Flor, filha de Seu Jorge, lança primeiro disco: “É minha identidade”
Criado no berço de música , Flor filha do renomado cantor, compositor e multiartista Seu Jorge apresenta ao mundo seu primeiro EP, “Prima”. Lançado no início de setembro, o seu álbum de estreia reúne um conjunto de 7 músicas e é mais que um cartão de visita, é um mergulho profundo nas suas raízes e experiências. O trabalho de artista 21 anos, não se trata apenas de mera apresentação, mas revela o domínio de seu som e mostra que está pronta para seguir seu próprio caminho.
Por viver rodeada de muitas influências artísticas, a música sempre ocupou um espaço muito particular e arraigado em sua memória e, com o passar do tempo, começou a moldar diversas experiências que permearam sua infância e adolescência.
“D Desde bebê, quando as músicas tocavam, eu dançava de fralda. Minha mãe e meu pai disseram que eu cantava sozinho para poder dormir. É uma conexão muito forte. Sempre foi uma paixão extrema estar por perto [da música]. Meu jogo era estar na roda de samba ou assistir e aprender com as pessoas ao redor – sempre bebendo de várias fontes” .
Antes do lançamento do EP, Flor já havia colaborado com a renomada cantora Marisa Monte na música “Pra Melhorar”, música do álbum “Portas”. A melodia ganhou até um videoclipe que contou com Flor, Marisa e Seu Jorge.
Radicada nos Estados Unidos desde os 10 anos, a cantora conta que, durante a infância, cantava sobre suas experiências na escola, o processo de fazer novos amigos em outro país e sobre aprender um novo idioma. Ao mergulhar em novos hábitos e costumes, começou a ter novas fontes de inspiração. Artistas como Kendrick Lamar, A$AP Rocky e Tyler, o Criador são algumas das referências que Flor, como fã e como artista, também agregou ao seu processo criativo.
Toda a dinâmica de estar imersa em duas culturas com línguas e formas de comunicação diferentes serviu de gancho para ela se expressar. “O português tem uma poesia que é muito própria, tem coisas que não consigo traduzir para o inglês. Gosto de usar esse lado da poesia brasileira.”
Portanto, “Prima” não se limita a um único estilo musical. O EP é uma mistura de ritmos e sensações, reflexo da união de diferentes culturas musicais. A sonoridade do álbum transita entre o R&B, o jazz, o pop e até nuances da música asiática, destacando a riqueza de referências que compõem a sua identidade artística.
Essa imersão sensorial é perceptível na construção das pistas. Em ” Uma pedaço “, por exemplo, ela se inspira no famoso anime japonês de mesmo nome, e fala sobre sua relação com a espiritualidade em um ritmo mais tranquilo. Já em “ Alquimista “, explora melodias introspectivas, convidando o ouvinte a uma viagem interior em busca de significado e propósito.
“ À beira da piscina “, por sua vez, demonstra a influência brasileira na construção da sonoridade de Flor. A música incorpora a técnica de repetição de versos, a percussão de “Pretinho da Serrinha” e até notas de saxofone. A música foi feita freestyle em um momento de descontração entre Flor e as amigas Ayush e Teo’ma, enquanto aproveitavam um dia na piscina.

Confira a conversa completa que a Bravo! teve com a cantora:
Você começou a se apresentar muito jovem ao lado de seu pai. Como essas primeiras experiências moldaram sua relação com a música? Como foi o processo de se apaixonar pela música?
Nem sei como explicar como tudo começou. Nasci no berço da música, desde bebê tocavam músicas e eu dançava de fralda. Minha mãe e meu pai disseram que eu cantava sozinho antes de falar, para poder dormir. É uma ligação muito forte, mais vívida e mais intensa que tenho em relação a arte natureza, música. Fazer shows desde pequeno é uma escolha que eu queria fazer. Eu queria que as pessoas me abraçassem. As pessoas me abraçaram e eu falei: ‘Por que só consigo cantar uma?’. Sempre foi uma paixão extrema minha. Meu jogo era estar na roda de samba ou observar e aprender com as pessoas ao meu redor – e sempre beber de várias fontes.
E só piorou [risos]. Estava crescendo. Ao me tornar adolescente e adulto, criei meu próprio caminho. Encontrar meu tom, o que gosto em uma música. O que faz uma música chamar minha atenção. É nisso que estou focando no momento. É uma pergunta que faço hoje. Quando ouço uma música, pinto uma pessoa. Sou muito visual, gosto de videoclipes, filmes, imagino que cada personagem seja criado com sua história, cheiro, sabor. Eu invento isso na minha cabeça e quero incluir esses elementos.
Espero incluir esses elementos na minha música também. E quanto mais me torno adolescente, adulto e assim por diante, vou criando meu próprio caminho e vou descobrindo minhas músicas, meu tom, o que gosto em uma música, o que faz uma música chamar minha atenção.

O que o público pode esperar do EP “Prima”? Como foi o processo criativo de trabalhar com seus amigos Ayush Garg e Mateo Pitkin na composição das faixas?
Cada faixa é uma música, evento e gênero diferente. Existe a possibilidade de a pessoa não gostar de duas músicas, por exemplo. Cada uma dessas faixas é um personagem e representa um momento diferente da minha vida, 19, 20, 21 anos.
Em relação às parcerias, são todos meus amigos. As pessoas vêm na minha casa, tiram uma soneca no sofá, depois jogamos videogame, aí o Ayushi pega um violão, começa a tocar e eu canto alguma coisa. Eu, Ayushi e Teo’ma sentamos juntos e fizemos uma música chamada NG4F, que também está no EP, é a quinta faixa. E esse foi o começo de tudo para nós.
Tenho sorte de trabalhar com muitos amigos. Todas essas parcerias são amigos, tios, familiares. Acho que é muito importante ter uma amizade verdadeira. Todo mundo vem de um lugar diferente que influencia. Flor é brasileira, a melodia tem um pouco do Brasil, a letra é em inglês, tem tabla, que vem da Índia, tem um pouco do Equador, do Chile. Não se trata apenas do Brasil e dos Estados Unidos. É sobre diferentes culturas.
Como você define sua identidade artística no início da carreira? E como você vê essa identidade evoluindo no futuro?
É a primeira vez que estou mostrando um pouco mais. “Prima” é um projeto que mostra todas as possibilidades do que posso fazer em termos de letra, melodia, conceito, ideias. Cada música tem um gênero diferente. Eu posso fazer muitas coisas. Não estou fixado em apenas um tipo de música. Não bebi de tantas fontes musicais para poder fazer apenas um tipo de música. Gosto de falar sobre meu relacionamento com Deus ou sobre um gatinho de outro país que sinto muita falta.

Você mencionou que tende a criar muitas músicas em estilo livre e deixar o processo fluir. Você pode contar a história por trás de algum dos singles?
Durante a pandemia passamos a semana inteira sozinhos, e no final de semana, de quinta a sexta, todos fazíamos testes de Covid e se desse negativo, fazíamos um mini fim de semana coletivo. Um dia o Rogê, que é amigo do meu pai, um músico maravilhoso que ainda mora em Los Angeles, passou os dias lá. Cantamos enquanto grelhamos peixe.
Uma dessas vezes convidei outro amigo meu para fazermos música juntos, o nome dele é Quizz, bem mais novo que eu, muito talentoso em produção musical. batidas e contava com um mini estúdio, uma interface e dois alto-falantes. E meu amigo fez a batida e chamamos o Rogê para construir também. Foi tudo um pouco improvisado. Fizemos as vozes depois, fui ao Brasil com essa música e me encontrei com o Lucas Nunes, que é outro mágico e ele limpou bastante a pista e conseguimos alimentar mais a produção. Obviamente não podemos ignorar a presença do maestro [Arthur] Verocai. Foi assim que nasceu a Macumbeira, num domingo tranquilo.
Vindo de uma família muito envolvida com arte, como é o apoio deles em relação à sua carreira musical? Você tem alguma colaboração futura ou apresentação especial planejada?
Se tiver apresentação especial, não foi combinado previamente, a não ser que eu esteja abrindo o show para o meu pai, que já aconteceu no inverno do ano passado, no show com Daniel Jobim. Foi meu primeiro show no Brasil, em São Paulo. Mas não estamos planejando coisas juntos. Minha mãe está sempre ao meu lado, ela me ajuda com fotos, vídeos e ideias, mas cada um faz o que quer. Às vezes mostro as músicas para o meu pai e ele só dá conselhos quando eu peço, mas eu também não peço muito. [risos]. Gosto de ter meu espaço. Ele me apoia muito e também respeita meu processo criativo.

Qual foi o melhor conselho que seu pai lhe deu em relação à sua carreira?
Divirta-se – e isso vale para qualquer coisa. Quando você estiver fazendo uma música e não souber para onde ir, divirta-se. Se você está nervoso para um show, dê uma olhada na sua banda e divirta-se. Se você sentir que um verso ou refrão não está funcionando, divirta-se com ele. Mudar. Música e arte não são limitadas. Não existem regras e não existem instruções passo a passo. Claro que existem técnicas, mas temos sempre que lembrar de não nos sentirmos presos ao fazer arte. Para mim isso é muito importante.
Por fim, tem alguma mensagem que gostaria de deixar para a Flor do futuro?
‘Flor, e o Coachella, você conseguiu?’ [risos]. Estou fazendo de tudo e muito mais para chegar a um lugar onde possa olhar para minha carreira e sentir que fiz tudo o que queria. Espero que no futuro haja mais projetos cheios de desejo, vida e luz, e cada vez mais em palco. Adoro cantar ao vivo, assistir música ao vivo, sentir a energia do público e do palco, e vice-versa, é espiritual. Espero continuar fazendo minha música sendo honesto comigo mesmo, sempre sendo muito criativo e me divertindo.