Kirill Kudryavtsev
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira (12) o segundo corte do ano em sua principal taxa de juros, de 0,25 ponto percentual, para 3,5%, diante da inflação que segue recuando, embora não tenha especificado se está avaliando novas reduções nos próximos meses.
“Agora é apropriado dar um passo adicional na moderação do grau de restrições da política monetária”, afirmou a instituição num comunicado.
O BCE reduziu as suas taxas de juro em Junho, pela primeira vez em cinco anos, após um período de inflação elevada resultante da invasão russa da Ucrânia.
Em julho, porém, manteve as taxas inalteradas.
O corte anunciado esta quinta-feira esteve em linha com as expectativas do mercado, tendo em conta os dados de inflação na zona euro, que inclui 20 dos 27 países da União Europeia.
O aumento de preços foi de 2,2% em Agosto na zona euro e ficou ainda abaixo da meta de 2% nas duas maiores economias da região, Alemanha e França.
“O Conselho do BCE está determinado a garantir que a inflação regresse rapidamente ao seu objetivo de 2% no médio prazo e manterá as taxas de juro oficiais em níveis suficientemente restritivos durante o tempo que for necessário”, afirmou a instituição com sede em Frankfurt.
“Com o crescimento salarial bem acima da produtividade e a inflação dos serviços a subir novamente, não há razão para o Conselho do BCE acelerar o ritmo dos cortes de juros ou se comprometer com mais cortes neste momento”, comentou Sylvain Broyer, economista-chefe da S&P Global. Avaliações.
Os cortes impactam a taxa do mercado interbancário e, consequentemente, as condições dos empréstimos para pessoas físicas e jurídicas.
A flexibilização de Junho ocorreu após um período de aumentos de crédito sem precedentes para combater uma inflação excepcionalmente elevada.
Esta decisão do BCE foi tomada antes do anúncio da Reserva Federal (Fed), o banco central americano, que deverá decidir o seu primeiro corte do ano em 18 de setembro, depois de ter elevado o custo do dinheiro para níveis nunca vistos desde 2001. .
-Relatório Draghi-
A nova redução das taxas do BCE surge após o anúncio de uma revisão em baixa do crescimento económico na zona euro no segundo trimestre, para 0,2%.
Mas as preocupações com os défices orçamentais podem moderar a extensão dos cortes.
A Presidente do BCE, Christine Lagarde, apelou aos governos da zona euro para que implementem reformas “agora” para reduzir estes défices.
Lagarde também incentivou os governos a implementarem as propostas do relatório sobre a economia europeia apresentado no início da semana pelo seu antecessor no cargo, o antigo primeiro-ministro italiano Mario Draghi.
“Faz um diagnóstico duro, mas, na nossa opinião, justo, e aponta também para reformas estruturais (…) que poderão ser extremamente úteis para fortalecer a Europa”, disse Lagarde sobre o documento, que pede à UE que faça investimentos massivos .
– Balanço de riscos –
As declarações de Lagarde serão analisadas em detalhe para ver para onde se inclina o “equilíbrio de riscos”, um tema sobre o qual “ainda não há consenso” entre os banqueiros centrais da zona euro, Gilles Moec, economista-chefe da Axa.
O debate opõe “aqueles que começam a preocupar-se com o forte abrandamento da procura”, o que justificaria a rápida redução do custo do crédito, e “aqueles que consideram que a recuperação do poder de compra, provocada pela desinflação, permitirá sustentar consumo e que, portanto, não é urgente agir com força”, explicou.
O BCE manteve as suas previsões de inflação na zona euro: 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026.
Por outro lado, reduziu ligeiramente as previsões de crescimento e prevê uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,8% este ano (uma décima menos que o projectado em Junho), e de 1,3% e 1,5% em 2025 e 2026, respectivamente.
Estas novas projecções económicas não ajudam a esclarecer dúvidas.
Isabel Schnabel, que faz parte do Comité Executivo do BCE, defendeu recentemente uma estratégia de taxas prudente e progressiva para evitar um regresso à inflação.
Isto pode encorajar o presidente da instituição a manter o princípio de confiar nos dados publicados, sem comprometer as políticas de longo prazo.