Investigações do Ministério Público do Estado (MPE) de São Paulo indicam envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) com agentes de jogadores. Isso porque o órgão tem em seu poder mensagens, contratos e depoimentos do empresário Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos. Com isso, ele acusa as empresas responsáveis pela gestão da carreira dos atletas de participarem da lavagem de dinheiro da facção criminosa.
As investigações criminais, até o momento, não estão relacionadas a jogadores, clubes e dirigentes. Mesmo assim, o Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investiga se a origem do capital para a transferência dos atletas foi o tráfico de drogas. Gritzbach assinou um acordo de delação premiada detalhando as ações do empresário de futebol Danilo Lima de Oliveira, também conhecido como Tripa, da Lion Soccer Sports. O profissional também teria participação em outra agência, a UJ Football Talent.
Outro agente envolvido no esquema de lavagem de dinheiro mencionado pelo denunciante é Rafael Maeda Pires, Japa do PCC. A teoria é que ele era voz ativa nas decisões cotidianas da Agência FFP Ltda, do deputado Felipe D’Emílio Paiva, antes de ser vítima de homicídio no ano passado. Questionada, a FFP afirmou não ter conhecimento da acusação e Leão não foi encontrado.
Agências conhecidas são suspeitas de envolvimento em lavagem de dinheiro
As três agências investigadas são conhecidas no mundo do futebol. Afinal, eles contam com jogadores de grandes clubes do Brasil e do mundo como seus clientes ou que já foram. Alguns exemplos são Emerson Royal (atualmente no Milan), Eder Militão, (Real Madrid), Bremer (Juventus), Du Queiroz (ex-Corinthians e agora no Grêmio) e Igor Formiga (também ex-Corinthians e agora defendendo o Novorizontino).
Também citados na investigação pelos deputados Gustavo Scarpa (Atlético-MG), Felipe Negrucci e Caio Matheus (ambos da base paulista), Marcio Bambu (aposentado), Guilherme Biro (Corinthians) e Murillo (ex-zagueiro do time do Parque São Jorge e hoje em Nottingham Forest, na Inglaterra). O empresário denunciante, Gritzbach, encontra-se no centro de uma das principais investigações realizadas até hoje sobre lavagem de dinheiro. Principalmente envolvendo o tráfico de drogas em São Paulo. Assim como outros negócios da facção paulista, que fica na região do Tatuapé, bairro Zona Leste.
PCC foi vítima de assalto a Gritzbach
O PCC acusa o agente denunciante de ser o responsável por causar um prejuízo de R$ 100 milhões em bitcoins em suas finanças. Gritzbach decidiu apresentar a sua versão do crime organizado no futebol. Assim, ele assinou um acordo de delação premiada com o Gaeco. Um dos documentos chama-se “PCC Futebol Clube”. A própria defesa do mandatário foi quem sugeriu a proposta em setembro passado. O Gaeco concordou com a nomeação e o Tribunal aprovou o acordo em abril deste ano.
Segundo comunicado de Gritzbach, o representante Danilo Lima de Oliveira, Tripa, da Lion Soccer Sports, transferiria parte de seus clientes para a UJ Football Talent. Segundo o denunciante, o movimento ocorreria porque “”não teria respaldo financeiro, está enquadrado no Simples e tem vários players”. Segundo ele, a Tripa não é dona da empresa, mas tem participação. Ulisses Jorge é o sócio.
Por outro lado, a UJ Football Talent define-se como “uma consultora desportiva com expertise internacional na promoção dos sonhos dos atletas desde 2010”. Seu principal cliente é Éder Militão, zagueiro que começou nas categorias de base do São Paulo. O jogador atualmente joga no Real Madrid, além da Seleção Brasileira.
Gritzbach destaca ainda que Danilo representou outros atletas consagrados como Emerson Royal, Marcio Bambu, Guilherme Biro, Du Queiroz e Murillo. Em relação à FFP Agency Ltda., outra empresa citada pelo denunciante como envolvida na lavagem de dinheiro do PCC, seus clientes são os atletas Caio Matheus, Felipe Negrucci, Du Queiroz e Igor Formiga. É o que mostram dados do Ministério Público.
Ministério Público recolhe provas do denunciante
Para comprovar a ligação das empresas com o PCC, Gritzbach entregou cópias de conversas de WhatsApp entre os deputados Felipe D’Emílio Paiva e Rafael Maeda Pires, o Japa do PCC, um dos principais personagens da facção. O denunciante alega que conheceu Maeda como piloto de Fórmula HB20 e vendedor de carros.
Em contato com o “Estadão”, a FFP argumentou que “não tem conhecimento da suposta acusação”. Além disso, reiterou a honestidade nas negociações: “todas as transações realizadas são baseadas na transparência e na legalidade”.
Em conversas entregues ao Ministério Público, Maeda e Felipe discutem contratação de jogadores. Além de assinar contratos e pagamentos em reais e euros. Há também fotos de atletas e quantias em dinheiro. Há também citações do ex-presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves. Além do ex-técnico sub-20 do Timão, o ex-atleta Danilo. Os dois empresários teriam solicitado referências sobre atletas.
Posicionamento de suspeitos de envolvimento
Por meio de sua consultoria, o ex-representante do Timão afirmou que “nunca manteve relacionamento pessoal ou comercial com o Japa”. Ele ainda afirmou que nunca trocou mensagens com o representante dos atletas. O ex-cartola ainda argumenta que por ter sido presidente do Corinthians, um dos maiores clubes do país, era comum que seu nome fosse citado em diversas situações no trato com jogadores.
O Coringão relata que recebeu “com enorme surpresa a notícia da possibilidade de atletas supostamente comandados por integrantes do crime organizado terem formalizado contratos com o clube”. Na verdade, ele ressaltou que essas ligações teriam sido feitas antes da atual gestão. O clube destacou ainda que está “à disposição para fornecer quaisquer documentos que as autoridades considerem importantes e também para prestar quaisquer esclarecimentos necessários à completa investigação dos factos”.
São Paulo e Grêmio disseram que não comentarão o caso. Novorizontino e Atlético Mineiro não responderam ao contato. Assim como Juventus, Milan, Nottingham Forest e Real Madrid não responderam no exterior.
Gritzbach também deu aos investigadores provas dos pagamentos que a FFP fez à CBF. O objetivo era provar que Maeda tinha conhecimento de como a agência funcionava no dia a dia. Vale ressaltar que para poder atuar no Brasil, um representante de jogador ou mesmo o dono de uma empresa que administra a carreira de atletas precisa obter uma licença da FIFA. Neste caso, pague R$ 8 mil em uma única ocasião, além de R$ 250 por inscrição de cada jogador.
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