Fabrice COFFRINI
Dezenas de países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) concluíram anos de negociações para chegar a um acordo “pioneiro” que visa impulsionar o comércio eletrônico, anunciou o Reino Unido nesta sexta-feira (26).
A proteção dos consumidores online, a digitalização dos procedimentos aduaneiros e o reconhecimento das assinaturas eletrónicas estão entre as medidas previstas no texto para incentivar e facilitar as transações digitais.
Uma vez em vigor, o acordo “tornará o comércio mais rápido, mais barato, mais justo e mais seguro”, afirmou o Reino Unido num comunicado. O comércio eletrônico está crescendo muito mais rápido do que o comércio tradicional.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que em 2020 as trocas eletrônicas já representavam um quarto do comércio global, com um valor de quase 5 bilhões de dólares (28 bilhões de reais).
Apesar da sua importância crescente, “não existe um conjunto de padrões globais comuns” para o setor, destacou o secretário do Comércio britânico, Jonathan Reynold, no comunicado.
Um acordo global seria “um grande passo em frente na correção desta situação”, disse ele.
As negociações começaram em 2019 e os países negociadores representam 90% dos membros da OMC, incluindo grandes potências como os Estados Unidos, a União Europeia e a China.
O texto final das negociações será apresentado esta sexta-feira numa reunião à porta fechada na sede da OMC, em Genebra, mas o processo para que o acordo seja assinado e entre em vigor poderá demorar vários anos.
“Do nosso ponto de vista, o texto ainda precisa de ser ajustado”, disse na quinta-feira a embaixadora dos EUA na OMC, Maria Pagan, apontando algumas questões pendentes, como exceções em questões de privacidade e segurança.
– Fim da burocracia aduaneira –
Austrália, Japão e Singapura, que lideraram as negociações, afirmaram que o objetivo é facilitar as transações eletrónicas, promover o comércio eletrónico e fomentar uma economia digital aberta e confiável.
Em Abril, o embaixador de Singapura na OMC, Hung Seng Tan, disse que este seria “o primeiro conjunto de normas básicas sobre comércio electrónico”.
“Contribuiria para o crescimento do comércio eletrónico ao proporcionar maior previsibilidade e segurança jurídica, num contexto de crescente fragmentação regulatória”, informou.
No comunicado desta sexta-feira, o secretário da Ciência do Reino Unido, Peter Kyle, afirmou que o acordo visa “ajudar as pessoas a usar a tecnologia com segurança e protegê-las contra fraudes, enquanto o crescimento económico é impulsionado através da digitalização dos negócios”.
O acordo também prevê disposições específicas para conceder tratamento preferencial aos países em desenvolvimento.
Também põe fim à burocracia aduaneira, uma das principais disposições do texto é a introdução de uma nova moratória sobre os direitos aduaneiros sobre as transacções electrónicas.
Existe uma moratória em vigor desde 1988, mas expirará em 2026, a menos que os países decidam de outra forma na próxima conferência ministerial da OMC, realizada nos Camarões, dentro de dois anos.
Uma vez em vigor, o acordo “proibirá permanentemente os direitos aduaneiros sobre conteúdos digitais”, revelaram as autoridades britânicas no seu comunicado.
O objectivo é incorporar o acordo no quadro jurídico da OMC, mas isso exigiria o apoio de todos os membros da organização, incluindo aqueles que não assinaram o pacto.
Isto deve ser difícil, pois alguns países como a Índia e a África do Sul desaprovam o que consideram ser uma proliferação de acordos plurilaterais no âmbito da OMC, em detrimento de acordos multilaterais aprovados por todos os membros, o que é quase impossível de alcançar.
Uma solução, segundo os observadores, seria os signatários transferirem o acordo para outro organismo internacional. Contudo, se o fizerem, não poderão beneficiar do mecanismo da OMC para a resolução de litígios comerciais.