O desastre no Rio Grande do Sul serviu de palco para uma rede de divulgação de notícias falsas. Entre as publicações que se destacam está a tentativa de minar a credibilidade do Poder Público diante da tragédia e de atribuir ao próprio povo um trabalho mais significativo que o dos governos federal e estadual.
A conclusão é de pesquisadores do Núclei de integridade da informação da agência Nova, que analisaram entre 1º e 13 de maio publicações no X (antigo Twitter) e Instagram sobre o assunto. Os resultados estão contidos no Verifique o relatório de notícias falsas, a quem CartaCapital teve acesso
No período, os especialistas avaliaram manualmente uma amostra aleatória de mil postagens e consideraram um universo de 11.256 menções ao termo “Rio Grande do Sul”. O trabalho envolveu uma investigação qualitativa de informações e, posteriormente, uma análise quantitativa com 1.226 entrevistas, para mapear o comportamento de campanhas falsas.
Os pesquisadores constataram a construção de cinco principais acusações falsas no período:
1. O Estado silencia para mitigar os efeitos negativos da tragédia;
dois. A burocracia estatal dificulta a ação dos voluntários;
3. O governo e a mídia estão espalhando notícias falsas ocultar omissão e incompetência na contenção de danos;
4. A situação real no RS é pior do que o que foi noticiado na mídia e reconhecido publicamente pelo governo;
5. O governo censura vozes dissonantes que tentam mostrar a verdade sobre a situação do estado, sob o pretexto de “combater notícias falsas“.
Para o analista-chefe da NÓS, Marcus Flora, o movimento, aparentemente coordenado, tem um objetivo muito claro. “Aproveitando um momento de desastre para tentando recuperar histórias e linhas de pensamento que ficaram relativamente submersas por causa do resultado das eleições de 2022 e do golpe fracassado de 2023.”
O arranjo, segundo os pesquisadores, se traduziu em diversas notícias falsasduas delas com maior alcance e aceitação: que os caminhões seriam bloqueados por falta de nota fiscal e que empresários como Luciano Hang fariam mais pelas vítimas do desastre do que o governo federal.
Segundo o estudo, 56% dos entrevistados acreditam nas primeiras informações, posteriormente desmentidas por órgãos como a Polícia Rodoviária Federal e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (39% não acreditam); Enquanto isso, 48% acreditam nas notícias sobre os comerciantes de Bolsonaro (contra 43% que não acreditam).
Para os pesquisadores, a aceitação mostra que o sistema de desinformação prospera ao dar uma nova “vestimenta” à informação factual. A campanha também contou com o apoio de expoentes bolsonaristas nas redes sociais.
Por outro lado, a pesquisa aponta que outras versões fantásticas, como a do presidente Lula (PT) patrocinando show de Madonna, são rejeitadas. Na pesquisa, 39% disseram já ter visto notícias falsas circular, mas 61% não acreditam.
Outro fator que vale a pena considerar é que a maioria das pessoas acompanhou o desenrolar da tragédia no Rio Grande do Sul pelas redes sociais.
“Oh O centro do debate passou a ser as informações falsas que circulam e não a tragédia em si, com o seu impacto social, humanitário e económico”, afirma Flora.
“Esse comportamento nos provoca diversas reflexões sobre o impacto do sofrimento humano que tem sido afastado da disputa política, alimentado por uma grande rede de desinformação, confirmando vários estudos de que esses desinformadores aproveitam situações extremas para desacreditar as instituições democráticas, sem medir as consequências Para a vida das pessoas, o medo e o pânico são a sua matéria-prima.”
“Equilíbrio” entre direita e esquerda
A calamidade pública no Rio Grande do Sul deu origem a um debate “equilibrado” entre direita e esquerda, embora com diferenças de estratégia.
Os dados da pesquisa coletados entre 1º e 8 de maio em X mostram que pOs perfis progressistas envolvidos no debate foram 52% dos usuários, ante 48% do público mais alinhado ao bolsonarismo. No entanto, durante o conjunto os da direita criavam “histórias” diariamente, os perfis mais progressistas focavam-se em tentar refutar as acusações.
“Embora em um movimento reativo, é importante que diferentes setores da sociedade, como governo, representantes políticos, movimentos sociais e a própria imprensa, se posicionem diante da rede de desinformação e exerçam influência na opinião pública”, avaliam os pesquisadores . “Há uma grande parte da sociedade que não quer ser enganada”.