Investigações da Polícia Federal apontam para a existência de pelo menos quatro centros de atuação no suposto esquema de espionagem montado pelo Serviço Secreto Brasileiro, a Abin, no governo de Jair Bolsonaro (PL). As provas foram encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal e resultaram na prisão de cinco pessoas nesta quinta-feira, 11.
O monitoramento ilegal teve como alvo jornalistas, advogados, deputados e ministros do STF. Funcionários, servidores e policiais lotados na Abin teriam organizado o esquema com o objetivo de obter vantagens políticas, por meio da invasão de celulares e computadores e da produção de arquivos contra opositores.
Entre as autoridades espionadas estavam os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e os senadores emedebistas Alessandro Vieira (SE) e Renan Calheiros (AL).
A ferramenta usada para o alegado esquema de pico é o Primeira milha, comprada pela empresa israelense Cognyte por 5,7 milhões de reais, sem licitação, ainda no governo de Michel Temer. oh Programas permite rastrear pessoas com base em dados transmitidos de celulares por meio de torres de comunicação.
O primeiro núcleo, intitulado “Centro de Alta Administração”, tinha o propósito de realizar ações de contrainteligência e criar relatórios que seriam divulgados para disseminar informações falsas. O grupo seria composto por delegados da PF lotados na Abin, onde ocuparam cargos administrativos, incluindo o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), que comandou o órgão entre 2019 e 2022.
Formado também por policiais apoiados, o “Núcleo dos Underdogs” servido como funcionários alta administração e realizou determinações, monitorando objetivos e produzindo relatórios. Seria integrado por:
- Marcelo Araújo Bormevetservidor público e secretário de Planejamento e Administração que trabalhou com credenciamento de segurança e pesquisa para indicações.
- Felipe Arlotta Freitaspolicial federal que coordenou o Centro Nacional de Inteligência
- Carlos Magno de Deus Rodriguespolicial federal e ex-coordenador geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Integridade Corporativa
- Henrique César Prado Zordanum policial federal designado para o cargo de diretor-geral da Abin
- Alexandre Ramalhoum policial federal designado para o cargo de diretor-geral da Abin
- Luiz Felipe Barros Félixum policial federal designado para o cargo de diretor-geral da Abin
oh “Ordem 157 Nuclear” Entre seus integrantes, funcionários da Abin foram responsáveis pela condução de investigações que resultaram na tentativa de vincular deputados e ministros do STF a uma facção criminosa que atuava em São Paulo.
As investigações concluíram que a principal tarefa do grupo era obter informações de uma ONG que trabalha em nome dos presos, para ligá-la às autoridades. Esse núcleo seria formado pelos servidores Ottoney Santos, Thiago Quinalia, Renato Araújo, Rodolfo Nascimento e Ricardo Macedo.
O último núcleo identificado pela PF, intitulado “Centro de Proteção de Registro”, seria integrado apenas por Bruno Faria, servidor responsável pelo processamento dos registros da Primeira Milha. Caberia a ele incluir no programa os números de celulares monitorados.
Nesta quinta-feira, quatro agentes da Abin foram presos por ordem do Supremo. Foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, a serem executados em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora (MG), Salvador e São Paulo. Um dos objetivos permanece foragido.