Chris Taggart
Os tratamentos de nova geração contra a obesidade, que se tornaram muito populares em poucos anos, não são “medicamentos milagrosos” e “nunca devem ser tomados por razões estéticas”, alerta Svetlana Mojsov, uma das cientistas que permitiu o seu desenvolvimento.
Ao lado de outros dois pesquisadores, Joel Habener e Lotte Bjerre Knudsen, Mojsov recebeu nesta quinta-feira (19) o prestigiado Prêmio Lasker, muitas vezes considerado um prenúncio de um possível Prêmio Nobel.
O trio contribuiu para a revolução no tratamento da obesidade, uma doença crónica e uma verdadeira crise para a saúde pública, contribuindo para a descoberta e desenvolvimento de medicamentos que permitem uma perda de peso significativa.
Ozempic, Wegovy, Mounjaro, Zepbound: prescritos para combater a obesidade ou diabetes tipo 2 (hiperglicemia frequentemente associada ao excesso de peso), estes tratamentos ganharam tanta popularidade que agora estão a ser usados por algumas pessoas para perder alguns quilos “extras”.
“O grande sucesso é conseguir tratar a obesidade e é nisso que devemos nos concentrar”, insistiu o cientista de 76 anos.
Em entrevista à AFP, o químico e também premiado Joel Habener destacou as décadas de pesquisas necessárias para o seu desenvolvimento.
“Quando você é pesquisador, sonha em descobrir algo que ajude as pessoas”, disse, comemorando que os avanços contribuem para a compreensão de que “a obesidade é uma doença metabólica e não um problema de força de vontade”.
– Descoberta ocasional –
A eficácia desses novos medicamentos se deve a uma descoberta: eles simulam um hormônio secretado pelo intestino, chamado GLP-1.
Habener, endocrinologista do Massachusetts General Hospital, foi o primeiro a detectar a sua existência, inicialmente em peixes, em 1982.
Mojsov, por sua vez, identificou a sequência ativa do GLP-1, demonstrando sua presença no intestino e sintetizando uma forma pura.
Verificou então, em colaboração com outros, que esta hormona estimula a secreção de insulina pelo pâncreas, ajudando a reduzir os níveis de glicose no sangue.
Logo, ele ficou “convencido” de que “seria um bom tratamento para o diabetes”.
Mas naquela época ninguém suspeitava da sua utilidade contra a obesidade. “Realmente não tínhamos em mente a perda de peso” porque a obesidade não era um grande problema, diz Habener, 87 anos.
Além disso, na década de 1980 “não havia evidência científica de que os hormônios regulassem o peso”, acrescenta Mojsov, professor associado da Universidade Rockefeller.
Foi apenas por acaso que, durante a realização de grandes ensaios clínicos, os cientistas notaram que os pacientes estavam perdendo peso. Aos poucos, eles entenderam que o GLP-1 retarda o esvaziamento do estômago, mas também atua no cérebro, influenciando na sensação de saciedade. Uma descoberta decisiva.
– Outros benefícios –
As empresas farmacêuticas estão assumindo rapidamente o controle.
Na Novo Nordisk, a pesquisadora Lotte Bjerre Knudsen está tentando fazer com que o GLP-1 dure mais do que alguns minutos no corpo com técnicas que visam fazê-lo durar primeiro um dia e depois uma semana.
Os demais laboratórios continuam no mesmo caminho.
A americana Eli Lilly desenvolveu uma molécula que combina o GLP-1 com outro hormônio gastrointestinal que, segundo Svetlana Mojsov, poderia limitar os efeitos colaterais.
“Podemos chegar a uma nova geração” que combina diferentes hormonas, afirma o premiado cientista, acrescentando que “Ozempic não é necessariamente a solução final”, mas “abriu caminho”.
Uma das moléculas já foi autorizada contra acidentes cardiovasculares e estão sendo desenvolvidos estudos para tratar apneia do sono, vícios, doenças renais e hepáticas ou mesmo doenças neurodegenerativas (Parkinson, Alzheimer).
Para Mojsov, o GLP-1 abre caminho para a ideia de que um medicamento não está reservado para uma única doença.
“Até agora falávamos de um medicamento para cada doença. Hoje vemos que o GLP-1 traz uma gama muito maior de benefícios à saúde”, finaliza.