A entrega oficial do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) ao presidente Lula foi o destaque da V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que terminou quinta-feira, 1º, em Brasília.
Encomendado por Lula no início do ano ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, o plano prevê investimentos de 23 bilhões de reais nos próximos quatro anos e define 31 ações com impacto de curto prazo nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, agricultura, indústria, desenvolvimento social, gestão empresarial e de serviços públicos. Com o PBIA, o governo pretende liderar o desenvolvimento e a aplicação ética e sustentável da IA no Brasil, além de fornecer diretrizes para pesquisa, desenvolvimento e regulamentação de práticas que garantam a segurança e a privacidade dos cidadãos.
O plano visa dotar o Brasil de uma infraestrutura tecnológica avançada, com alta capacidade de processamento e alimentada por energia renovável. Entre as principais propostas estão:
- a montagem de um supercomputador para atender à demanda por pesquisas em IA
- o desenvolvimento de modelos linguísticos avançados em português, com dados nacionais que englobem as nossas características culturais, sociais e linguísticas
“Esse plano feito pelos cientistas brasileiros é um marco na história do nosso país. O que você apresentou não pode ficar na gaveta”, disse Lula. “O Brasil precisa aprender a voar. Não dá para ficar dependente a vida toda, temos que ter ousadia para fazer as coisas acontecerem.”
Para Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, o novo plano é um passo ousado e essencial. Com um investimento público alinhado com os padrões da União Europeia, o ministro vê a iniciativa não só como viável, mas também robusta e exequível. Ela comemorou o retorno do diálogo e da abertura à sociedade, após um período sombrio de negacionismo no governo anterior, e enfatizou a dedicação dos cientistas brasileiros para o sucesso do projeto.
Um dos exemplos de inclusão proporcionados pela inteligência artificial é a ação planejada pelo PBIA, que envolve uma parceria entre o MCTI e os ministérios do Trabalho e do Emprego e do Desenvolvimento Social. Esta colaboração visa conectar os beneficiários do Bolsa Família com oportunidades de trabalho: “A pessoa terá uma oferta de trabalho que se identifica com o seu estágio de formação e acesso a um grupo de pessoas que poderá qualificá-la rapidamente para aquela determinada oferta de trabalho. Inteligência artificial.”
Os 23 bilhões a serem investidos no projeto virão do Orçamento do MCTI, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e equivalentes do setor privado, entre outras fontes de recursos.
“A Finep disponibilizará grande parte dos recursos, tanto na infraestrutura científica, com a aquisição do supercomputador, quanto no financiamento de empresas com juros baixos e no longo prazo”, explica o presidente da Finep, Celso Pansera. “O programa é bom e tem tudo para dar certo”.
Presidente da Academia Brasileira de Ciências, entidade que participou da elaboração do PBIA, Helena Nader afirmou que a expectativa da comunidade científica agora é que o plano se concretize: “Nossa expectativa é que seja realmente criado um conjunto de dados para o Estado brasileiro. O Brasil possui muitos dados relacionados ao planejamento estratégico do país, que estão distribuídos em diferentes bases em outros países”.
Nader pretende que a IA “proporcione maior empregabilidade, promova a igualdade e não aumente a desigualdade”. A nova tecnologia deve ser incluída na educação dos brasileiros de todas as faixas etárias, prega: “É preciso formar pessoas para novas profissões”.
Entre as prioridades elencadas na 5ª CNCTI, Nader destaca “a necessidade de termos um projeto para todos os biomas brasileiros, um programa sólido para a Amazônia e um programa forte para o oceano em todas as suas dimensões, que vai das fronteiras à biodiversidade e a economia” .
A conferência, que durou três dias com participação ativa e salas lotadas, resultou na elaboração de um documento final com recomendações em todas as áreas do conhecimento. Anderson Gomes, secretário-geral adjunto da Conferência, destacou a ampla participação de diferentes setores da ciência brasileira como o maior valor do evento: “Conseguimos reunir entidades representativas, sociedade e acadêmicos”, declarou. Gomes destacou ainda a atenção especial dada à Amazon. Como parte dos objetivos do PBIA, a região receberá investimentos em um sistema de monitoramento de inteligência artificial em todo o bioma Amazônia, além do desenvolvimento de um sistema altamente confiável de previsão e prevenção de eventos climáticos extremos.