Daniel Duarte
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, disse nesta segunda-feira(8) que o Mercosul está “cansado da integração” ao abrir uma cúpula de presidentes à qual o bloco chega com um acordo estagnado com a União Europeia, uma negociação difícil com a China e a ausência do presidente argentino Javier Milei.
“Estamos um pouco cansados da integração e temos que renovar a cultura da integração; esses espaços são importantes”, disse Peña à imprensa no porto de Assunção, onde recebe alguns de seus colegas do bloco sul-americano: Luiz Inácio Lula Da Silva, Luis Lacalle Pou, do Uruguai, e Luis Arce, da Bolívia.
A Argentina, segunda maior economia do bloco, será representada pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Diana Mondino, depois de o seu presidente ter decidido não participar na cimeira e ter participado no domingo num fórum conservador em Santa Catarina, onde se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro. .
A chanceler argentina disse em reunião ministerial no sábado que o bloco regional “precisa de uma descarga de adrenalina” e pediu “novas modalidades de negociação mais flexíveis”.
“O Mercosul avançou muito na década de 1990, mas na década de 2000, quando se acreditava que haveria uma integração mais profunda (…), houve uma mudança de tendência com um viés ideológico que dispersou o bloco”, lamentou Peña.
A flexibilidade – que permite aos membros do bloco negociar acordos com terceiros sem o consentimento dos seus parceiros – é uma exigência de longa data do Uruguai, que promoverá um acordo com a China quando assumir a presidência semestral do grupo, no final deste ano.
A missão é difícil porque o Paraguai não tem relações com o país asiático porque reconhece Taiwan como a República da China, algo que Pequim não aceita.
“Não estamos fechados às negociações como bloco, mas não estamos dispostos a desistir de negociações que duram mais de 66 anos com a República da China”, explicou Peña, quando questionado se aprovaria um ALC com Pequim.
O encontro acontece em meio à estagnação das negociações para um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE), negociado há mais de 20 anos e que prevê a eliminação da maior parte dos impostos entre as duas zonas, o que criaria um espaço comercial para mais de 700 milhões de consumidores.
O acordo enfrenta resistência de alguns países europeus, principalmente da França, cujo setor agrícola teme a concorrência dos produtos agrícolas sul-americanos.
“Devíamos ter concluído esta negociação no ano passado”, quando “as condições foram estabelecidas depois de tantos anos”, lamentou no sábado o chanceler uruguaio, Omar Paganini.
Pelo contrário, agora “as perspectivas para o resto do ano estão longe de ser as melhores e isso era previsível”, afirmou.
O boliviano Luis Arce deverá formalizar a entrada de seu país no bloco depois de promulgar a lei de adesão na sexta-feira, dias depois de ter frustrado o que descreveu como uma tentativa de golpe de Estado em La Paz.