PEDRO LADEIRA
A expectativa é que o Banco Central do Brasil (BCB) mantenha, nesta quarta-feira (31), a taxa referencial Selic em 10,5% pela segunda reunião consecutiva, apesar dos repetidos pedidos de redução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A expectativa é praticamente unânime (…) portanto, a ideia é que para convergir para a meta ainda seja necessária uma taxa de juros naquele momento”, disse o economista Mauro Rochlin, coordenador acadêmico da Fundação Getúlio Vargas (FGV). AFP).
É o que prevê a maioria das 123 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo jornal Valor Econômico.
A inflação brasileira foi de 4,23% em 12 meses em junho, fora da meta, mas dentro da margem de tolerância (+/- 1,5 ponto percentual).
Segundo o último relatório Focus do Banco Central, publicado esta semana, o mercado espera uma inflação de 4,10% para 2024.
Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BCB interrompeu um ciclo de sete cortes consecutivos na taxa Selic e decidiu mantê-la em 10,5%.
Este indicador manteve-se inalterado em 13,75% durante um ano, até agosto de 2023.
A política de taxas elevadas implementada para conter o aumento dos preços torna o crédito mais caro e desencoraja o consumo e o investimento.
Desde que chegou ao poder em Janeiro do ano passado, Lula tem pressionado por um corte acelerado das taxas para impulsionar o crescimento económico.
O chefe do Executivo criticou o presidente do BCB, Rodrigo Campos Neto, a quem acusou em junho de trabalhar “para prejudicar o país”.
“Então, como pode um cara que se diz autônomo, presidente do Banco Central, se incomodar com o fato de os mais humildes estarem ganhando aumento salarial?”, questionou o presidente em entrevista coletiva com agências internacionais na semana passada.
“Então, independência de quem? Independência do povo? Independência dos interesses da população brasileira?”, questionou Lula.
– “Longe do gol”
Rochlin afirmou que “os números ainda estão um pouco distantes da meta, então isso sugere que ainda é necessária uma taxa de juros dessa ordem para que a trajetória da inflação seja mais benigna”.
A valorização do dólar em relação ao real, bem como a desconfiança do mercado na capacidade do governo de cumprir a meta fiscal, também influenciam a decisão, segundo analistas.
“Embora não sejam más notícias, estas taxas de juro de 10,5%” representam “uma restrição a um crescimento mais robusto”, considerou o economista, destacando que “ainda é um problema para o governo”.
O Executivo prevê um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, face a um mercado que prevê este índice em 2,19%.
A decisão do BCB coincide com a do Federal Reserve (Fed, banco central americano) sobre a taxa referencial dos Estados Unidos, que ficou entre 5,25% e 5,50% em junho, a maior desde o início do século e que deve permanecer inalterada nesta quarta-feira. .