manteve a pedido da Petrobras.
No entanto, a Unigel não quer desistir da propriedade, disse à Reuters por e-mail, pois pretende iniciar as operações quando for economicamente viável.
Sem o acordo, Petrobras e Unigel estão em processo secreto de protesto desde dezembro sobre aspectos do contrato de fornecimento de gás.
Os procedimentos de resolução geralmente levam dois anos para serem concluídos, mas alguns podem levar até cinco anos, disse Marcelo Godke, especialista em direito comercial do Godke Advogados.
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