FRANCO FAFASULI
A Huachipato, maior siderúrgica do Chile, desativou seu forno na manhã desta segunda-feira (16) para encerrar 74 anos de operações, atingida pela forte concorrência do aço importado da China.
“Foi um final digno e emblemático para toda uma era na história da siderurgia chilena e é uma prova de que nossos trabalhadores nunca desistiram”, disse Jean Paul Sauré, gerente da Huachipato, em mensagem divulgada pela empresa, confirmando a paralisação. do Alto Forno 2, onde teve início o processo de fabricação do aço não reciclado.
O forno começou a ser desativado às 2h30, horário local (mesmo horário de Brasília), confirmou à AFP o presidente do sindicato da empresa 2, Fernando Orellana.
“É um dia triste para todos os trabalhadores de Huachipato”, comentou Orellana.
O fechamento afeta 2.700 trabalhadores – diretos e terceirizados – e outras 20 mil pessoas ligadas a esta empresa, um dos principais motores econômicos de Talcahuano, cidade localizada 500 quilômetros ao sul de Santiago.
– Decisão difícil –
Criada em 1950, a empresa decidiu fechar, esmagada pela concorrência do aço chinês que inunda os mercados mundiais e chega ao Chile 40% mais barato. Huachipato tentou sobreviver.
Nos últimos anos, especializou-se em produtos para a mineração de cobre, metal do qual o Chile é o principal produtor mundial, e no início do ano exigiu a imposição de sobretaxas às importações de aço chinesas.
Em abril, uma comissão estatal que monitoriza os preços dos produtos importados aprovou tarifas adicionais de 25% a 33% depois de constatar a concorrência “desleal” do gigante asiático. A medida não foi suficiente para compensar perdas de 700 milhões de dólares (3,89 bilhões de reais) acumuladas desde 2019.
“É um momento difícil e triste para todos. As condições do mercado siderúrgico global nos obrigam a tomar esta difícil decisão, e estamos convencidos de que fizemos todo o possível para evitá-la, mesmo suportando enormes perdas durante muitos anos”, afirmou o gerente da empresa.
Nas últimas duas décadas, a China aumentou a sua participação no mercado siderúrgico global de 15% para 54%.
Na América Latina, as importações cresceram um recorde de 44% em 2023, ultrapassando 10 milhões de toneladas, segundo a Associação Latino-Americana do Aço. Huachipato produzia 800 mil toneladas de aço por ano.
– “Onde vou encontrar trabalho nesta idade?” –
Diante do fechamento, os trabalhadores da fábrica aderiram a um plano de saída que inclui benefícios adicionais de 30% acima da remuneração obrigatória. No entanto, o acordo não incluiu os trabalhadores terceirizados, cerca de metade do total de empregados.
“É terrível ficar desempregado durante a noite. Onde vou encontrar trabalho nesta idade?” pergunta Roberto Hernández, um empreiteiro de 54 anos.
Segundo estimativas sindicais, mais da metade dos demitidos tem mais de 50 anos.
O governo reuniu-se esta segunda-feira com os sindicatos e anunciou um plano para fortalecer a indústria e aumentar o emprego na região.
São 32 medidas para “reduzir o impacto laboral e produtivo” do encerramento de Huachipato, incluindo “apoio e monitorização aos fornecedores de Huachipato em risco”, anunciou o Ministério da Economia.
Segundo estudo da Universidade Santíssima Concepción, o fechamento de Huachipato afetará 1.090 pequenas e médias empresas e reduzirá as receitas do município de Talcahuano.
Outro estudo do Observatório Biobío estima que o desemprego aumentará 2,5 pontos percentuais, chegando a 11% na região.