Drew Angerer
A saída de Joe Biden, fervoroso defensor da concorrência em benefício dos consumidores, levanta dúvidas ao bilionário setor de fusões e aquisições de empresas nos Estados Unidos.
Biden nomeou Lina Khan para liderar a Comissão Federal de Comércio (FTC) e Jonathan Kanter como vice-procurador-geral, encarregado de reforçar a supervisão governamental destas operações e de considerar o seu impacto sobre os trabalhadores e outras empresas que tentam competir.
O sector afirmou que as medidas do actual governo aumentaram os custos destas transacções, enquanto Khan e Kanter insistem que evitaram negócios problemáticos.
Agora, o setor se pergunta o que acontecerá depois das eleições presidenciais de 5 de novembro e do fim do mandato de Biden, em janeiro.
O candidato republicano Donald Trump é visto como mais favorável a grandes operações deste tipo do que o seu rival democrata, a vice-presidente Kamala Harris.
“Há muita incerteza”, resumiu Harry First, professor da Universidade de Nova York.
Por exemplo, o companheiro de chapa de Trump, o senador JD Vance, elogiou o trabalho de Khan.
Uma vitória de Trump poderá ser “ligeiramente positiva a muito positiva” para o setor, estimou um banqueiro de Wall Street que pediu anonimato.
No entanto, alertou que o otimismo sobre uma mudança nas políticas de concorrência de Biden pode ser atenuado por preocupações sobre uma escalada na guerra comercial com a China.
– Cético –
Biden sempre foi cético em relação a transações que permitem a uma empresa adquirir ou fundir-se com outra. O presidente afirmou que muitas grandes empresas “devoram seus concorrentes”.
O presidente assinou um decreto em julho de 2021 que fortaleceu as regulamentações para evitar que as multinacionais “acumulem cada vez mais poder”.
Em agosto deste ano, o Google foi condenado por práticas anticoncorrenciais com o seu motor de busca, embora as investigações que levaram a esta sentença tenham começado durante a era Trump. Outras grandes operações prosperaram durante o mandato de Biden.
– Vantagens e desvantagens –
Um estudo publicado em 2023 por Ryan Quillian, ex-membro da FTC e atualmente advogado da Covington & Burling, destacou que a agência abriu menos ações judiciais sob a administração Biden do que durante administrações anteriores, mas isso se deve ao fato de que o discurso e o método “desencoraja” fusões e aquisições, como são conhecidas nos Estados Unidos.
As empresas consideram o risco de intervenção da FTC ou do Departamento de Justiça. “Não há dúvida de que os clientes pensam duas ou três vezes antes de fechar um negócio”, disse um banqueiro de Nova York.
O Conselho Americano de Investimentos (AIC), que promove investimentos no país, se opôs a uma proposta do governo Biden que visa obrigar as empresas a fornecer mais dados sobre as consequências de uma operação antes de lançá-la.
Esta iniciativa, ainda em estudo, “vai encarecer ainda mais estas operações” e terá impacto na economia, afirmou a AIC no final de Setembro de 2023, algo que, segundo eles, prejudicaria os próprios consumidores.
É incerto se esta iniciativa seguirá o seu curso após as eleições.