Pablo PORCIÚNCULA
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, afirmou que há “vontade política” para avançar na preservação da Amazônia, pulmão do planeta e regulador crucial do clima, durante entrevista ao AFP no Rio de Janeiro.
“Sentimos que havia vontade política no meio ambiente para fazer (projetos) no lugar certo, na Amazônia, na hora certa. Acho que isso está acontecendo agora”, disse o brasileiro Goldfajn nesta quarta-feira (25), ao fazer um balanço o programa Amazônia Sempre, lançado pelo BID há um ano.
Para comemorar o progresso, Goldfajn viajará neste fim de semana para Belém, cidade que sediará a COP30 do clima em 2025.
Lá, ele participará no sábado, ao lado da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, de ministros dos oito países amazônicos e de líderes empresariais, de debates sobre desenvolvimento sustentável e financiamento climático.
A iniciativa Amazônia Sempre funciona como um “guarda-chuva” ou plataforma que reúne países da região e países doadores, bancos públicos e privados, governos, instituições de pesquisa, comunidades locais e setor privado, explicou Goldfajn.
A cooperação entre todos os atores envolvidos é fundamental “para que esse dinheiro realmente chegue onde terá efeito” e “evite chegar ao ponto sem retorno”, quando a floresta amazônica começará a emitir mais carbono do que absorve, agravando o aquecimento global.
Segundo o chefe do BID, essa vontade política começa a dar frutos: em um ano, os recursos para projetos na Amazônia quadruplicaram, passando de 1 bilhão (R$ 5,63 bilhões) para 4,2 bilhões de dólares (R$ 23,7 bilhões).
Países como Suécia, Itália e Espanha, entre outros, cooperaram.
Para ilustrar o bom momento a que se refere, Goldfajn mencionou um evento do BID em junho em Manaus que reuniu cerca de 900 empresários interessados em investir em projetos sustentáveis, algo inédito.
“É apenas um começo, mas um começo encorajador”, disse ele.
A Amazônia cobre quase 40% da América do Sul. No último século, perdeu cerca de 20% de sua superfície devido ao desmatamento, causado pelo avanço da agricultura e pecuária, da exploração madeireira e da mineração, e da expansão urbana.
– Erradicar a pobreza extrema –
O chefe do BID participou nesta quarta-feira do pré-lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, anunciada no Rio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma das prioridades da presidência brasileira do G20.
“Estamos comprometidos em ajudar os países da região a erradicar a pobreza extrema na América Latina até 2030. Esta não é uma expressão abstrata. Para conseguir isso, precisamos investir (dos países como um todo) 1,6% do PIB da região anualmente”, ele destacou.
Para atingir este objetivo, Goldfajn defendeu a criação de instrumentos financeiros inovadores em parceria com outras instituições financeiras, como o Fundo Monetário Internacional.
Além disso, anunciou que o BID garantirá que mais de 50% dos seus projetos beneficiem “diretamente” as pessoas de baixa renda, especialmente as mulheres, os afrodescendentes e os povos indígenas, os grupos mais afetados pela pobreza.
O Rio de Janeiro acolhe esta quinta e sexta-feira a reunião de ministros das Finanças do G20, última etapa das negociações antes da cimeira de chefes de Estado e de governo, em novembro.