Em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA) nesta quarta-feira (4), a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), Marina Silva, afirmou que as mudanças climáticas, associadas ao fenômeno de baixa precipitação, altas temperaturas e alto processo de evapotranspiração , amplamente corroborado pelo aquecimento global, pelas queimadas e pelo desmatamento que ocorrem no país e no mundo, poderá gerar prejuízos como o desaparecimento do bioma Pantanal. O gestor também defendeu que o Congresso crie um marco regulatório para a emergência climática.
Marina Silva foi convidada a prestar esclarecimentos sobre a atuação do governo federal, diante da escalada de queimadas e incêndios florestais nos biomas, principalmente em regiões da Amazônia, Cerrado e Pantanal. O menor de todos os biomas brasileiros, que é um santuário de biodiversidade, corre o risco de desaparecer, segundo o ministro, se as tendências atuais forem mantidas.
“Segundo os pesquisadores, se o mesmo fenômeno continuar em relação ao Pantanal, o diagnóstico é que poderemos perder o Pantanal até o final deste século. Isso tem nome: baixa precipitação, alto processo de evapotranspiração, não podendo atingir o nível de inundação, nem dos rios nem da planície inundada. E, portanto, a cada ano, a cobertura vegetal se perde. Seja por desmatamento ou queimadas. Você prejudica toda a bacia e assim, segundo eles, até o final do século poderemos perder a maior planície aluvial do planeta”, afirmou o ministro.
Presidente da CMA, senadora Leila Barros (PDT-DF) afirmou que “as queimadas que assolam nosso território são reflexo direto do cenário de emergência climática que enfrentamos”. O parlamentar prestou homenagem ao brigadeiro Wellington dos Santos, que perdeu a vida no Parque Indígena do Xingu (MT), enquanto combatia o incêndio.
“Já existe um novo normal diante de nós e temos cada dia menos tempo para nos adaptarmos a esta nova situação. (…) Somam-se a esta realidade de emergência climática outros desafios que enfrentamos internamente”, afirmou o presidente do colegiado.
Leila citou a ação de redes criminosas organizadas que têm avançado na apreensão de terras e lembrou que o Parlamento deu um importante contributo ao aprovar a Política Nacional de Gestão Integrada do Fogo, ( Lei 14.944, de 2024 ), num “exemplo claro de colaboração entre entes federados”.
Fatores risco para o Pantanal
O ministro afirmou ainda que os processos de seca estão a tornar-se cada vez mais intensos, mais severos e frequentes. Ela destacou que apenas dois estados da federação não foram afetados pela grave escassez de água, sendo que nove deles estão em situação crítica.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontaram 68,3 mil incêndios em agosto deste ano, um aumento de 144% em relação ao mesmo período de 2023. Marina Silva disse que o governo está trabalhando para, pelo menos, “empatar o jogo”. ”Diante de condições desfavoráveis. As mudanças climáticas, associadas à grande escassez hídrica, à pior seca dos últimos 40 anos na Amazônia e dos últimos 74 anos no Pantanal, em combinação com fenômenos como El Niño e La Niña, o desmatamento e as queimadas criminosas formam “uma química altamente prejudicial”, segundo o gestor.
“As mudanças climáticas são um agravante das queimadas e dos incêndios florestais, mas sobretudo há uma visão inadequada de como utilizar o fogo, segundo a ministra Marina. Ela citou o caso de Corumbá (MS), município que abrange grande parte do Pantanal mato-grossense, onde o grande número de áreas desmatadas responde por cerca de 50% das queimadas no estado, segundo a gestora. ”
O ministro negou que o departamento sofra cortes governamentais para ações como o combate aos incêndios que assolam o Brasil e afirmou que são necessárias políticas públicas baseadas em evidências e ações conjuntas com o setor privado. Marina afirmou ainda que se o atual governo não tivesse reduzido o desmatamento no ano passado e em 2024, a situação seria “incomparavelmente pior”. Ela destacou resultados do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e no Cerrado (PPCerrado), com aumento na contratação de brigadistas em ação (previsto que chegue a 3 mil), e a lançou recentemente o Plano de Transformação Ecológica.
“Estamos vivendo uma nova normalidade que exigirá que as autoridades públicas sejam capazes de responder a questões que nem sabemos como irão se desenrolar daqui para frente. (…) Somos obrigados a fazer investimentos que alimentem o fogo”, afirmou.
Dos 10 milhões de hectares deficitários em áreas de preservação permanente, 700 mil estão no Rio Grande do Sul, explicou Marina:
“Às vezes pensamos que ter uma área de preservação permanente [APP] É um obstáculo ao desenvolvimento. Muito pelo contrário, não tê-los pode ser um entrave às atividades econômicas, à vida das pessoas, como aconteceu no Rio Grande do Sul e espero que isso possa ser revisto. Quanto mais avança na APP, mais os rios e lagos ficam assoreados e o processo de evapotranspiração é severo e agrava o problema.”
O gestor defendeu que o Congresso crie um marco regulatório de emergência climática, diante de 1.942 municípios em extremo risco climático.
Amazônia
Segundo Marina, há uma mudança no perfil das queimadas na Floresta Amazônica, que vem perdendo umidade e, com isso, pode ficar vulnerável a incêndios naturais. Hoje, 27% das áreas queimadas na Amazônia estão em áreas com atividade agrícola e 41% em áreas com vegetação não florestal. Além disso, 32% dos incêndios ocorrem em áreas de vegetação florestal, onde a percentagem, até recentemente, não passava de 18%. Cerca de 85% dos incêndios ocorrem em propriedades privadas e 15% em terras indígenas ou unidades de conservação estaduais e federais.
“Isso significa que estamos em um processo severo de mudanças climáticas e a floresta [está] sendo queimados, seja por ação humana ou por eventos naturais”, disse o ministro. Ela reforçou que os meteorologistas apontam que atualmente a maioria dos incêndios não são causados por ignições provocadas por raios ou raios.
Questões
A senadora Rosana Martinelli (PL-MT) manifestou preocupação com a manutenção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) diante das questões ambientais. “Sabemos que o meio ambiente é extremamente importante, mas não podemos parar as obras estruturais que o próprio governo colocou no PAC”, explicou Rosana.
Sobre isso, o ministro respondeu que é preciso encontrar formas de evitar os efeitos indesejáveis das mudanças que precisam ser feitas.
O senador Flávio Azevedo (PL-RN) questionou os cortes orçamentários do atual governo para o Ministério do Meio Ambiente. “A diferença é tão grande, para um assunto tão importante, que me assusta”, disse o senador.
Marina destacou que são feitos cortes em todos os ministérios para cumprir o teto de gastos, mas que o MMA foi o único que não sofreu redução recentemente. O ministro explicou que, para combater o incêndio, foram utilizados R$ 60 milhões em 2022, no governo anterior. O valor subiu para R$ 89,3 milhões em 2023 e R$ 111,3 milhões em 2024, mas com corte de R$ 18 milhões pelo Congresso para que fosse destinado ao Ibama e ao ICMBio.
Segundo a senadora Teresa Leitão (PT-PE), é evidente a transcendentalidade entre os ministérios na preocupação com o meio ambiente. “Por mais legislação e rigor na legislação que aprovamos, é difícil lidar com a ação penal. Os mecanismos de fiscalização ainda estão incompletos. (…) No caso de incêndios, temos que investigar. Isso mata e coloca em risco a vida humana, animal e vegetal”, afirmou o senador.
O senador Jaime Bagattoli (PL-RO) negou que produtores rurais tenham interesse em atear fogo em suas terras. Para o parlamentar, 30% a 40% dos incêndios começam nas beiras das rodovias, por isso é preciso atuar nessas áreas, fazendo aceiros (desbaste de terreno) três a quatro metros para dentro no mês de maio, para evitar incêndios.
Bene Camacho (PSD-MA) defendeu o diálogo com as classes produtivas, “não construindo muros, mas construindo pontes”.
Fabiano Contarato (PT-ES) disse que o governo anterior “queria acabar com o meio ambiente” e que as ações tomadas prejudicaram o relacionamento do Brasil com outros países, incluindo a interrupção de doações feitas por algumas nações à área ambiental.
“Tivemos um difamação da legislação ambiental no Brasil, tivemos um desmonte do Ministério do Meio Ambiente, o que impactou a relação do Brasil com o mundo. (…) Defender o direito ao meio ambiente significa defender toda e qualquer forma de vida.”
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