Adek Berry
O Banco Central da China anunciou nesta terça-feira (24) novas medidas para estimular a economia, incluindo uma redução nos depósitos líquidos que os bancos devem manter como reservas e um corte na taxa básica de juros.
Quase dois anos depois do fim das medidas restritivas anti-Covid, a segunda maior economia do mundo ainda não arrancou, apesar das medidas adotadas pelas autoridades para estimular a atividade.
A recuperação pós-pandemia foi mais curta e menos robusta do que o esperado, prejudicada por uma crise imobiliária, uma taxa de consumo fraca e um elevado desemprego, especialmente entre os jovens.
Para tentar mudar a situação e atingir a meta de crescimento de 5% estabelecida pelas autoridades para 2024, considerada otimista pelos analistas, o Banco Central anunciou esta terça-feira uma série de medidas de estímulo.
A China “vai reduzir a proporção das reservas mínimas e da taxa de juro básica” das entidades bancárias e “cortar a taxa de juro de referência no mercado”, afirmou o presidente do Banco Central Chinês, Pan Gongsheng, numa conferência de imprensa em Pequim.
“A exigência de taxa de reserva será reduzida em 0,5 ponto percentual em breve para fornecer liquidez de longo prazo ao mercado financeiro de um trilhão de yuans” (mais de 140 bilhões de dólares, 775 bilhões de reais), disse Pan.
As autoridades também irão “reduzir as taxas de juro dos empréstimos hipotecários existentes e unificar o rácio de entrada dos empréstimos hipotecários”, acrescentou.
Isto “levará os bancos comerciais a reduzir as taxas de juro de vários empréstimos hipotecários existentes para os aproximar das taxas de juro dos novos empréstimos”, argumentou.
Segundo o presidente da instituição, a decisão “beneficiará 50 milhões de famílias e 150 milhões de pessoas”, reduzindo a fatura média anual de juros das famílias em quase 150 bilhões de yuans”, mais de 21 bilhões de dólares (116 bilhões de reais).
“Ajuda a promover a expansão do consumo e dos investimentos”, acrescentou.
– “Mais ousado que o esperado” –
As Bolsas de Valores de Hong Kong e Xangai reagiram positivamente aos anúncios e ambas fecharam a terça-feira com altas superiores a 4%.
A analista Becky Liu disse à agência de notícias económicas Bloomberg que as medidas foram “mais ousadas do que o esperado, com cortes nas taxas e reservas mínimas ao mesmo tempo”.
“Vemos espaço para uma flexibilização mais ousada nos próximos trimestres”, acrescentou Liu, diretor de estratégia macro para a China do banco Standard Chartered.
O analista Raymond Yeung, do banco ANZ, afirmou que as medidas anunciadas “estão longe do grande plano de recuperação” defendido por muitos especialistas. Ele destacou que a China “parece presa numa armadilha de liquidez”.
Nesse sentido, e para atrair mais capital, o Banco Central também anunciou um fundo de 500 bilhões de yuans (70 bilhões de dólares, 387 bilhões de reais), que empresas listadas na Bolsa de Valores e seguradoras poderão utilizar para comprar ações em a Bolsa de Valores.
O sector imobiliário foi durante anos responsável por mais de 25% do PIB da China, mas o sector tem enfrentado dificuldades sem precedentes desde 2020, quando as autoridades limitaram o acesso ao crédito para grupos imobiliários, com o objectivo de conter a sua crescente dívida.
Desde então, grandes empresas do setor, como Evergrande e Country Garden, entraram em crise e a queda dos preços dissuadiu os consumidores de investir em imóveis.
Pequim já anunciou várias medidas para reanimar a indústria, mas não conseguiu restaurar a confiança e os preços dos imóveis continuam a cair.
Além disso, o país também enfrenta a questão da elevada dívida das autoridades locais, que ultrapassa os 5,6 biliões de yuans (quase 800 mil milhões de dólares, 4,43 biliões de reais), segundo o governo central, o que alimenta receios de uma crise ainda mais ampla.
Na conferência de imprensa do Banco Central, o Diretor da Administração Nacional de Regulação Financeira, Li Yunze, disse que Pequim “cooperará ativamente para resolver os riscos da dívida do setor imobiliário e dos governos locais”.
“A indústria financeira da China, em particular as grandes instituições financeiras, opera de forma estável e os riscos são controláveis”, disse ele.
“Manteremos firmemente o objetivo de evitar riscos financeiros sistémicos”, acrescentou.