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Cerca de 722 mil pessoas compareceram à 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada entre os dias 6 e 15 de setembro, no Bairro Anhembi, Zona Norte da capital paulista.
Considerada mais plural e diversificada que as edições anteriores, a edição de 2024 contou com a presença de centenas de autores. Entre os destaques internacionais estava Hwang Bo-reum Autor sul-coreano de Bem-vindo à Livraria Hyunam-Dong publicado pela Intrínseca.
Em sua primeira visita ao Brasil, ela ficou encantada com o carinho dos leitores. “Nunca imaginei vir para o Brasil, porque é muito longe de onde moro. Agora, conhecendo meus leitores brasileiros, sinto-me imensamente grato pelo convite. São memórias que levarei comigo para o resto da vida”, disse o autor. CAPRICHO .
Seu romance de estreia se tornou um fenômeno, com 250 mil cópias vendidas na Coreia do Sul em apenas um ano e direitos adquiridos em mais de 20 países — um sucesso inesperado para Bo-reum.
“Eu não esperava todo esse sucesso, principalmente por ser meu primeiro romance. Quando terminei de escrever, perguntei a mim mesmo: ‘É bom o suficiente para ser lançado?’ O efeito foi primeiro entre os leitores sul-coreanos e depois se espalhou pelo mundo. É uma surpresa maravilhosa ver tantas pessoas gostando do meu livro. Ao mesmo tempo, estou tentando lidar e passar por esse momento de fama repentina com muita calma e tranquilidade, sem me envolver muito”, disse.
O enredo de Bem-vindo à Livraria Hyunam-Dong contribuiu muito para o sucesso. O livro conta a história de Yeongju, uma jovem desiludida que decide abandonar tudo para realizar o sonho de abrir uma livraria. A nova rotina, repleta de autodescobertas e encontros com clientes em busca de livros, café e conforto emocional, conquista os leitores.
A trajetória de mudança de carreira de Yeongju reflete a experiência da própria autora, que, formada em ciência da computação, trabalhou como engenheira de software na LG Electronics antes de se dedicar à escrita.
“Enquanto escrevia, não percebi a semelhança com minha própria vida. Só depois da publicação, em conversas com os leitores, percebi que todos os personagens, de alguma forma, passaram por desvios em suas trajetórias, assim como eu”, disse ela.
A maioria dos leitores são mulheres e há muito tempo que vivenciam o mundo a partir da perspectiva de autores homens. Agora, elas exigem experiências e sentimentos expressos por outras mulheres, e essa demanda está moldando o panorama literário atual.
Hwang Bo-reum
O livro também faz parte de um gênero conhecido como ficção de cura, ou ficção de cura especialmente popular em narrativas quase sempre asiáticas. Essas obras abordam histórias leves, ambientadas em locais acolhedores, como cafés e livrarias, e trazem lições de vida.
“No começo eu não conhecia esse gênero. Somente depois que o livro foi lançado os leitores começaram a classificá-lo como tal. A princípio pensei que fosse algo mais restrito à Coreia, mas depois percebi que essa busca por conforto é global, principalmente depois da pandemia da Covid-19. No meio de tantos conflitos políticos e sociais, as pessoas procuram mensagens de conforto e os livros têm sido uma forma de encontrar esse alívio”, explicou.
Satisfeito com o crescente interesse em Livros coreanos no Brasil Bo-reum observa que muitos deles também foram escritos por mulheres.
“Antes, o K-pop, os K-dramas e a literatura coreana eram consumidos principalmente pelo público local. Agora, isso é cruzar fronteiras. Além disso, a importância das mulheres na literatura coreana está a tornar-se cada vez mais evidente. Há dois anos, a maioria dos premiados eram homens, mas agora quase todos são mulheres. Acredito que isso reflete uma mudança no mercado. A maioria dos leitores são mulheres e há muito tempo que vivenciam o mundo a partir da perspectiva de autores homens. Agora, elas exigem experiências e sentimentos expressos por outras mulheres, e essa demanda está moldando o panorama literário atual.”