MOHD RASFAN
O dia olímpico desta quinta-feira (1º) começou com fortes emoções, com a brasileira Cairo Bonfim conquistando a medalha de prata na marcha atlética, antes da seleção brasileira de ginástica feminina disputar a final individual geral, prova em que a estrela americana Simone Biles tentará retornar ao trono do esporte, perdido há três anos em Tóquio.
Com meia hora de atraso devido ao risco de tempestades, a marcha abriu a competição de atletismo Paris-24, principal disciplina dos Jogos, ao lado da natação e da ginástica.
– Caio Bonfim e a superação dos “preconceitos” –
Numa modalidade (20 km) em que os atletas ibero-americanos sempre brilharam, Paris não foi exceção: o equatoriano Daniel Pintado ficou com o ouro, o brasileiro Caio Bonfim ficou com a prata e o espanhol Álvaro Martín com o bronze.
A prata olímpica foi o maior sucesso do Bonfim em sua carreira, conquista que ele disse ter alcançado ao “superar os preconceitos” que, segundo ele, persistem contra seu esporte.
“Quando comecei era muito difícil ser manifestante no meu país. No dia em que cheguei a casa e disse que queria ser manifestante estava na verdade a dizer que tinha decidido ser criticado”, explicou aos jornalistas durante a sua visita a a zona mista após sua prata olímpica.
“Alguém me perguntou hoje se a corrida foi difícil para mim. Não, foi difícil no dia em que comecei a marchar, até chegar aqui. Superei o preconceito, o Brasil não tem marchadores (…) comparado ao que acontece em outros países. países”, destacou.
Bonfim, de 33 anos, já havia conquistado o bronze nos Campeonatos Mundiais de Londres em 2017 e de Budapeste em 2023.
– Biles sobre Rebeca: “ela é quem mais me assusta” –
A principal luta do dia é a final da ginástica geral, com a seleção brasileira comandada por Rebeca Andrade e Flávia Saraiva enfrentando o favoritismo das americanas, comandadas por Simone Biles. Depois de deixar as Olimpíadas de Tóquio para cuidar da saúde mental, a estrela Biles já conquistou uma conquista importante: recuperar o sorriso.
Na capital japonesa, ela sofreu um bloqueio mental que praticamente a impediu de competir. Três anos depois e após muito trabalho psicológico, a ginasta mais premiada da história, hoje com 27 anos, levou seu país à conquista do ouro por equipe.
Agora, no individual geral, o objetivo é simplesmente voltar a ser a melhor e a única adversária aparentemente capaz de desafiá-la é Rebeca Andrade, a maior representante da emergente ginástica brasileira, que conquistou o bronze por equipes.
“Ela é quem mais me assusta”, admitiu a própria Biles em documentário sobre seu retorno às competições, lançado recentemente na Netflix.
– Surpresas no tênis –
É nas quadras de Roland Garros que as surpresas desta quinta se acumulam. Poucas horas depois da despedida de Rafael Nadal, após perder nas duplas com Carlos Alcaraz, foram eliminados o número 1 Iga Swiatek e o atual campeão olímpico, o alemão Alexander Zverev.
A polonesa tem pelo menos o consolo de poder disputar o bronze, já que sua partida foi nas semifinais, rodada para a qual o Alcaraz conseguiu avançar no torneio masculino, após vencer o americano Tommy Paul por 6-3, 7-6 (9/7).
Não foi o saibro, mas o tatame que rendeu as primeiras medalhas à delegação israelense, com prata para Inbar Lanir na categoria até 78 kg (feminino) e bronze para Peter Paltchik (até 100 kg masculino).
– O retorno do tema do hiperandrogenismo –
A questão das atletas hiperandroginas (mulheres com excesso natural de hormônios masculinos), que muitas federações impedem de competir caso não tomem medicamentos, estava latente e bastava que uma delas competisse para voltar à frente .
Foi o caso da boxeadora Imane Khelif, que viu sua rival italiana, Angela Carini, abandonar a luta aos 46 segundos após sofrer os primeiros golpes.
“Sempre lutei contra homens, treino com meu irmão, mas hoje senti muitas dores”, disse o italiano após a luta.
“Não sou ninguém para julgar ou tomar decisões. Se esta mulher estiver aqui, será por alguma coisa”, afirmou Carini num outro comunicado à agência Ansa.
Khelif e outro boxeador, o taiwanês Yu Ting Lin, foram os casos mais notáveis de atletas hiperandroginosos nos Jogos.
Nenhum deles conseguiu disputar a Copa do Mundo do ano passado, após não passar nos testes de elegibilidade de gênero, mas passou em Paris, por se tratar de uma competição organizada diretamente pelo COI, que tirou o poder da federação internacional devido a vários escândalos envolvendo seus diretores.
– Meloni, Milei e Musk contra o COI –
“O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, sem deixarem de ser mulheres”, reiterou, esta quinta-feira, o porta-voz do COI, Mark Adam.
Mas este caso provocou até reações de diversas personalidades. Presente em Paris, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, saiu em defesa da compatriota, afirmando que a luta “não foi em igualdade de condições”.
O presidente argentino, Javier Milei, disse: “se ela continuasse, eu a mataria”, disse ele na rede X.
E o dono desta rede social, Elon Musk, associou-a às eleições norte-americanas de novembro. Apoiador de Donald Trump, ele respondeu a um usuário que compartilhou imagens da luta, afirmando: “Kamala Harris o apoia”.
“Certo. Ou que ela negue”, disse o bilionário sobre Kamala Harris, vice-presidente e possível candidata democrata para enfrentar o republicano Trump.