Inácio de Barros Melo Neto tem forte influência no setor educacional de Pernambuco, onde fundou a Faculdade de Medicina de Olinda
O empresário e educador pernambucano Inácio de Barros Melo, de 44 anos, tornou-se um dos mais importantes acionistas da Americanas ao alcançar 12,5% de participação nas ações ordinárias da varejista, perdendo apenas para o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles .
Seu nome se tornou público após a Americanas anunciar, na noite desta sexta-feira (12), que passou a deter 113 milhões de ações da varejista, conforme comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Apesar do cargo de destaque, ele afirmou em entrevista à Reuters que não tem intenção de assumir o cargo de controlador da empresa. Ele pretende ganhar dinheiro com uma venda futura, o que o levou a comprar ações da varejista nos últimos meses.
“Acredito que a empresa vai mudar de patamar. Se o preço das ações cair posso comprar ainda mais”, afirmou o empresário.
Inácio Neto, como é conhecido em Pernambuco, é dono de uma faculdade de medicina e de uma escola de educação infantil e fundamental, ambas em Olinda.
Nasce um investidor
Neto está entre os milhares de brasileiros que começaram a investir na bolsa em 2020, quando a Selic atingiu o menor nível histórico e as ações caíram em decorrência da pandemia.
Em meio à alta e à queda das ações, Neto afirma que se viu como investidor, dispensando a ajuda dos bancos. “Sou eu que entro, quebro a cabeça, mas sempre estudo uma forma de conseguir o que perdi e ter sucesso”, disse ele em entrevista ao Pipeline.
A Americanas entrou no seu radar quando o então CEO, Sergio Rial, trouxe à tona as fraudes bilionárias na contabilidade da varejista. Neto conversou então com a irmã, que já investia na empresa.
“Fiquei obcecado lendo tudo sobre a Americanas, mas o que mais me deu confiança é que os acionistas são o segundo, terceiro e quarto homem mais rico do Brasil. Uma empresa como essa não pode falir”, diz o empresário, com uma confiança que contrasta com a visão predominante do mercado sobre o futuro do varejista.
Neto está esperançoso de que os problemas contábeis da Americanas serão superados. “Foi uma crise identificada por eles próprios e eles agiram rapidamente. Com a receita do grupo isso será superado em alguns anos”, afirma.
Segundo o pernambucano, apesar de admirar os três principais acionistas da empresa, ele tem predileção por Lemann. “Certa vez li uma entrevista dele em que ele dizia que a hora de investir é durante a crise, chegando a citar o Burger King. Aí descobri que os tênis que uso para correr são de uma marca em que ele investiu, a On Running, da Swiss tecnologia”, diz o empresário.
O ponto que norteou sua decisão de investimento foi a confirmação do aumento de capital de R$ 12 bilhões, aprovado pela empresa em maio e liderado pelo trio de acionistas. “Depois disso, aumentei minha posição em 50%”, revela.
Há muito tempo que a Americanas não recebia uma demonstração tão forte de confiança de um investidor. Desde o início da crise, todos os movimentos significativos dos acionistas têm sido no sentido de vender participações, como no caso da BlackRock, ou de realizar aquisições que não afetaram grandemente a estrutura acionista.
Na cotação de fechamento da ação na sexta-feira, quando Inácio Neto comunicou sua posição à empresa, seu investimento foi equivalente a R$ 77,9 milhões. No momento da aprovação do aumento de capital, a Americanas anunciou que a participação do trio passará de 30,1% para 49,3% após a capitalização, diluindo a participação de Neto.
No primeiro dia após atingir esta posição, a cotação da ação abriu em baixa. Por volta das 16h30, estava 10,14% menor, a R$ 0,62. Porém, Neto não tem pressa em sair e ingressou como acionista quando a ação estava perto de R$ 0,40, o que lhe permitiria um lucro de 60%.
“Não tenho intenção de vender agora e acredito na recuperação. Seu valor atual não reflete seu potencial, deixa muito a desejar. Já valia R$ 90, e R$ 50 em média. Tenho visitado as Americanas lojas do shopping e até noto uma melhora no atendimento”, comenta. “Acredito que isso será resolvido num futuro próximo. Não é uma conclusão matemática, são reflexões da minha mente”, brinca.
Investidor audacioso, o pernambucano revela que a Americanas é sua única ação em bolsa. “Eu realmente não acredito na regra da diversificação. Alguns amigos próximos dizem que serei lembrado como um homem corajoso.” Em Pernambuco, além da escola e da faculdade de medicina, Neto também é dono de uma construtora, mas pretende se desfazer do negócio. “Construí um primeiro prédio, mas não pretendo construir outro. É uma dor de cabeça enorme.”
Relações políticas
Inácio Neto tem forte influência e envolvimento no setor educacional em Pernambuco, devido às suas raízes familiares. Seu avô fundou a Faculdade de Direito de Olinda, que continua administrada pela família. A Faculdade de Medicina, criada por Neto em 2015 com aprovação do Conselho Nacional de Educação e apoio do então governador Eduardo Campos, foi fundamental para ele.
Anteriormente vereador, disputou mandatos em 2008 e 2012, sendo eleito na primeira tentativa. Destacou-se com propostas como a proibição de estabelecimentos exigirem valor mínimo para transações com cartão e a concessão do título de cidadão recifense à então ministra Dilma Rousseff.
Embora tenha se afastado da política partidária, continua atuante como doador de campanha, sendo apoiador de políticos locais como João Campos, filho de Eduardo Campos e atual prefeito do Recife. Apoio qualquer filho dele que se inscreva, porque a gratidão não tem prazo de validade”, afirma.
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