O ex-jogador Marcelinho Carioca enfrenta novas acusações por um episódio antigo. Isso porque Cristiano Donizeti Machado Campos morreu aos 17 anos após ser atropelado por um cavalo do ídolo corintiano. Os pais do jovem afirmam que o ex-meio-campista nem prestou assistência após o episódio. Ou até pagou pelo enterro do menino.
O incidente ocorreu em abril de 1998, na cidade de Sarapuí, interior de São Paulo. Na época, Marcelinho defendia o Corinthians. O irmão de Cristiano, Thiago Machado, atualmente com 38 anos, deu depoimento ao “Uol”. Segundo ele, o relato dos pais é que nesse período o ex-jogador nem os procurou para oferecer qualquer tipo de atendimento.
“Para o enterro, meu pai contou com apoio da prefeitura. O caixão era assistência social. Não sei se ele pagou mais tarde. Mas ele nunca veio nos procurar”, explicou Thiago, que tinha 12 anos na época.
Cristiano, na época também menor de idade, havia sido contratado em janeiro de 1998 para trabalhar como jardineiro, sem registro, na fazenda de Marcelinho. Porém, deram-lhe uma tarefa que ele desconhecia: procurar um cavalo que havia fugido para a fazenda vizinha. Mesmo não tendo experiência no tratamento de animais, ele foi, mas nunca mais voltou.
A vítima era o mais velho dos 13 filhos de Sérvio e Pedra, atualmente com 73 e 67 anos, respetivamente. Bem como os mais presentes, segundo relatos familiares. Por conta disso, Cristiano aceitou o emprego na fazenda de Marcelinho, para ajudar seus pais de origem muito humilde. Seu pai foi catador de lixo durante a maior parte da vida na prefeitura de Sarapuí e sua mãe catadora de algodão e laranja.
Acidente traz sofrimento para família até hoje
Aliás, a tragédia causou consequências que duram até hoje. Por exemplo, Thiago está em tratamento para epilepsia, que piorou após a morte do irmão. Sua mãe, Pedra, estava grávida do filho Bruno, mas o perdeu para meningite. O irmão que mais teve contato com Cristiano tentou seguir em frente com a vida, mas sofre com problemas de álcool e atualmente está desempregado. O pai sempre fica emocionado quando se lembra do filho que partiu.
“Ele se emociona, mostrei a reportagem que saiu e ele pediu a Deus que o iluminasse para que saísse alguma coisa (no processo contra Marcelinho). Ele até falou: ‘mas ele não vai trazer meu menino de volta’”, detalhou Thiago.
“Cristiano amarrou uma corda no pescoço do cavalo e outra na cintura. A corda tinha apenas 3 metros de comprimento. Depois, ele foi arrastado por horas pelo animal. Todos os chutes atingiram sua testa, que ficou quebrada. Quando o encontramos, ele só tinha dois ossos segurando a corda. Ele não estava mais com calças, estava apenas de cueca, suas costelas estavam todas ensanguentadas. O médico disse que ele estava no último suspiro”, relatou o irmão.
Thiago revelou ainda que a família obteve informações em que Cristiano questionava a tarefa que recebeu. Até porque foi contratado para trabalhar com jardinagem, e não com cuidado de animais. Porém, aceitou a tarefa, pois ouviu a promessa de que Marcelinho chegaria à fazenda naquele dia. Aliás, o ex-jogador faria o pagamento pendente.
“Ele ficou feliz por receber e recebeu. Mas passaram 3, 4 horas, ele não voltou e ninguém foi atrás dele”, completou Thiago.
Marcelinho sofre derrota na Justiça
Quase três meses depois do ocorrido, o ex-atleta optou por vender seu imóvel em Sarapuí. Assim, trocou a fazenda por um terreno em Atibaia, onde construiu um hotel. Os pais de Cristiano, após não obterem qualquer tipo de assistência do ex-jogador, entraram com uma ação na Justiça Cível em julho de 1998. Exatos três meses após a morte do filho, na esperança de exigir indenização.
Em primeira instância, a decisão afirma que Marcelinho contratou um menor. Principalmente sem experiência no trato com animais e sem o nível sociocultural que lhe pudesse conferir capacidade para desempenhar a tarefa que lhe era pedida. Na verdade, a fazenda do ex-atleta não possuía instalações para abrigar ou criar cavalos. Nem mesmo o responsável direto pelo local. O menino deveria receber uma remuneração mensal de R$ 180 para trabalhar na lavoura. Após sua morte, sua família recebeu R$ 400 como fundo de garantia.
Apesar da vitória jurídica, a família nem sequer recebeu o valor a que tinha direito. Desde então, o advogado que defendia a família também morreu e um dos filhos assumiu a responsabilidade.
A Justiça avaliou que Marcelinho causou dor e sofrimento à família de Cristiano por ser dono da fazenda. Além de ter se responsabilizado por diversos cenários que poderiam ocorrer, nem pelo fato do ex-atleta não estar no local quando ocorreu o acidente. Além de não ter sido o causador direto da morte do menino, ele não teve forte influência na decisão judicial.
É importante destacar que a situação financeira da família da vítima e do ex-jogador do Corinthians influenciou na definição. Atualmente, a dívida é de R$ 550 mil, e o agora ex-jogador não pode mais tentar entrar com recurso. A defesa e a equipe de Marcelinho ainda não se manifestaram sobre o caso.
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