Jerônimo BROUILLET
Gabriel Medina começou sua carreira no surf aos oito anos e, desde então, não fez nada além de “domar” ondas, conquistar títulos e ganhar popularidade dentro e fora do Brasil.
Tricampeão da World Surf League (WSL), o brasileiro de 30 anos conquistou nas ondas cristalinas e perigosas de Teahupo’o, no Taiti, uma das poucas conquistas que faltam em seu currículo: uma medalha olímpica.
Medina, considerado um dos melhores surfistas da história e favorito na competição olímpica da Polinésia Francesa, teve de se contentar com o bronze, depois de uma semifinal em que praticamente não conseguiu surfar.
Mesmo assim, deixou sua marca na disputa nas águas de Teahupo’o: a maior nota para uma onda em uma prova olímpica, 9,9, e uma imagem na história do Paris-2024.
Para comemorar o barril que rendeu a nota histórica, que o ajudou a avançar às quartas de final, Medina pulou na onda com o dedo apontado para o céu. Ao lado dele, numa imagem quase bíblica, sua prancha o acompanhava apontando para cima.
Captada pelo fotógrafo da AFP Jerome Brouillet, a imagem percorreu o mundo e se tornou um dos símbolos dos Jogos de Paris 2024.
“Nunca imaginei que pudesse mostrar ao mundo este tipo de surf, porque nem sempre temos este tipo de condições”, declarou após protagonizar a emblemática fotografia.
Medina venceu o ISA World Surfing Games-2024 e sempre esteve no pódio em Teahupo’o desde que se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial, em 2014.
Em sua “onda favorita” do circuito mundial, Medina soma duas vitórias (2014 e 2018), incluindo uma contra o lendário Kelly Slater, quatro vice-campeonatos (2015, 2017, 2019 e 2023) e dois terceiros lugares (2016 e 2024). ).
A medalha de Medina e a prata de Tatiana Weston-Webb na competição feminina confirmam a força do surf brasileiro. Na estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos, em Tóquio 2020 (realizada em 2021 devido à pandemia de Covid-19), o ouro foi conquistado por outro brasileiro, Ítalo Ferreira.
– “Faça o que ninguém faz” –
A história de Medina com o surf começou cedo em sua cidade natal, Maresias, litoral do estado de São Paulo.
De origem humilde, começou a praticar o esporte aos oito anos, após a separação dos pais. Sua mãe, Simone, casou-se posteriormente com Charles Rodrigues, dono de uma loja de surf, conhecida como Charlão.
O padrasto viu um dom no menino e então começou a treiná-lo, relacionamento que durou até 2020, quando a família se desentendeu após seu casamento com a modelo Yasmin Brunet.
Juntos, Charlão e Medina conquistaram diversos títulos juvenis locais e internacionais, além dos campeonatos WSL em 2014 e 2018 e da Tríplice Coroa do Surf em 2015, a primeira de um brasileiro.
Charlão acompanhou o enteado até sua estreia no circuito, na praia australiana de Bells Beach, em 2010, quando tinha apenas 16 anos. E também até a primeira vitória, um ano depois, na França.
Medina se tornou o rosto da chamada “Tempestade Brasileira”, grupo de surfistas do país que abalou a elite do esporte em meados da década passada.
Seu estilo é baseado no domínio das antenas. Essa habilidade foi patenteada quando ele completou o primeiro ‘backflip’ de uma competição, no Rio de Janeiro, em 2016.
Ele surpreende “com sua qualidade técnica, com manobras incríveis, com tubos inacreditáveis, com ondas impossíveis de completar, e ele completa. Acho que ele tem esse lugar de gênio, de quem faz o que ninguém faz”, diz Túlio Brandão, autor do livro “Gabriel Medina: a trajetória do primeiro campeão mundial de surf do Brasil”.
– Fama e depressão –
Sua ascensão no mundo esportivo rapidamente o transformou em ídolo nacional numa época em que o Brasil estava órfão de referências.
Medina tem mais de 15 milhões de seguidores em suas redes sociais e seu relacionamento com Yasmin Brunet, de quem se separou em 2022, foi um grande negócio para os portais de fofoca.
“Medina ajudou a pavimentar esse caminho para o esporte no país e na América Latina, chamando a atenção para o surf e para si mesmo. Desde então, o apoio e a presença de brasileiros em busca de algum contato com o esporte só aumentaram”, explica à AFP Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina.
Sua atitude calma e descontraída, porém, foi ofuscada por comportamentos que alguns consideraram “jogo sujo”, como impedir que seus oponentes pegassem uma onda potencialmente favorável.
Durante o primeiro semestre de 2022, Medina fez uma pausa na carreira para lidar com a depressão após o fim do casamento e a derrota em Tóquio, onde ficou de fora do pódio no mesmo ano do terceiro título da WSL.
“Ele era uma máquina vencedora, sabe, tinha uma cultura competitiva muito acirrada (…) O que acontece é que ele não está mais tão preocupado com aquela missão de vencer a qualquer custo”, diz Brandão à AFP. “Hoje ele vai se divertir e surfar.”