Presidente chinês Xi Jinping durante o Congresso do Partido Comunista em outubro de 2022
NOEL CELIS
A cimeira de poder na China concordou em “aprofundar as reformas”, “resolver riscos” no sector imobiliário e nas finanças públicas, além de estimular o consumo, numa reunião económica crucial que terminou esta quinta-feira (18), mas que não anunciou medidas concretas medidas para estimular uma economia em desaceleração.
Membros do Comité Central do Partido Comunista, liderado pelo Presidente Xi Jinping, reuniram-se esta semana numa sessão plenária em Pequim, que foi acompanhada de perto em antecipação às medidas de estímulo económico.
Mais de um ano e meio depois do levantamento das restrições à pandemia de Covid-19, a segunda maior economia do mundo ainda não conseguiu recuperar o crescimento dinâmico, afetada por uma grave crise no setor imobiliário, pelos frágeis níveis de consumo e pelo elevado desemprego entre os jovens.
Além disso, as tensões geopolíticas e comerciais com os Estados Unidos e a União Europeia têm consequências para as exportações, um elemento crucial da atividade do país.
No final da reunião, porém, os líderes chineses não anunciaram novas políticas, mas sim “uma resolução para aprofundar ainda mais as reformas”, destacou a agência de notícias estatal Xinhua, sem revelar mais detalhes.
Para o economista Gary Ng, da Natixis, os anúncios não oferecem “nada que não seria esperado, pois apenas confirmam as políticas existentes”.
A economista-chefe do ING Bank para a China, Lynn Song, viu “sinais positivos” na sessão plenária, mas “não uma plataforma para promover novas medidas de estímulo direcionadas”.
“Aqueles que esperavam novos sinais relacionados ao mercado imobiliário provavelmente estão desapontados”, disse ele.
– Indicadores decepcionantes –
A reunião, que começou na segunda-feira, foi a terceira sessão plenária do actual mandato do Comité Central do Partido Comunista, uma oportunidade historicamente aproveitada pelas autoridades chinesas para anunciar grandes mudanças económicas.
Em 1978, o então líder Deng Xiaoping aproveitou este encontro para apresentar medidas de abertura da economia chinesa, que colocaram o país no caminho de um crescimento espectacular nas décadas seguintes.
Na reunião de 2013, sob a liderança de Xi, o governo decidiu atribuir ao mercado livre um papel “decisivo” na distribuição de recursos, para além de outras mudanças económicas e sociais cruciais.
Na mesma linha da reunião de há 11 anos, os líderes prometeram esta quinta-feira dar “maior protagonismo aos mecanismos de mercado, mas compensando as suas falhas”.
Segundo a agência Xinhua, a liderança do Partido Comunista também concordou em “expandir activamente a procura interna, bem como evitar e resolver riscos em áreas-chave como o sector imobiliário e a dívida dos governos locais”.
Os dados económicos publicados durante a sessão plenária, porém, não projectam optimismo.
O crescimento do PIB da China foi de 4,7% no segundo trimestre, um resultado que ficou abaixo das previsões dos analistas e representa a taxa mais baixa desde o início de 2023, quando Pequim suspendeu as draconianas medidas anti-covid que abalaram a sua actividade económica.
Os dados de consumo divulgados esta semana também decepcionaram, com um aumento anual de apenas 2% nas vendas no varejo em junho, taxa inferior à registrada no mês anterior.
A todos os problemas já mencionados, é ainda necessário acrescentar a complicada situação financeira da administração local numa parte do país, depois de três anos de grandes despesas para combater a Covid e de uma quebra de receitas importantes de um sector imobiliário em crise.
Na reunião plenária, a liderança do Partido Comunista também decidiu “fortalecer a orientação da opinião pública e prevenir e resolver ativamente os riscos ideológicos”, segundo a Xinhua.
Durante a reunião, os líderes também decidiram expulsar o ex-ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, do órgão máximo de decisão do Partido Comunista e “confirmaram” a decisão de fazer o mesmo com o ex-ministro da Defesa, Li Shangfu.