Ei, você que está sempre envolvido em lutas e quer mudar o mundo, já parou para pensar quem está por trás dos acordos que movem o planeta? Então vou te contar um segredo: a igualdade de gênero, se deixarmos como está, só vai acontecer por mais de um século! E você sabe que não é só isso: o Brasil e o mundo enfrentam muitas outras questões urgentes, como
mudanças climáticas
o futuro do mundo do trabalho e a busca pela igualdade racial.
Entender esses desafios é super importante para pensar em soluções. A boa notícia é que existe um grupo incrível de jovens, do qual faço parte, lutando para que isso mude, chamado Juventude 20, ou Y20, abreviadamente. E sim, estamos sentados à mesa com grandes líderes globais para discutir estas questões, representando tantos jovens como você que estão me lendo agora!
Para contar um pouco como isso está acontecendo, vamos apresentar alguns dados. Em 2024, de forma inédita, o Brasil assumiu a presidência do G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, abrangendo os cinco continentes e representando 80% do PIB mundial e dois terços da população global. E quem pensa que a luta pela igualdade de género está no lado oposto das discussões económicas globais está enganado.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a discriminação baseada no género gera perdas de 6 biliões de dólares para a economia mundial, uma vez que as desigualdades entre homens e mulheres persistem mesmo nos países mais ricos do mundo. Se continuarmos no mesmo ritmo, a desigualdade entre homens e mulheres só será superada em 2154, segundo o Fórum Económico Mundial. É hora de admitir o óbvio: Só será possível mudar esse cenário com políticas públicas eficazes, construídas com muita participação social, ouvindo as mulheres e as populações mais afetadas pelos desafios globais
.
Portanto, o Y20 foi criado para garantir que as vozes dos jovens dos países do G20 possam influenciar a política internacional. Este ano, o Brasil escolheu cinco jovens para representar nossas demandas e construir propostas para o futuro que queremos. E ser colocado na posição de negociar em nome dos jovens foi uma experiência transformadora. Durante meses, falámos com jovens de mais de 20 países sobre temas cruciais como as alterações climáticas, o desenvolvimento sustentável, a transição energética, a inovação, o futuro do trabalho, a reforma do sistema de governação global, a inclusão e a diversidade, bem como a luta contra fome, pobreza e desigualdade.
Como jovens mulheres negras num país onde enfrentamos desafios diários para que nossas vozes sejam ouvidas e nossos direitos respeitados, estar numa mesa de negociações onde os destinos do mundo são decididos é carregar conosco as histórias de tantas mulheres negras que vieram antes de nós e tantas meninas que sonham em transformar suas realidades. É honrar o passado, transformar o presente e construir o futuro. É a prova viva de que podemos romper barreiras históricas e ocupar espaços que, durante muito tempo, nos foram negados.
É uma oportunidade para mudar esta realidade, para abrir portas a outras mulheres e meninas que virão depois de nós, mostrando que é possível, que a nossa voz importa e que temos o poder de fazer a diferença.
Somos a geração que está conectada, que entende a urgência das questões ambientais, sociais e econômicas que o Brasil e o mundo enfrentam. Não podemos mais esperar que as mudanças venham de cima para baixo. Nossa presença na política é uma forma poderosa de desafiar estruturas opressivas e mostrar que as mulheres jovens não estão apenas preparadas para liderar, mas que somos essenciais para a construção de um Brasil mais democrático, justo e igualitário. Não haverá futuro inclusivo, sustentável e diverso sem a participação ativa das mulheres negras nesta construção.
estar numa mesa de negociações onde se decidem os destinos do mundo é carregar conosco as histórias de tantas mulheres negras que vieram antes de nós e de tantas meninas que sonham em transformar suas realidades
Os resultados destas negociações são o resultado de uma luta colectiva e incluem apelos ao empoderamento económico das raparigas e mulheres; garantir os direitos dos refugiados e migrantes, incluindo os refugiados climáticos; acesso à saúde mental; inclusão e empoderamento digital; programas de alimentação escolar; educação de qualidade; e cuidados de saúde acessíveis a todos como direitos fundamentais.
A natureza diversificada das propostas que criamos em conjunto demonstra como os jovens estão interligados e carregam agendas interseccionais entre si. Não basta falar “só” de juventude, falemos também de empoderamento económico, ambiente, desigualdades, segurança alimentar e assistência humanitária. Exigimos trabalho digno, cidades com infraestrutura resistente a desastres, acesso a tecnologias de descarbonização, restauração ambiental e fim do desmatamento, além da proteção dos territórios indígenas e étnico-raciais, transição energética, empregos verdes e educação ambiental.
Queremos uma verdadeira participação social e uma boa vida para todos os organismos. Exigimos a inclusão dos jovens nas instituições governamentais e intergovernamentais, o fim do colonialismo em todas as suas formas e manifestações, a luta contra todas as formas de violência contra as raparigas e mulheres, garantindo espaços seguros; uma educação que respeite as perspectivas indígenas e combata o racismo; a promoção da dignidade menstrual e o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva.
É urgente que os líderes políticos do G20 se comprometam a combater todas as formas de discriminação e racismo, nomeadamente através de políticas contra o discurso de ódio; a inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência e a representação política de meninas e mulheres. E ligados às exigências dos jovens de todo o mundo, apelamos também à resolução dos conflitos globais e a um cessar-fogo em Gaza, um conflito em que as crianças e as mulheres são as principais vítimas.
Essas e outras demandas precisam ser prioridade na construção de políticas públicas eficazes no combate às desigualdades. Como jovens, acreditamos no poder dos jovens para transformar o mundo e sabemos que precisamos de agir agora, com coragem e determinação, para criar o país que queremos para nós e para as gerações futuras. Para as meninas negras que olham para o futuro, saibam que nosso lugar é onde quisermos estar, inclusive em espaços de poder, pois cada uma de nossas conquistas é uma vitória para todas.
*Mahryan Sampaio
é delegado brasileiro do Y20 para o tema Mudanças Climáticas, Transição Energética e Desenvolvimento Sustentável, Ativista e Diretor do Instituto Perifa Sustentável.
*Daniela Costa
é delegada brasileira do Y20 para o tema Inclusão e Diversidade e Gerente de Rede e Advocacy da Girl Up Brasil.