Uma das maiores jogadoras e ícones do futebol feminino mundial, a estrela Formiga
falou exclusivamente com iG Esporte
e analisou a fase atual de Seleção Brasileira,
que estreia em Olimpíadas de Paris
nesta quinta-feira (25), às 14h (horário de Brasília), contra a Nigéria, no Stade de Bordeaux.
A ex-jogadora falou sobre a situação atual do futebol feminino no país e comentou sobre a evolução do esporte no jogos Olímpicos
ao longo dos anos.
“A cada ano, desde a minha última (Olimpíada), o nível das equipes melhorou muito. Isso porque houve um aumento de estrutura lá fora. Aqui no Brasil não podemos dizer que estamos caminhando para essa melhoria. Estamos na infância para poder enfrentar essas equipes, que são melhores”, disse Formiga.
“Algumas equipes acabam ficando um pouco para trás devido ao processo de renovação do ciclo, que acaba sendo um pouco demorado, e é isso que está acontecendo no Brasil. Infelizmente ainda estamos atrás, porque hoje só temos equipes juvenis. Enquanto isso, outros países já têm esse trabalho e ajuda a manter uma regularidade muito boa, como Estados Unidos, França, Espanha, que está muito bem, e até o próprio Japão”, disse o craque.
Questionado sobre a mudança no comando técnico da seleção, Formiga
analisou a passagem da sueca Pia Sundhage (demitida após péssima campanha na Copa do Mundo de 2023) e projetou os desafios que Arthur Elias enfrentará à frente da seleção canarina.
“Acho que uma coisa boa que ela deixou foi a organização da nossa defesa, fazendo-os acreditar que poderiam fazer a diferença. Outra coisa foi ficar apertando o botão o tempo todo para a CBF ter um trabalho básico (…). A chegada dela acrescentou alguma coisa, de certa forma (…). Agora, em campo, ela cometeu um grande erro ao não dar tempo ao atleta para pensar e respirar. Havia muita informação ao mesmo tempo, e em relação à qualidade do treinamento também, era sempre algo repetido. Mas o que ela pecou mesmo foi tentar fazer com que o (futebol) brasileiro virasse um robô, o que é difícil, dada a forma como nossa escola de futebol brasileira joga”, analisou.
“Temos uma imagem do Arthur Elias, que está dentro de um clube, disputando o Campeonato Brasileiro, em que o clube tem a chance de contratar os melhores jogadores para montar um elenco vencedor (…). Espero que ele, a comissão e os atletas possam entender o processo. Sabemos que uma revolução não acontecerá da noite para o dia (…). Pela dificuldade de hoje, ele terá que aprender muito e terá que se acostumar com esse clima da Seleção Brasileira. Espero que todos possam realmente estar juntos nesse processo, para que ele comece o mais rápido possível”, projetou.
Formiga também comentou o impacto das três medalhas de prata conquistadas pela seleção feminina no Olimpíadas
(Sidney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008). A ex-jogadora, que fez parte de duas campanhas, disse que gostaria que a conquista tivesse mais influência no cenário atual do esporte no Brasil.
“Infelizmente no nosso país, para conseguir algo como mulher, seja no esporte ou fora dele, é preciso obter resultados positivos. Se não, não adianta. Mas para aquele grupo que conquistou estas três medalhas foi o culminar de um longo tempo de trabalho, em que não tivemos absolutamente nada. A conquista veio da força das mulheres daquele grupo e da força da comissão técnica que realmente acreditou no potencial de cada uma ali. E hoje vejo que essas medalhas melhoraram algumas coisas, mas não tanto quanto gostaríamos”, comentou.
“Vemos que alguns clubes estão fechando as categorias de base femininas, que é algo que tanto pedimos, gritamos tanto por ajuda, para que os times abram as portas e tenham um departamento de futebol feminino. Porque é apenas a base que vai sustentar o futuro do esporte no país. Então, vemos que enquanto não ganharmos um campeonato, não somos campeões, talvez não tenhamos o direito de pedir nada”, acrescentou.
Por fim, Formiga projetou o que espera da campanha da Seleção no Jogos Paris 2024,
em meio à renovação de jogadoras do elenco e à aproximação do fim do ciclo das veteranas do grupo, como Debinha, Cristiane e até a rainha Marta.
“Vai ser um ciclo em que teremos que ficar atentos para quem realmente terá 100% de capacidade de ser líder, certo? É um novo ambiente para essas meninas. Claro, ainda temos o Rafa, a Tamires, a Marta, que também vão ficar comigo até terminar em alto nível no Brasil. Acredito que daí possa surgir a maior referência de liderança dentro da seleção brasileira”, afirmou.
“Para este ciclo olímpico e para a campanha da seleção, espero que elas possam desempenhar um papel bem diferente do que tiveram na Copa do Mundo (…). Acho que neste novo ciclo, as meninas mais novas precisam ficar um pouco gosto do que é uma final, que é difícil para você tomar uma decisão. Quero que eles saiam satisfeitos com o que deixam em campo, que acho que é o que eles precisam”, comentou.
“Numa competição como essa você não precisa economizar absolutamente nada. Você tem que dar tudo de si. Então, espero que cada uma dessas meninas, que foram convocadas, entendam isso (…) e que possam chegar a uma final e mudar um pouco essa história”, finalizou Formiga.
Veja abaixo a galeria de fotos do Ant:
Formiga Reprodução/X
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Formiga Reprodução/Instagram
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