Incluindo refrigerantes, carros elétricos e cigarros, mas sem armas de fogo, o desenho atual do Imposto Seletivo tornaria a carga tributária sobre armas pelo menos 70,3% menor que a atual. O cálculo foi feito pelo Grupo de Pesquisa em Tributação e Gênero da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, e apresentado ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em reunião em Brasília.
O vice-presidente general Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defenderam uma mudança que aumentaria a tributação das armas e a inclusão na lista do “imposto do pecado”.
“Vamos brigar no Senado para devolver o Imposto Seletivo às armas”, disse o ministro Haddad em evento realizado ontem pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo.
Pela legislação atual, a sobretaxa para armas já existe. Varia de estado para estado, dependendo da cobrança do ICMS. O cálculo da FGV leva em conta a situação de São Paulo, que tem ICMS de 25% para revólveres. Esses itens também incidem IPI de 55% e PIS/Cofins de 9,25%.
No total, a alíquota legal atualmente aplicável às armas é de 89,25%, uma diferença significativa em relação ao que propõe a Reforma Tributária, com alíquota única de 26,5%.
Segundo especialistas, sem a sobretaxa do Imposto Seletivo, também chamada de “imposto do pecado”, haverá uma “diferença brutal” com a redução do valor das armas após a entrada em vigor da Reforma Tributária. Um exemplo dado foi uma arma que custava R$ 5.850, valor encontrado em anúncios online de uma pistola Taurus G3 Toro calibre 9mm, uma das mais vendidas no país, que poderia despencar para R$ 3.091 com a redução de impostos.
Ressaltam, no entanto, que a estimativa desconsidera que os distribuidores e fabricantes de armas possam alterar as suas margens de lucro. O resultado também não leva em consideração as diferenças na base de cálculo dos impostos que compõem toda a carga tributária atual, nem o caráter cumulativo do sistema.
“É uma contradição enorme que o atual governo, que aumentou o IPI para armas e restringiu as regras para aquisição de armas, tenha uma redução drástica na tributação de armas”, avalia um dos responsáveis pelo estudo na FGV, enfatizando que o a redução deixaria o Brasil na direção oposta de vários países que adotam o Imposto Seletivo para armas.
Destaque do Partido Liberal (PL)
A retirada das armas do Imposto Seletivo, que ainda terá a alíquota extra definida pela lei ordinária, aconteceu após destaque do texto da regulamentação feita pelo Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro.
Para especialistas, a exclusão desses itens do “imposto do pecado” expôs a fragilidade do governo na negociação de pontos sensíveis da Reforma Tributária. Tal como em vários países que adoptam o IVA, o Imposto Seletivo procura onerar as actividades com externalidades negativas. O objetivo do imposto é garantir que, de alguma forma, o preço final daquele bem ou serviço reflita o custo real para a sociedade e os governos, como no caso do álcool e do cigarro, por exemplo.
Risco de revés
Segundo os especialistas, a redução da carga sobre o setor tornará as armas de fogo mais acessíveis no mercado legal e paralelo. Isto vai contra tudo o que o governo tem feito nos últimos dois anos, ao tentar reduzir o acesso e ao mesmo tempo tornar as armas um produto mais barato. O que vai acontecer é um acesso mais facilitado para quem compra no mercado legal e para o crime organizado.
Para especialistas, a redução de impostos “agrada apenas a três públicos”: a indústria armamentista, o traficante de armas e os criminosos. Quando já existe uma tributação mais elevada, não parece ser a medida mais adequada para reduzir a carga sobre as armas. O sistema já trata esses itens como algo que deve ser prevenido. O cenário ideal é que isso continue após a Reforma Tributária.