Dos bastidores ao cenário global: Miranda Lebrão representa a drag brasileira
P
quando Miranda Lebrão
apresentou-se ao público pela primeira vez, na primeira temporada de
Drag Race Brasil
a palavra que ela escolheu para definir sua trajetória foi “possibilidade”. Agora, em sua participação no
Todas as estrelas globais
a sensação é de conquista.
A drag queen carioca foi uma das finalistas da versão brasileira do reality show, comandado por Rainha Grag
e agora enfrenta um novo desafio: competir ao lado de outros 11 participantes, cada um representando seu país, em uma verdadeira Drag Olympics. Ah, e tudo isso na frente da própria RuPaul, ok?
“Para mim é uma honra ser a primeira RuGirl brasileira desta franquia depois de 17 anos”, revela Miranda em entrevista exclusiva ao CAPRICHO
. “Recebi um conselho de RuPaul: ‘Seja ruim naquilo em que você é ruim, mas seja realmente bom naquilo em que você é bom.’”
As origens de Miranda Lebrão são tão multifacetadas quanto a sua carreira. Com uma formação que vai do teatro à engenharia naval, o drag surgiu como uma forma de se reconstruir e se redescobrir. “Já passei por períodos muito autodestrutivos e precisava fazer algo por mim. Drag e teatro me ajudam a me sentir bem e, obviamente, a ter um ótimo desempenho”, conta ela. “Estou tão feliz que decidi fazer drag, olha onde cheguei.”
Chegar ao TOP 4 do Drag Race Brasil foi uma conquista significativa, mas sua trajetória no programa foi mais do que uma simples competição. “Minha intenção era me apresentar ao Brasil da melhor forma possível, sem saber exatamente como seria a exposição ou a ordem dos desafios. É um jogo onde você deve confiar na sua habilidade, no seu talento e na sua sorte. Chegar à final foi uma meta pessoal alcançada”, afirma.
O salto para Global All Stars representou uma nova oportunidade de brilhar, apesar dos desafios e da pressão. A preparação para a nova temporada envolveu um esforço enorme, tanto em termos de habilidades como de preparação mental. Miranda menciona que o tempo era curto e as cobranças eram maiores.
Foi um surto coletivo, parece que o mundo se tornou um grande corredor. Foi uma preparação mental entender que essa era minha oportunidade e minha recompensa por mais de 10 anos de trabalho
explica Miranda Lebrão
Para ele, o maior desafio foi adaptar seu raciocínio rápido e seu timing de humor ao mudar de idioma. Sobre trabalhar com drag queens de diferentes culturas e verdadeiros titãs da realidade, como a norte-americana Alyssa Edwards
o carioca acredita que isso teve um grande impacto, mas que “eles temiam mais Miranda do que Miranda os temia”.
“Eles sabiam da força que existe no Brasil quando ele está atrás de você. O Brasil é um país continental e eles foram muito espertos em vir me conhecer.”
revelou Miranda sobre seu relacionamento com as outras rainhas.
Assim como nos Jogos Olímpicos, a união do Brasil e das Filipinas esteve presente e Miranda destacou sua relação com as filipinas Eva LeQueen
que aprendeu a dizer “irmã” em português e usa o vocativo para se referir ao carioca até hoje.
O encontro com RuPaul foi um momento de emoção e adrenalina. “Eu estava nos bastidores, pensando que era legal, mas quando vi RuPaul, meus joelhos começaram a bater e minha perna ficou bamba. Acompanho esse programa internacional há quase 20 anos e cabia a mim ser o primeiro brasileiro à frente dele”
lembrar.
Os dois primeiros episódios, que chegaram nesta sexta-feira (16/09) no Uau Presente Plus
e no dia 20 de setembro às Paramount +
trouxe uma interação entre RuPaul e Miranda que já está viralizando nas redes: o apresentador brincando com o nome do carioca e acrescentando novos sobrenomes.
“Adoro cada vez que ela fala meu nome, ela fica colocando um monte de nomes no meio, porque é mais fácil ela falar um nome enorme do que conseguir dizer Lebrão. É realmente algo que está fora da fonética deles”, disse ela.
Foi assustador e incrível criar esse relacionamento com a maior drag queen do mundo
Miranda Lebrão em RuPaul
Quando o assunto é brilho e ousadia das drag queens brasileiras, Lebrão não hesita: “Não temos medo. Não temos medo do ridículo, do julgamento, do erro e de tentar mais uma vez. Somos destemidos, insistentes e habilidosos. Não temos medo da precariedade ou do sucesso.”
Miranda, que vê o drag como um serviço vital para a comunidade, oferece alguns conselhos valiosos para quem está começando: “Entenda o que é a sua comunidade”. Ela acredita que o segredo para uma trajetória de sucesso é saber o que representa a sua presença.
Drag é, antes de qualquer glamour, um serviço que prestamos à comunidade para lembrar quem somos e quais são as nossas lutas.
Miranda Lebrão
Além de seu impacto na competição Global All Stars, a drag queen está comprometida com causas sociais cruciais. Ela luta contra as terapias de conversão sexual, afirmando com firmeza: “Se a sua fé for praticada para gerar traumas e vergonha, lutaremos de frente, sim.”
Miranda, que superou essas práticas, está empenhada em garantir que a dignidade e os direitos da comunidade sejam respeitados.
Além do Global All Stars, Miranda Lebrão se prepara para uma turnê pela América Latina, uma turnê pela Europa e seu primeiro show solo. Para mim, não há nada mais lindo e emocionante do que dizer que uma drag queen de teatro poderá levar ao palco seu próprio espetáculo”, finaliza.