Acessibilidade digital é um desafio para empresas na era ESG
COLOCAR BÁRBARA VETOS
Garantir a acessibilidade digital em sites, aplicativos e arquivos digitais requer estratégia e investimento em uma série de elementos que impactam a experiência do usuário. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 18,6 milhões de pessoas com 2 anos ou mais de idade com deficiência no Brasil – o que corresponde a 8,9% da população. Muitos deles continuam a sofrer as consequências da falta de acesso aos conteúdos publicados online.
De acordo com pesquisas Visão geral da acessibilidade digital
desenvolvido pela Hand Talk em parceria com o Movimento Web para Todos (WPT), a responsabilidade social é uma das prioridades da agenda ESG para 79% das empresas no Brasil. Porém, a acessibilidade digital ainda é um desafio para a maioria deles (54%) devido à falta de conhecimento sobre o assunto.
“A acessibilidade precisa ser vista como a base de um edifício. Quando iniciamos qualquer projeto precisamos nos preocupar com a acessibilidade”, explica Ronaldo Tenório, CEO da plataforma Hand Talk. Ele defende que, ao investir em recursos que garantam o acesso aos conteúdos digitais, todos se beneficiam, inclusive as pessoas que não possuem nenhuma deficiência.
O que é acessibilidade digital
A acessibilidade digital é um direito garantido pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, art. 63), sancionada em 2015. A legislação torna obrigatória a acessibilidade em sites mantidos por empresas com sede ou representação comercial no país ou por órgãos do governo.
Mas esta realidade ainda parece distante. “Temos uma das leis mais avançadas do mundo, o que falta é fiscalização”, diz Tenório. Um estudo realizado pela BigDataCorp em parceria com o WPT mostrou que apenas 2,9% dos 23,6 milhões de sites brasileiros passaram em todos os testes de acessibilidade. Os principais problemas concentram-se no preenchimento de formulários, links e imagens.
Benefícios e oportunidades em acessibilidade
Todos podem ter uma deficiência ao longo da vida. Pode se manifestar por meio de um relatório tardio, um acidente ou até mesmo pelo envelhecimento. Pensar em acessibilidade é também pensar no seu próprio futuro.
Para o CEO da Hand Talk, o tema também é uma oportunidade de negócio. “Se podemos ser exemplo em acessibilidade, por que só deveríamos ser acessíveis quando a lei assim o obrigasse?”, questiona. A profissional acredita que ser acessível torna tudo mais simples, prático, fácil, traz retorno financeiro e potencializa questões de diversidade e inclusão.
“Quando negligenciamos isso, perdemos a oportunidade de usar a comunicação a favor da organização com uma iniciativa que veio de dentro, e não por demandas externas”, afirma. “Quando as organizações forem melhor supervisionadas, compreenderão que, para o bem ou para o mal, precisam de ser acessíveis.”
Melhores práticas para tornar o conteúdo digital acessível
Vários problemas impactam a criação de conteúdo. Um dos primeiros passos é a legibilidade. A escolha da fonte e o espaçamento entre linhas podem dificultar a leitura e impedir o consumo igualitário das informações.
A boa construção da página também influencia nesse processo, pois o site precisa suportar o uso de tecnologias assistivas e funcionar de forma lógica para quem utiliza teclado ou leitor de tela para navegar. Além disso, é importante criar descrições nas imagens. São algumas alternativas inclusivas e simples que não exigem muito tempo e dinheiro das empresas, segundo Tenório.
Elza Albuquerque, CEO da consultoria Maria Inclusiva e uma das vencedoras do Prêmio Líderes em Acessibilidade, explica que outro ponto importante a ser considerado é o uso de uma linguagem simples, como frases curtas e mais objetivas, e o uso de palavras conhecidas. “Temos que buscar humanizar a nossa comunicação, para que ela seja não violenta e vá além das palavras e do que escrevemos.” A profissional afirma que a comunicação também se manifesta por meio de gestos e expressões e isso faz parte de uma linguagem acessível.
Além de sites e aplicativos, também podem ser acessados documentos digitais – como DOCs, PDFs e PPTs – e vídeos. Para documentos e PDFs, é importante que tenham contraste adequado, texto pesquisável e links com descrição, por exemplo. No caso dos vídeos, contar com legenda, audiodescrição, transcrição e intérprete de Libra garante maior acesso.
Tenório e Albuquerque defendem que essas soluções devem ser pensadas desde o início do projeto para que façam sentido. Adaptar depois de pronto dá mais trabalho e não traz os mesmos resultados.
Usando inteligência artificial para acessibilidade digital
O uso da inteligência artificial (IA) tem crescido com o desenvolvimento de novos recursos de tecnologia assistiva para acesso a diversos conteúdos e informações na internet. “A acessibilidade é urgente e precisamos de recursos tecnológicos para termos escalabilidade”, argumenta Tenório. “Estou muito otimista quanto ao futuro da IA para capacitar as pessoas com deficiência.”
Para conseguir isso, é necessário que mais pessoas com deficiência nas empresas atuem como tomadores de decisão, criando soluções para outras pessoas com deficiência. “O mundo é diverso, por que as empresas não podem ser iguais?” pergunta o CEO da Hank Talk. A inclusão desse público pode levar as empresas a uma nova etapa na jornada da acessibilidade.
Ao adotar essa perspectiva, a empresa passa a enxergar o assunto de uma forma diferente. Tenório diz que vê empresas começando do zero nos primeiros projetos. “O que eles precisam muitas vezes é de um empurrão inicial, de uma breve compreensão da importância do assunto.”
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