No dia em que o Banco Central confirmou o tom duro e somou-se à expectativa de que as taxas no Brasil deveriam permanecer elevadas por um período de tempo maior do que o esperado, o Ibovespa teve um dia de fortes ganhos. Por que? A resposta está na China.
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E isso não é uma metáfora. O governo chinês anunciou nesta terça-feira (24) seu maior pacote de estímulos à epidemia do coronavírus. O objetivo é reanimar a economia do país e tirar os preços da recessão.
Entre as medidas estão a redução das taxas de juro, empréstimos e hipotecas, medidas de investimento e estímulo ao mercado bolsista local, bem como outras iniciativas para melhorar o rendimento dos cidadãos e garantir o consumo.
A importância da China para o consumo de bens e para diversas empresas importantes em nossa bolsa explica a atitude positiva dos investidores e do Ibovespa hoje. Quem lidera a alta é a CSN, com alta de mais de 9%. Vale, CSN Mineração e Bradespar, empresa com maior investimento na Vale, também subiram mais de 5%.
As empresas petrolíferas também não ficam de fora. Brava Energia e Prio estão entre os melhores desempenhos do programa.
Ações anunciadas:
- O banco central da China reduzirá a taxa de juro de referência em 0,50 por cento, reduzirá as taxas hipotecárias em 0,5 pp e em 0,2 pp na taxa de recompra reversa de sete dias;
- Redução de 25% para 15% na entrada de segunda habitação;
- Criação de fundos de médio e longo prazo para compra de ações e estímulo ao mercado financeiro;
- Os empréstimos a bancos pequenos e médios aumentam a oferta de crédito.
Por que a China está destruindo o mercado de ações brasileiro?
Apesar do surto inicial com a notícia do estímulo, a Ativa Investimentos indica que ainda é cedo para entender o real impacto dos anúncios nas ações brasileiras. “A percepção de que o pior pode ter ficado para trás na China pode causar saídas significativas em ações intimamente ligadas ao país”, disseram analistas da casa.
E é isso que vemos hoje nos mercados do Ibovespa. As empresas exportadoras recebem um forte impulso com as notícias.
A forte economia da China – com ações voltadas diretamente para a construção – adora bens, especialmente aço.
A China é actualmente o maior consumidor mundial de matérias-primas, ajudando a controlar o preço de matérias-primas como o aço e o petróleo. Sozinho, o país representa cerca de 60% da demanda mundial. É a velha lei da oferta e da procura.
Enquanto o petróleo registrou alta de quase 2% esta tarde, o metal fechou com seu maior ganho diário em mais de um ano. Na Bolsa de Dalian, considerada a principal carteira, a alta foi de 4,64%, para US$ 99,19 por tonelada (R$ 535).
Com isso, a tendência é que as mineradoras e metalúrgicas – que têm grande peso no Ibovespa – impulsionem temporariamente a bolsa.
Quem está ganhando?
Muitos setores no Brasil estão expostos à economia chinesa: proteínas, agronegócio, materiais, papel e celulose, para citar alguns. Mas a tendência é que, neste primeiro momento, as mais rentáveis sejam as empresas ligadas à mineração e siderurgia, devido ao aumento do preço do minério.
Além da grande Vale, a CSN e a CSN Mineração se destacam pela exposição ao mercado chinês. Em seguida, temos a Usiminas.
O recente movimento ascendente moderado deve-se à menor participação nas empresas mineiras. Além disso, a siderúrgica tem um dia de recuperação após o JP Morgan divulgar ontem um relatório com duplo rebaixamento das ações da empresa: de compra para venda.
A Gerdau, maior produtora de aço da América Latina, tem operações no próprio centro do continente. No entanto, beneficia das flutuações dos preços do aço, que dependem fortemente da procura chinesa.
Embora seja uma holding de investimentos, a Bradespar prospera por ter grande parcela do capital investido na Vale – cerca de 3%. A empresa é uma opção para investidores que desejam exposição indireta ao setor.
A motivação será suficiente?
Para Richard Tang, analista de ações para a Ásia da Julius Baer, algumas das medidas anunciadas já são esperadas e terão impacto limitado sobre os investidores. Segundo ele, o mais surpreendente foi o programa de recompra de ações, o que é bom.
Porém, o gestor não acredita que os incentivos serão suficientes. Isto porque, para os analistas, as condições financeiras podem não ser o único fator limitante da economia.
“Acreditamos que, na realidade, a procura insuficiente (e o excesso de oferta), o sentimento interno negativo e os crescentes problemas financeiros e não financeiros estão a restringir o consumo e o investimento. Portanto, a redução da moeda anunciada terá pouco impacto no crescimento”, aponta Tang. no relatório.
No mercado chinês, Julius Baer espera um impacto inicial positivo nos primeiros três meses após a flexibilização, seguido de uma queda subsequente.
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Para os analistas da Ativa Investimentos, novos anúncios deverão ser feitos nos próximos meses na China. “As acções de hoje foram possíveis graças à redução da taxa de juro recomendada pelo FOMC na semana passada. A redução contínua da taxa de juro nos Estados Unidos pode contribuir para mais medidas como esta por parte do PBoC.”
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