FRANCK FIFE
A França tem um recorde impressionante em grandes torneios na última década sob o comando do técnico Didier Deschamps, mas seu desempenho na Euro 2024, apesar de ter chegado às semifinais, sugere o fim de uma era para os Les Bleus.
A derrota de terça-feira por 2 a 1 para a Espanha, em Munique, acabou com o sonho francês de chegar à quarta final nos últimos cinco grandes torneios disputados (Copa do Mundo e Euro).
Foi um final decepcionante para uma seleção que, apesar de chegar à Alemanha como favorita ao título, teve um torneio sem brilho.
Em seis jogos disputados, apenas um gol foi marcado em uma jogada bem trabalhada, justamente a de Randal Kolo Muani contra a Espanha. Dos outros três, um foi pênalti e dois foram contra.
“Apesar de chegar às semifinais, a França sai do Europeu com um gosto amargo”, resumiu o jornal L’Équipe em sua edição desta quarta-feira (10).
– Futebol monótono –
Poucas equipas no Euro tinham à sua disposição um plantel tão completo, mas embora os ‘Bleus’ demonstrassem grande solidez defensiva (apenas um golo sofrido antes de defrontar a Espanha), os seus atacantes ficaram muito abaixo do nível esperado.
A estrela e capitão da equipe, Kylian Mbappé, debilitado por problemas físicos e pela fratura no nariz que sofreu na estreia contra a Áustria, era uma sombra de si mesmo. Antoine Griezmann, outra referência do time, esteve longe do desempenho que apresentou na Copa do Mundo de 2022 e até perdeu a vaga de titular.
“Tinha a ambição de ser campeão e de brilhar no Europeu, mas também não consegui”, admitiu Mbappé após a derrota para a Espanha. O atacante se despede da competição com apenas um gol marcado, contra a Polônia, de pênalti.
Na última década, a França habituou-se a vencer sob o comando de Deschamps, um treinador que dá prioridade aos resultados em detrimento do estilo de jogo.
“Se ficares aborrecido, podes ver outra coisa. Não te obrigamos a ver”, respondeu o treinador na conferência de imprensa antes da meia-final a um jornalista sueco que sugeriu que o futebol da selecção francesa era monótono.
Esta reputação de “defensor dos resultados” sempre assombrou Deschamps, mas as críticas nem sempre foram justas… até este ano.
– Deschamps até 2026? –
Deschamps, que capitaneou os ‘bleus’ na conquista do Mundial de 1998 e do Europeu de 2000, assumiu o comando da França como seleccionador em 2012 e começou o seu percurso de forma discreta, chegando aos quartos-de-final do Mundial de 2014, o seu primeiro grande torneio.
Desde então, chegar à fase final tornou-se rotina: primeiro no Euro 2016, apesar da dor de perder para Portugal no prolongamento, e dois anos depois o grande título: o bicampeonato mundial da seleção francesa, na Rússia.
Mesmo com a eliminação precoce nas oitavas de final da Euro 2021, após surpreendente derrota para a Suíça nos pênaltis, os ‘bleus’ venceram a Liga das Nações da UEFA e voltaram à final da Copa do Mundo, que terminou com a Argentina conquistando o título também. nas penalidades.
Foi depois do torneio do Catar que Deschamps renovou contrato até a Copa do Mundo de 2026, mas depois do fiasco na Euro e das críticas, será que o técnico sobreviverá na função por mais dois anos?
“Didier continuará a sua missão”, declarou o presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF), Philippe Diallo, numa entrevista ao L’Équipe pouco antes de regressar a França após a eliminação no Euro.
– Parceiro de ataque de Mbappé –
“Não vejo razão para questionar o seu contrato. Os seus resultados anteriores apoiam e os objectivos foram alcançados”, explicou Diallo.
Caso Deschamps siga até 2026, o que fica claro é que o treinador terá que reconstruir o time, principalmente o setor ofensivo.
Não há dúvida de que tudo continuará a girar em torno de Mbappé, que será apresentado como novo jogador do Real Madrid na próxima terça-feira no Santiago Bernabéu, mas os Bleus precisam de alguém que faça companhia ao seu capitão.
Olivier Giroud, maior artilheiro da história da seleção francesa, disputou seu último grande torneio na Alemanha; Griezmann chegará à Copa do Mundo de 2026 aos 35 anos, embora tenha reiterado o desejo de permanecer na seleção; Marcus Thuram e Kolo Muani ainda não mostraram qualidade suficiente para serem titulares; Ousmane Dembélé é tão decisivo quanto irregular…
Novos talentos como Bradley Barcola, 21, poderão ganhar espaço, desde que Deschamps aposte nos jovens.