Inclusão cultural de pessoas com deficiência: um compromisso urgente
No dia 21 de setembro celebramos o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, data simbólica para refletir sobre o papel da inclusão na sociedade. No mundo da cultura não é diferente: a inclusão de pessoas com deficiência é uma questão que exige ação imediata. Na Parnaxx o tema é prioridade.
Ao longo dos anos, aprendemos, melhoramos e trabalhamos incansavelmente para garantir que a cultura seja verdadeiramente acessível a todos. Cumprimos as exigências legais, mas vamos além: na criação do slogan do Festival de Curitiba – Um Festival para Todos; na contratação de pessoas com Síndrome de Down como recepcionistas de eventos; na disponibilização de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e audiodescrição nos espetáculos que promovemos. Na última edição (2024), entre Libras e audiodescrição, tivemos um total de 75 sessões acessíveis ao longo do festival.
Passamos a incorporar faixas voltadas ao público surdo na programação dos eventos, principalmente no Festival de Curitiba, como a Mostra de Teatro para Surdos, permitindo que essas pessoas desfrutem plenamente das apresentações. Promovemos também trabalhos que tragam histórias e o universo das pessoas com deficiência, para que possam encontrar, em arte uma linguagem que os represente.
Sabemos que podemos fazer ainda mais, pois a acessibilidade na cultura é o mínimo – um direito básico que deve ser universalmente incorporado. E vai muito além de traduzir para Libras. Acessibilidade envolve repensar espaços e adaptar experiências, para que todos possam estar plenamente integrados, pois, para muitas pessoas com deficiência, a simples possibilidade de participar de um evento pode ser um desafio.
Acreditamos, como instituição, que a cultura é um território democrático e que cada pessoa deve sentir-se parte dela, independentemente das suas limitações físicas, sensoriais ou cognitivas. E a verdadeira inclusão só acontece quando as pessoas com deficiência também são protagonistas, seja na plateia ou na produção, contribuindo para uma perspectiva mais inclusiva e plural, gerando novos diálogos e perspectivas.
Com o tempo, percebemos que mais do que oferecer oportunidades, é fundamental criar um ambiente em que o trabalho dessas pessoas seja valorizado, respeitado e visto como parte indispensável da criação cultural contemporânea. Um bom exemplo desse potencial foi visto na peça Hamlet, clássico de Shakespeare, escolhida para abrir o 31º Festival de Curitiba, em Teatro Guaíra.

A produção da companhia peruana Teatro de La Plaza, encenada e produzida por oito artistas, entre adultos e adolescentes, a maioria com Síndrome de Down, foi um sucesso aclamado por mais de dois mil espectadores no Guairão, entre artistas, empresários, imprensa e convidados. Emocionante, a peça transcende a linguagem cênica para se tornar uma plataforma de visibilidade do talento de pessoas neurodiversas.
Neste Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, nós, da Parnaxx, reiteramos nosso compromisso com a cidadania, permanecendo firmes em nosso propósito de criar espaços acessíveis, valorizando o consumo cultural inclusivo e ajudando a promover a presença de mais profissionais e criadores de arte com deficiência no mundo. Mercado cultural brasileiro. Propomos também lembrar a todos que a inclusão social é uma construção coletiva, que depende de ações concretas. Estamos empenhados em tornar a cultura um direito verdadeiramente universal. Afinal, a arte é feita por todos e para todos.

Fabiula Passini é diretora da Parnaxx e produtora cultural comprometida com a inclusão e acessibilidade no setor artístico.