A representante da Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, Marina Pita, afirmou nesta segunda-feira (5) que o projeto de lei que regulamenta a inteligência artificial (PL 2338/23) em análise no Senado Federal é maduro e equilibrado.
“Entendemos que o texto atingiu a maturidade, equilibrando as posições dos diversos órgãos governamentais. Nessa discussão estão mais de 19 ministérios, e a versão atual é menos prescritiva que as anteriores, e entendemos que esse é o equilíbrio necessário para equilibrar inovação e proteção”, avaliou.
Ela participou de audiência pública sobre regulamentação de redes sociais e inteligência artificial promovida pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional. O projeto de regulamentação da inteligência artificial define regras gerais sobre o tema e é discutido na Comissão Interna Provisória de Inteligência Artificial do Brasil.
Apresentado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o PL 2338/23 é resultado do trabalho de uma comissão de juristas e está sendo analisado em conjunto com outras nove propostas, incluindo uma já aprovada pela Câmara dos Deputados . (PL 21/20), que elenca diretrizes para promoção e atuação do poder público no tema.
Regulamentação das redes sociais
Para Marina Pita, o texto zela adequadamente pela integridade das informações – conceito que ela considera essencial. O representante da Secretaria de Políticas Digitais acrescentou ainda que a regulação da inteligência artificial não resolve o problema da regulação das redes sociais, que não deve recair nos conteúdos individuais.
Marina Pita entende que o texto sobre IA em discussão no Senado trata da integridade das informações.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Segundo ela, é preciso proteger a liberdade de expressão como direito coletivo e de divulgação, além de proporcionar transparência em torno da publicidade nas redes, e, para isso, a regulação dos mercados e serviços digitais é essencial.
O Senado já aprovou em 2020 o Projeto de Lei 2.630/20, que visa regulamentar as redes sociais e combater as chamadas fake news, mas o texto aguarda análise da Câmara desde então.
Regulamentação do TSE
O presidente do conselho, Miguel Matos, enfatizou que o Congresso deve estabelecer regras para o uso da IA que promovam a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, protejam a sociedade contra os riscos que a tecnologia pode trazer.
Ele enfatizou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) regulamentou, de forma inédita, o uso de IA na campanha para as eleições municipais de 2024 “Entre as medidas está a proibição de falsificações profundasobrigação de alertar sobre o uso de inteligência artificial na propaganda eleitoral, proibição do uso de robôs para mediar o contato com os eleitores e responsabilidade dos ótimos técnicos isso não remove imediatamente conteúdos que contenham desinformação, discurso de ódio antidemocrático, racista e homofóbico”, destacou.
Isenção
Mas segundo opinião da pesquisadora Marilda Silveira, doutora em Direito Administrativo, a regulamentação para uso de IA em eleições também deveria ser discutida no Parlamento ao mesmo tempo que a discussão sobre regras gerais para regular a tecnologia. Explicou que da mesma forma que foi conferido aos meios de rádio e televisão o dever de não se posicionarem nos debates eleitorais, é necessário impor o dever de não tomar partido nas eleições para as grandes plataformas digitais e controlá-lo.
Além disso, argumentou que o impacto e o risco da utilização da IA no processo eleitoral e o impacto e o risco no processo democrático deveriam ser separados na discussão. O pesquisador avalia que o Brasil sanciona mal o tema no processo eleitoral – com sanções posteriormente, através da revogação de mandados. “Devemos repensar esta forma de controle e trazer outros tipos de sanções, suspensão de atividades, sanções alternativas, publicação de comunicados, como fazemos no controle da Lei Anticorrupção, repreensão pública”, afirmou.
Órgão regulador
Advogado especializado em Direito Digital e membro do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Fabrício da Mota Alves destacou que um dos pontos decisivos da discussão é a definição de um órgão regulador para tratar do assunto.
“No atual estágio de discussão no Senado, o regulador proposto pelo relator-senador é a Autoridade Nacional de Proteção de Dados, e novamente a importância da proteção de dados para este debate, pela sua natureza e essência”, observou.
Segundo o advogado, a proposta também enfatiza a necessidade de priorizar os reguladores do setor, como o próprio TSE, responsável por monitorar o uso da IA nas eleições. Segundo o advogado, tanto a regulamentação legal do TSE quanto a proposta do Senado estão intimamente relacionadas e se assemelham nas expressões regulatórias.
O advogado defendeu que as discussões no Parlamento levem em conta a proposta do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 publicada em 30 de julho pelo governo, na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos planeja investir R$ 1,76 bilhão no uso de inteligência artificial para melhorar os serviços públicos.
Ele também enfatizou a necessidade de campanhas educativas para que os cidadãos possam identificar os conteúdos produzidos pela IA e reagir. Os conselheiros do Conselho de Comunicação Social reiteraram a defesa da educação mediática nas escolas para o reconhecimento e utilização das tecnologias.