O surf se tornou um fenômeno popular nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021. Três anos depois, a modalidade foi disputada nas ondas de Teahupo’o, no Taiti, a mais de 15 mil quilômetros de Paris. Mesmo com um swell decepcionante, as Olimpíadas de Paris geraram um impacto que ficará eterno na história das pranchas de surf e que vai além dos limites da água.
A prova masculina foi vencida por Kauli Vaast, atleta que não faz parte da elite da World Surf League (WSL). Na categoria feminina, os Jogos também foram marcados pelo anúncio da aposentadoria da pentacampeã mundial Carissa Moore. Estas duas frentes deverão influenciar o futuro do surf profissional. Porém, o maior legado deixado pelas Olimpíadas Francesas no surf será observado fora das águas.
O brasileiro Gabriel Medina conquistou a medalha de bronze em Teahupo’o e mesmo assim essa não parece ter sido a grande novidade sobre ele. O surfista alcançou nota 9,90 em uma das manobras mais épicas da história do surf, mas o que marca sua trajetória é o impacto da foto tirada por Jerome Bouillet (capa) justamente naquela onda. A imagem em questão viralizou nas redes sociais e mudou o rumo do surf. A tendência é que o esporte, que já vem ganhando bastante espaço na mídia esportiva, se torne cada vez mais popular entre quem não estava acostumado a acompanhar os acontecimentos.
As Olimpíadas de Los Angeles 2028 já têm o surf como um dos esportes confirmados. A região da Califórnia é uma das mais famosas do esporte, pois sedia diversas etapas da WSL e recebe as Finais desde 2021. Porém, assim como na França, os picos dos Estados Unidos não recebem ondulações tão significativas durante o período. Competições olímpicas. . Assim, o COI tem uma decisão enorme a tomar, já que o Havaí, ilha no Oceano Pacífico, também faz parte do território norte-americano. O local é conhecido por ter barris épicos, como os vistos no memorável dia das oitavas de final masculinas em Teahupo’o. A piscina de ondas mais famosa do mundo fica no estado da Califórnia e começa a despontar como uma das potenciais candidatas a sediar a competição.
A possibilidade de os Jogos Olímpicos adotarem o Surf Ranch como sede do surf em 2028 é mínima, porém não descartada. As ondas artificiais dariam aos surfistas as mesmas condições de onda, algo que não foi visto no Taiti. Por outro lado, perder-se-ia obviamente a essência de ser um desporto marítimo e imprevisível. De qualquer forma, o poder que o COI tem em mãos certamente impacta o crescimento do surf no maior evento multiesportivo do planeta.
Outro ponto a ser descartado nas Olimpíadas foi a arbitragem, positiva e negativamente. O afastamento de juiz envolvido em polêmicas
em Tóquio e Paris é uma mensagem clara dos fãs: preconceitos não serão tolerados. Por outro lado, a transparência da ISA Games em relação aos jurados, disponibilizando em seu site oficial o nome e o país de cada responsável pelo julgamento das eliminatórias é um passo importante que a maior liga de surf deve seguir. Caso contrário, existe o risco da WSL perder a sua posição?
As atenções se voltam para a WSL para a reta final da temporada 2024. A próxima etapa já tem data marcada e começa na próxima semana, dia 20 de agosto. O evento em Fiji é a última chance que os atletas têm de chegar ao topo do ranking e conseguir uma vaga na final. Com muitas discussões sobre os critérios adotados nas últimas temporadas, o caminho que a liga quer seguir rumo ao futuro do surf começa a se estreitar.
Questões relacionadas à saúde mental, que já afastaram Filipe Toledo, Gabriel Medina e tantos outros atletas do cenário competitivo, devem ser alguns dos pontos a serem investigados. Além de toda a pressão envolvida, a falta de critério no julgamento das etapas da principal liga de surf está diretamente relacionada e é um dos fatores que tem impactado negativamente a carreira dos surfistas. Portanto, é de extrema importância que a WSL aprenda com a ISA e os Jogos Olímpicos para que o surf siga a maré que a vem catapultando para os patamares mais prestigiados da modalidade.