Nélson ALMEIDA
Pela primeira vez, mais da metade da população mundial conta com algum tipo de proteção social, informou nesta quinta-feira (12) a Organização Internacional do Trabalho (OIT), embora o progresso ainda seja lento.
Num novo relatório, a OIT apela em particular aos países mais vulneráveis à crise climática para que aumentem os seus investimentos na proteção social, o que, embora não impeça o aquecimento global, mitiga o seu impacto na população.
Segundo esta organização da ONU, 52,4% da população tinha alguma forma de cobertura social no ano passado, superando os 42,8% em 2015.
“Embora esta seja uma evolução positiva, a dura realidade é que 3,8 mil milhões de pessoas permanecem completamente desprotegidas”, lamenta a OIT.
A organização destacou que a maioria das crianças (76,1%) ainda não tem proteção eficaz.
Se o ritmo actual se mantiver, serão necessários 49 anos para que todos estejam cobertos por pelo menos uma prestação social, o que, segundo a OIT, é demasiado lento.
A agência está especialmente preocupada com os países mais vulneráveis às alterações climáticas, que “representam a ameaça mais grave à justiça social”, afirma o seu diretor-geral, Gilbert Houngbo.
Entre os vinte países mais vulneráveis, incluindo o Haiti, 91,3% da população (364 milhões) não tem nenhum tipo de proteção. Nos 50 países mais expostos às alterações climáticas, 75% da população (2,1 mil milhões de pessoas) está desprotegida.
“Estas diferenças são significativas dado o papel da protecção social na mitigação do impacto das alterações climáticas, ajudando as pessoas e as sociedades a adaptarem-se à nova realidade climática volátil e facilitando uma transição justa para um futuro sustentável”, observou o relatório.
– Desigualdades entre países –
O relatório explica que a protecção social melhora a capacidade da população “para enfrentar os impactos climáticos, proporcionando um nível básico de rendimento e acesso a cuidados de saúde”. Também “contribui para aumentar as capacidades adaptativas, incluindo as das gerações futuras”.
Estas medidas, combinadas com políticas ativas no mercado de trabalho, podem encorajar as pessoas a procurar profissões e práticas económicas mais sustentáveis, destacou a OIT.
O relatório enumera várias opções de cobertura social, tais como a mudança de subsídios dedicados aos combustíveis fósseis para medidas de protecção.
A organização garante que é hora de investir significativamente na proteção social, ao mesmo tempo que critica duas trajetórias muito diferentes no mundo.
O estudo mostra que os países de rendimento elevado estão a aproximar-se da cobertura universal (com uma taxa de 85,9%) e que os países de rendimento médio-alto (71,2%) e de rendimento baixo (32,4%) “avançam rapidamente para reduzir as disparidades”.
No entanto, a taxa de cobertura nos países de baixo rendimento (9,7%) quase não aumentou desde 2015.
A diferença também é clara em relação ao volume do PIB dedicado à proteção social: 16,2% nos países de rendimento elevado versus 0,8% nos países de baixo rendimento.
Estas nações precisam de mais 308,5 mil milhões de dólares (1,73 biliões de reais) por ano para garantir a protecção social básica, afirma a OIT, que pede ajuda internacional para angariar este montante.