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A Universidade Federal Fluminense (UFF) tornou-se a primeira instituição federal de ensino superior do Rio de Janeiro a criar cotas para pessoas trans – que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer – nos cursos de graduação.
A partir de 2025, 2% das vagas dos cursos de graduação serão reservadas para estudantes trans. A expectativa da universidade é que mais de 300 pessoas sejam beneficiadas com o ingresso no ensino superior no primeiro ano da política de ações afirmativas.
“A UFF fez história”, comemora a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Alessandra Siqueira Barreto, destacando que as discussões que levaram à aprovação das cotas são fruto da liderança estudantil e do diálogo com a gestão universitária.
“Foi um processo de escuta ativa. Os coletivos estudantis trans da universidade se movimentam para defender suas agendas e levar essa proposição à gestão. A minuta foi elaborada em conjunto e isso fortalece esse processo”, explica.
Nos cursos de pós-graduação de mestrado e doutorado, 18 cursos já reservam vagas para estudantes trans. Com a nova política, todos os programas deverão disponibilizar pelo menos uma vaga a partir do próximo ano.
Com sede em Niterói, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, a UFF conta com cerca de 66 mil alunos e nove campi no estado.
O reitor disse que será criado um painel de heteroidentificação para participar do processo de ações afirmativas, uma demanda dos coletivos. A heteroidentificação é um procedimento complementar à autodeclaração, que consiste na percepção de outras pessoas sobre a autoidentificação do candidato.
Estadia de estudante
Alessandra Barreto garantiu que a universidade manterá contato próximo com os estudantes trans para oferecer um acolhimento que sirva de escudo contra comportamentos preconceituosos e discriminatórios. Segundo ela, 50% das bolsas acadêmicas oferecidas são destinadas a todos os alunos cotistas.
“Não é só o ingresso. Precisamos criar protocolos de permanência estudantil agora”, afirmou o reitor.
Segundo a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Bruna Benevides, “a luta da organização vai além do ingresso nas universidades, defendendo a permanência e o sucesso acadêmico das pessoas trans”.
A associação pretende publicar, em breve, uma carta com orientações para a implementação destas cotas, abordando temas como políticas de segurança e permanência.
Mais universidades
O Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) é outra instituição que pode decidir criar cota para estudantes trans em cursos de graduação. Em agosto, o Rural, como é conhecido, divulgou um cronograma sobre o debate interno.
As outras duas unidades federativas do estado são a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Com a UFF, pelo menos 12 instituições federais de ensino adotaram política de cotas para a população trans. A mais recente a entrar na lista foi a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que comunicou a decisão no dia 11 de setembro.
A Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) já aplicou a reserva específica em 2018. Outras instituições são a Federal do ABC (UFABC), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Federal da Bahia (UFBA), Federal da Lavras (UFLA),
Federal de Santa Catarina (UFSC), Federal de Santa Maria (UFSM), Federal de Rio Grande (FURG), Federal de Rondônia (UNIR) e Federal de Goiás (UFG).
Em todo o país, o Lei 14.723/23 determina que as instituições federais de ensino superior reservem vagas para “estudantes pretos, pardos, indígenas e quilombolas e pessoas com deficiência, bem como aqueles que tenham concluído o ensino médio ou fundamental em escola pública”.