O trabalho análogo ao escravo ainda é uma realidade no país e seu impacto vai muito além das sanções legais aos empregadores envolvidos neste tipo de crime. Todo o setor acaba, indiretamente, sofrendo suas consequências. “Você não só mancha o setor por fora, mas, dentro do setor, quem cumpre todas as normas está sendo penalizado por explorar o seu trabalho”, afirma Antonio Carlos de Mello Rosa, ex-coordenador de programas da Organização Internacional do Trabalho ( OIT). ) e um dos maiores especialistas brasileiros no assunto.
A maioria das reclamações vem da agricultura. No ano passado, por exemplo, as vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi estiveram envolvidas em um grande caso desse tipo. Acabaram fechando acordo com o Ministério Público Federal para pagar cerca de R$ 7 milhões em remuneração a ex-funcionários
. Incidentes flagrantes em empresas fabricantes de roupas também ocorrem com frequência. Mas, segundo o especialista, em qualquer setor pode haver trabalho análogo ao escravo no Brasil.
Desde 2010, o cerco a estes maus empregadores e empresários foi, no entanto, encerrado. “A legislação internacional na área dos direitos humanos tem exercido pressão”, observa Antonio Rosa. “Há um aumento na legislação americana e europeia para o funcionamento das cadeias de abastecimento globais e isso está chegando ao Brasil.”
Projeto de lei em discussão
Além de um grupo interministerial que está, segundo ele, trabalhando na política empresarial e de direitos humanos nacional, há um projeto de lei no Congresso Nacional para criar também uma legislação nesse sentido. “Tudo isso tentando pressionar os setores produtivos a se adaptarem”, afirma.
Para o especialista, o trabalho análogo ao escravo é um problema não só para o mau empregador e explorador, mas também para a cadeia produtiva como um todo. Segundo ele, “é o mercado que estabelece a produção a um determinado limite de custo, sem levar em conta que esse limite muitas vezes não é suficiente para cobrir as despesas necessárias à garantia dos direitos e do bem-estar dos trabalhadores”.
A política de repressão é importante, mas não basta. Tanto as políticas públicas quanto as ações precisam avançar, segundo ele, na prevenção. “É preciso regulamentar o respeito aos direitos humanos nos setores produtivos como um todo no Brasil. Essa regulamentação precisa ser feita”, alerta Antonio Rosa.
Só há uma maneira de conseguir isso: o diálogo. “É preciso haver diálogo entre o governo, a representação dos trabalhadores e o setor produtivo para que possamos realmente avançar e ter no Brasil cada vez mais setores produtivos que se preocupem estruturalmente com a violação dos direitos humanos”, afirma. Disso depende o desenvolvimento económico e social do país.
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