A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 10, o texto-base do principal projeto que regulamenta a reforma tributária. Os deputados analisaram o texto aprovado e promulgado pelo Congresso em 2023 para revisar regras e diretrizes dos novos tributos.
No total, foram 336 votos a favor e 142 contra.
Ainda há discussões sobre os chamados “destaques”: pontos de maior atenção. O principal é taxar ou não a carne bovina e o frango. Descubra detalhes da indecisão abaixo.
O texto agora será votado no Senado e depois seguirá para aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —período durante o qual poderá sofrer alterações.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e principal garantidor do texto, acredita que todo o processo poderá ser concluído até o final do ano.
O que muda na reforma tributária?
A principal mudança na reforma tributária é a forma como os impostos são recolhidos. Os cinco impostos federais que temos hoje serão combinados em dois:
CBS: Contribuição sobre Bens e Serviços – combinará PIS, Cofins e IPI. Ele responderá à federação.
IBS: Imposto sobre Mercadorias e Serviços – combinará ICMS e ISS. Responderá a estados e municípios.
Agora, a reforma deve detalhar regras sobre como os valores serão cobrados e utilizados.
O período de transição é relativamente longo – e as mudanças só deverão entrar 100% em vigor em 2033.
Grande parte da questão é entender o que será isento de impostos. À medida que alguns produtos ganham isenção (como alimentos e medicamentos comuns), outros vêem a alíquota geral aumentar, e alguns ganham impostos extras (aqueles que são prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente).
Para já, a projeção do Ministério das Finanças é de 26,5%, mas isso só se confirmará ao longo dos anos.
Versão mais recente – o que muda no texto da reforma tributária?
A Câmara se reuniu nesta quarta-feira, 10, para discutir atualizações e mudanças desde a semana passada.
A carne bovina permanece isenta de impostos. O presidente Lula (PT) pediu para ser incluído na lista de cestas básicas totalmente isentas, mas o pedido não foi atendido.
Armas e munições não foram incluídas na lista do “imposto sobre o pecado” – Imposto Seletivo oficial. Essa lista é para produtos prejudiciais ao meio ambiente e à saúde e que deveriam receber imposto extra.
Os medicamentos tiveram redução de impostos.
O processo integrado de reembolso de impostos para famílias de baixa renda também mudou.
A carne ficará mais barata com a reforma tributária?
De acordo com o último texto, não exatamente. A carne, até o momento, não consta na lista de isentos de impostos da reforma tributária.
Esse foi o maior ponto de debate entre os deputados. Embora Lula defenda a isenção de impostos de carne bovina e de frango, isso poderia gerar um aumento de 0,53% na alíquota geral do imposto (aplicada a todos os produtos não isentos).
Isso também não significa que será mais caro. A carne receberá imposto da cesta básica – inferior à alíquota geral.
O que é o imposto da cesta básica?
Existem dois tipos de impostos sobre os alimentos da cesta básica.
A primeira é a isenção: produtos mais básicos e mais comuns na alimentação das pessoas de baixa renda não precisarão pagar impostos.
O segundo funciona como desconto – alimentos e produtos desta lista terão alíquota 40% mais barata. A carne se enquadra nesta categoria, por enquanto.
Hoje a carne é isenta de tributos federais, mas paga tributos municipais e estaduais.
Cesta básica
A cesta básica passa a ser nacional. Os alimentos – isentos ou com tarifa menor – serão padronizados.
Alimentos que não pagarão impostos:
- Arroz
- Leite fluido pasteurizado ou industrializado, na forma de leite ultrapasteurizado, em pó, integral, semidesnatado ou desnatado; e fórmulas infantis definidas em disposição legal específica
- Manteiga
- Margarina
- Feijões
- Raízes e tubérculos
- Cocos
- Café
- Óleo de soja
- Farinha de mandioca
- Farinha, grumos e sêmolas de milho e grãos de milho triturados ou em flocos
- Farinha de trigo
- Açúcar
- Massa
- Pão normal (contendo apenas farinha de cereais, fermento, água e sal)
- Ovos
- Legumes, exceto cogumelos e trufas
- Frutas frescas ou refrigeradas e frutas congeladas sem adição de açúcar
- Produtos que pagarão taxa geral de 40%:
- Carnes de bovino, suíno, cordeiro, caprino e aves e produtos de origem animal (exceto foie gras) e miudezas comestíveis de ovinos e caprinos
- Peixe e carne de peixe (exceto salmonídeos, atum; bacalhau, arinca, escamudo e ovas e outros subprodutos)
- Crustáceos (exceto lagostas e lagostins)
- Leite fermentado, bebidas e compostos lácteos;
- Queijos como mussarela, minas, prato, queijo coalho, ricota, requeijão, queijo provolone, queijo parmesão, queijo fresco não maturado e queijo preto;
- mel natural
- Mate
- Farinhas, grumos e sêmolas, de cereais; grãos de cereais triturados ou em flocos
- Tapioca e seus substitutos
- Massa
- sal de cozinha iodado
- Sucos naturais de frutas ou vegetais sem adição de açúcar ou outros adoçantes e sem conservantes
- Polpa de fruta sem adição de açúcar ou outros adoçantes e sem conservantes
O projeto prevê que as duas listas poderão ser revisadas a cada cinco anos pelo governo federal.
População de baixa renda recebe cashback
A ideia da reforma tributária inclui o cashback – devolução de dinheiro – para grupos populacionais de baixa renda. A pessoa paga o imposto na compra e recebe de volta depois.
Serão elegíveis pessoas com renda per capita de meio salário mínimo e cadastradas no CadÚnico (atual instituição responsável pelos pagamentos sociais).
Com o novo texto, o cashback da CBS (energia elétrica, água, esgoto, gás natural) passa a ser de 100%. Nos demais casos, o CBS é de 20%.
No IBS, o retorno monetário será sempre de 20% dos impostos.
Ainda não está definido qual será a maior parte do retorno. A conta de água e energia constará nas próprias faturas.
O que é um imposto sobre o pecado ou imposto seletivo?
O Imposto Seletivo é popularmente conhecido como imposto sobre o pecado. Não existia antes. São produtos prejudiciais ao meio ambiente ou à saúde.
A taxa de imposto sobre estes produtos será mais elevada, cerca de 26% (aumento de 0,5%).
A ideia é que os produtos fiquem mais caros e menos atrativos – enquanto os produtos mais saudáveis sejam mais acessíveis.
Armas e caminhões estavam na ordem do dia, mas não foram incluídos aqui. A lista atual é:
- cigarros;
- bebidas alcoólicas;
- bebidas açucaradas;
- embarcações e aeronaves
- extração de minério de ferro, petróleo e gás natural
- apostas (físicas e online, como apostas ou jogos de fantasia).
- carros, inclusive elétricos
Os medicamentos ficarão mais baratos com a reforma tributária?
Sim, os impostos sobre os medicamentos terão uma grande alteração e o valor diminuirá.
Todos os medicamentos registrados na Anvisa ou manipulados terão redução de 60% nos impostos.
Alguns medicamentos continuarão com imposto de 0% – mas a lista não tem alterações em relação à anterior.
Os produtos de saúde e higiene menstrual serão totalmente isentos de impostos e os produtos de higiene pagarão 40% em impostos.
Produtos para animais de estimação ficam mais baratos com reforma tributária
O setor pet também vê queda nos impostos. A alíquota diminui 40% para medicamentos, vacinas e soros.
Os planos de saúde para animais de estimação também têm tarifa reduzida, pagando apenas 70% da tarifa geral.