Mari Ferrer volta às redes com declaração contundente: ‘morta viva por dentro’
O
Caso Mari Ferrer ficou amplamente conhecido em 2018, após a jovem denunciar ter sido vítima de estupro em uma boate de Florianópolis, e também pela forma como o crime foi posteriormente tratado pela Justiça. Depois de algum tempo afastada das redes sociais, Mariana publicou, no último domingo (15), um comovente depoimento em vídeo em sua conta do Instagram.
Na postagem em forma de carta aberta para si mesma, a jovem mineira diz que, mesmo seis anos depois do crime, as lembranças ainda geram sofrimento e dor. “Ainda assim eu senti. Eu mesma, aquela menina anos atrás, senti sua dor, sua solidão, seu desespero, sua tristeza poderosa”, declara sobre como o trauma ainda está presente em sua vida. Ela diz que o gatilho pode vir através de um tema, um cheiro ou certas palavras que o levam de volta no tempo. “As escadas escuras, a amnésia temporária, os meus gritos de socorro em vão”, descreve algumas das memórias dolorosas.
O caso Mari Ferrer
Em dezembro de 2018, quando ocorreu o crime, Mari Ferrer, que era modelo e influenciadora digital, tinha 21 anos e morava em Florianópolis. Ela denunciou à Polícia Civil que havia sido estuprada em um famoso clube de praia de Santa Catarina, chamado Café de La Musique. Ela era embaixadora da casa e estava lá a trabalho, para “gravar o anúncio de verão”. As investigações policiais identificaram André de Camargo Aranha, comerciante, na época com 41 anos, como o autor do crime.
Além da denúncia oficial, Mari também denunciou a violência nas redes sociais na época e disse que chegou a pedir ajuda às pessoas que estavam com ela naquela noite, mas ninguém a ajudou. A jovem ainda publicou conversas com duas pessoas que estiveram com ela na noite da violência. Após o desabafo, Mariana recebeu apoio de influenciadores e artistas, além de comentários de advogados dispostos a ajudar no processo de investigação. Na época, ela falou sobre a dificuldade de ficar ainda mais exposta, mas disse que precisava dessa repercussão para conseguir justiça.
O julgamento em 1ª Instância ocorreu em setembro de 2020 e quem deu o martelo foi Rodson Marcos que não trabalha mais na Vara Criminal. Meses depois, Henrique Ávila, membro do Conselho Nacional de Justiça abriu denúncia multidisciplinar contra Rudson. Segundo ele, a atitude do juiz durante a audiência foi chocante e contribuiu para humilhar a vítima.
Na audiência, que na época viralizou na internet, Cláudio Gastão da Rosa Filho advogado de André de Camargo Aranha, tem discursos questionáveis e machistas em diferentes momentos, e chega a dizer que “graças a Deus não tive uma filha como a Mariana”. O juiz Rudson Marcos demora a intervir, dando ao homem voz de poder. Em setembro de 2021, a absolvição foi mantida pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) em segunda instância.
Após a repercussão do caso, em 2021, o Mariana Ferrer Law contra a humilhação de vítimas de violência sexual em audiências. Nós, da CAPRICHO, reportamos todo o caso. Você pode ler mais sobre isso aqui .
Seis anos depois, Mariana diz, no vídeo recente, que ainda caminha em direção a essa justiça, “mesmo que isso lhe custe tudo: a juventude, o tempo, as amizades, os relacionamentos e os sonhos”. O processo criminal (de estupro de vulnerável) aberto por ela está em fase de recurso nos Tribunais Superiores.
Hoje, aos 27 anos, Mariana estuda Direito e estagia no Ministério Público de Minas Gerais. Em um artigo publicado pelo órgão público onde trabalha, a mãe da jovem conta que há uma Mari antes do crime e outra depois.
“Ela era uma menina sonhadora, feliz e sociável, mas tudo isso muda depois de ser drogada e estuprada em 2018. Ferrer se fecha para o mundo e mesmo quase 6 anos depois do crime, ela vive reclusa em casa, estudando e estagiando em totalmente virtual”, diz a mãe, que acrescenta que a menina foi diagnosticada com síndrome do pânico, estresse pós-traumático, fobia social, terror noturno e depressão.
O texto revela ainda que Mariana mora apenas com os familiares mais próximos, “enquanto se esforça passo a passo para superar os efeitos traumáticos da violência sexual e dos inúmeros outros crimes que sofreu durante a busca pela condenação de seu algoz e, assim, aos poucos. pouco, recupere, sua vida perdida.
“Ele sonha que, com a sua futura profissão, possa proporcionar a todas as vítimas de crimes contra a dignidade sexual o acolhimento e a proteção que antes não tinha, mas que agora tem”, conclui.