A última edição do Conferência Internacional sobre Obesidade, que aconteceu em junho, em São Paulo, trouxe números alarmantes no Brasil. Infelizmente, porém, os dados não são surpreendentes e confirmam um padrão que outras pesquisas já mostraram. Quase metade dos adultos brasileiros será obesa e outros 27% serão obesos acima dos 20 anos. Cerca de 130 milhões de brasileiros serão obesos até 2044.
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Agora, 56% dos adultos brasileiros já enfrentam problemas de peso, 34% são classificados como com sobrepeso e 22% como obesos. A prevalência da obesidade no Brasil quase dobrou entre 2006 e 2019, destacando uma tendência alarmante e rápida. Os especialistas referem-se a esta situação como uma “epidemia” de obesidade e alertam para a necessidade urgente de uma intervenção governamental centrada em estratégias de prevenção.
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Ainda mais surpreendente é o aumento da obesidade infantil. Atualmente, existem mais ou mais crianças obesas do que crianças desnutridas no mundo. O excesso de peso em qualquer fase da vida é uma preocupação, mas durante a infância, quando os hábitos e escolhas alimentares são formados, o efeito é ainda mais importante. Neste caso, o papel dos adultos é importante, pois são eles que devem criar hábitos e alimentos saudáveis, como comer legumes e frutas, evitar bebidas açucaradas e incentivar a atividade física.
A obesidade está diretamente ligada a uma série de doenças graves, incluindo doenças cardíacas, metabólicas, neurológicas e mentais e muitos tipos de cancro. Estudos mostram que a obesidade aumenta o risco de pelo menos 13 tipos diferentes de cancro, incluindo cancro da mama pós-menopausa, cancro do cólon, cancro do endométrio, cancro do rim e cancro do pâncreas.
Pessoas obesas têm maior probabilidade de desenvolver câncer devido a fatores como inflamação crônica, níveis elevados de insulina e alterações hormonais. Esta relação realça a necessidade de medidas urgentes e eficazes para combater a obesidade.
Alguns países já implementaram estratégias para reduzir o consumo de açúcar e combater a obesidade. O Reino Unido, por exemplo, introduziu em abril de 2018 um imposto de 24 cêntimos por litro sobre bebidas açucaradas com mais de 8 gramas de açúcar por 100 ml. A medida visa reduzir o consumo de açúcar entre os jovens e combater a obesidade infantil, que cresce no país. Os resultados preliminares mostram uma redução de 8% na obesidade entre as meninas de 10 a 11 anos, especialmente aquelas que vivem em áreas desfavorecidas.
Outros países como a Bélgica, França, Hungria e México também adoptaram alguma forma de imposto sobre bebidas açucaradas, seguindo uma tendência que começou nos países escandinavos há muitos anos. Essas medidas parecem estar funcionando e são exemplos que o Brasil pode tomar para enfrentar o problema da obesidade.
O Brasil enfrenta uma crise de saúde pública de enormes proporções. É importante que os governos utilizem estratégias de prevenção e educação para inverter esta tendência. A saúde futura de milhões de brasileiros depende de ações imediatas e eficazes. Se não agirmos agora, as consequências para a saúde pública e para o sistema de saúde poderão ser terríveis.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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