O fundador e diretor administrativo do Telegram, Pavel Durovcriticou, esta quinta-feira, 5, a Justiça francesa por o ter detido e acusado no mês passado por publicar conteúdos extremistas e ilegais no seu popular mensageiro instantâneo.
Em uma longa postagem na plataforma, a primeira desde que foi preso, Durov afirma que é “surpreendente” que ele seja responsável pelo conteúdo publicado por outras pessoas.
“Usar leis anteriores à era dos smartphones para acusar executivos de crimes cometidos por terceiros na plataforma que gerenciam é uma abordagem falha”, escreveu ele.
Durov também refutou as acusações de que “o Telegram é uma espécie de paraíso anárquico”, chamando-as de “absolutamente falsas”.
“Removemos milhões de postagens e canais prejudiciais todos os dias”, acrescentou.
Também negou as acusações francesas de que a plataforma não respondeu aos pedidos das suas autoridades e garantiu que as ajudou pessoalmente a “estabelecer uma linha de contacto com o Telegram para lidar com a ameaça do terrorismo” no país.
“Problemas crescentes”
Num tom mais conciliatório, porém, Durov também admitiu que o número crescente de utilizadores do Telegram (que estima em 950 milhões em todo o mundo) “causou problemas de crescimento que facilitam o abuso da plataforma por parte dos criminosos”.
“Por isso, tenho como objectivo pessoal garantir que as coisas melhorem significativamente neste aspecto”, acrescentou o empresário, afirmando que o assunto está a ser trabalhado “internamente” e que futuramente revelará mais detalhes.
“Espero que os acontecimentos de agosto tornem o Telegram (e a indústria das redes sociais como um todo) mais seguro e forte”, escreveu ele.
Ele também alertou, no entanto, que se o Telegram não concordar “sobre o equilíbrio adequado entre privacidade e segurança” com os reguladores locais, então “eles estão prontos para deixar o país”.
Após quatro dias de detenção em França, Durov, de 39 anos, foi alvo de diversas acusações relacionadas com o fracasso no combate a conteúdos extremistas e ilegais publicados na sua aplicação.
Sua prisão despertou a solidariedade de outro empresário de tecnologia, o dono da rede X, Elon Musk, que publicou comentários com a hashtag #FreePavel (Free Pavel).
Durov foi detido no aeroporto de Le Bourget, nos arredores de Paris, onde chegou no seu avião privado, e foi interrogado nos dias seguintes pelos investigadores.
Ele foi libertado condicionalmente após fiança de 5 milhões de euros (cerca de 30 milhões de reais), com a condição de não sair da França e comparecer à delegacia duas vezes por semana.
Durov é uma figura enigmática que raramente se expressa em público. De origem russa, obteve também passaportes da França e dos Emirados Árabes Unidos, onde fica a sede do Telegram.
A revista Forbes estima sua riqueza atual em cerca de US$ 15,5 bilhões (86,8 bilhões de reais), embora ele promova os valores de uma vida austera, tomando banhos gelados e evitando álcool e café.