Miguel MEDINA
Um ‘mestre’ que vem adiando a aposentadoria e um sucessor que não esconde a fome de glória: Rafael Nadal e Carlos Alcaraz formam uma dupla estelar em Paris, mas com poucos treinos conjuntos e dúvidas sobre o físico do maiorquino na preparação para o tênis olímpico que promete batalhas memoráveis.
Com 22 títulos de Grand Slam e na reta final da carreira, Nadal é o ‘professor’ que proporciona a sabedoria que os anos trazem.
Ao seu lado, Alcaraz tem um repertório de ténis digno do seu antecessor mas recarregado com a energia dos seus 21 anos, tendo alcançado 4 títulos de Grand Slam.
Todo um repertório que os classificaria como favoritos ao ouro no saibro em Roland Garros, ‘casa’ de Nadal – vencedor de 14 títulos – e que coroou Alcaraz pela primeira vez em junho. Porém, a falta de jogo conjunto e a fisicalidade de Nadal esfriaram a euforia dos torcedores.
“Entendo a curiosidade, a emoção de nos ver jogar juntos, não vamos pensar que isso se traduz em sucesso”, disse Nadal esta semana, em tom reflexivo. Alcaraz acenou com a cabeça ao veterano, mas sem apagar o sorriso.
– Dor no adutor –
A falta de treino é agravada pelo extremo cuidado que o físico de Nadal exige, já que ele não treinou nesta quinta-feira.
“Ele se sentiu desconfortável ontem [quarta-feira] pela manhã (…) e antes que piorasse foi decidido que ele parasse”, explicou o seu treinador Carlos Moyá em entrevista à Rádio Nacional espanhola.
“Não force por enquanto e dê tempo para ver se ele se recupera bem. Veremos em que condições ele estará amanhã e sábado”, acrescentou Moyá, que não soube confirmar “nem que não jogará”. nem que ele irá jogar” em Paris.
A dupla estreia nos Jogos Olímpicos contra os argentinos Máximo González e Andrés Molteni, sexto colocado na pré-classificação.
Antes de enfrentar os rivais, Nadal reconheceu que “a quadra ajuda um pouco” porque dá a opção de construir desde o fundo. Alcaraz começará sua jornada olímpica sozinho contra o libanês Hady Habib, enquanto Nadal enfrentará o húngaro Marton Fucsovics (83º). Mas com o bônus de um possível confronto no segundo turno contra um de seus arquirrivais, o sérvio Novak Djokovic.
– Tão parecidos, tão diferentes –
A força física e a ‘coragem’ sem fim, bem como a possibilidade de redefinir os movimentos técnicos do ténis sem perder a precisão, tudo isto coincide na dupla espanhola.
No entanto, Alcaraz está longe de ser uma cópia do seu antecessor.
“Fala-se muito que o jogo dele tem elementos do Roger, do Rafa e do meu. Concordo. Acho que ele tem o melhor dos três”, disse o próprio Djokovic após ser derrotado na final de Wimbledon no ano passado.
“Para ser sincero, nunca joguei contra um jogador como ele. Roger e Rafa obviamente têm seus pontos fortes e fracos. Carlos é um jogador muito completo e tem uma incrível capacidade de adaptação”, acrescentou a lenda sérvia.
Fora das quadras, a dupla espanhola já conquistou o título de atletas mais cobiçados pelos demais atletas da Vila Olímpica de Paris.
“Ser tão bons atletas como boas pessoas é algo que valorizo muito”, disse esta quarta-feira David Ferrer, um dos treinadores da seleção espanhola, lembrando os 45 minutos que o jantar da delegação foi adiado devido à atenção dos dois tenistas jogadores a pedidos de ‘selfies’ e fotos nos corredores da Vila Olímpica.
Nadal tem em sua galeria pessoal uma medalha de ouro em simples, em Pequim-2008, e outra de ouro em duplas, ao lado de Marc López na Rio-2016.
Alcaraz procura ganhar a ‘dobradinha’ em Paris… se o físico de Nadal o permitir.