Natalie WADE
Nas redes sociais, os jovens se posicionam contra o consumismo, a publicidade encoberta e a prática de expor suas compras, conhecida como “haul”, e pedem para se livrar do supérfluo.
Reparação, reciclagem, frugalidade e minimalismo: o “núcleo do subconsumo” é tendência no TikTok. Essas postagens incentivam o retorno aos prazeres e habilidades simples, em total contraste com o tipo de conteúdo popular na plataforma.
“Promovem um estilo de vida de consumo moderado: em vez de ter 15 produtos de beleza ou 50 pares de sapatos, ter apenas três”, explica a analista francesa de comportamento digital Anissa Eprinchard.
Numa altura em que tudo se tornou “objecto de consumo, desde o discurso político aos cuidados com a pele”, esta tendência indica “um cansaço com o consumismo de conteúdo”, afirma.
“Quando as pessoas tentam constantemente lhe vender algo e os preços continuam subindo, você acaba sofrendo de exaustão financeira”, explica à AFP Kara Perez, influenciadora americana especializada em questões financeiras e responsabilidade ambiental.
“Utilizo elementos da natureza para decorar meu apartamento, a maioria das minhas roupas são de segunda mão… Reaproveito potes de molho para guardar comida, é gratuito e muito prático”, afirma uma internauta em vídeo publicado em julho no Instagram.
– “Rotinas irrealistas” –
Para Eprinchard, esta tendência está ligada ao cansaço de “rotinas irrealistas ou ‘aquisições’ indecentes”.
Este tédio é ainda mais agudo nos Estados Unidos, onde os jovens adultos têm sofrido com o aumento dos preços desde a pandemia de Covid-19. Os consumidores sentem-se “alienados” num contexto geopolítico e económico instável, explica Tariro Makoni, especialista na análise de movimentos sociais e de consumo.
Segundo especialistas consultados pela AFP, as gerações mais jovens começam a perceber que não conseguem acompanhar a abundância de produtos promovidos nas redes.
Em busca de identidade, muitos jovens consomem “compulsivamente” moda descartável e substituível, explica à AFP a criadora de conteúdo britânica Andrea Cheong, autora de um livro sobre moda sustentável.
Em sua conta no Instagram, ela mostra aos seguidores como reaproveitar peças inesperadas, como lingerie, e transformar vestido de noiva em regata.
– Simples e atemporal –
O “núcleo do subconsumo” pretende regressar a uma estética imperfeita e insere-se numa procura de intemporalidade que contrasta com as tendências do Instagram e do TikTok que o precederam.
“Gostaria que fosse mais do que uma tendência. Para algumas pessoas, é um modo de vida”, diz Cheong.
Os especialistas entrevistados confirmam um interesse crescente por conteúdo autêntico, afastando-se da clássica cultura influenciadora que incentiva o hiperconsumo.
Reciclar e preservar “virou moda”, diz Makoni, acrescentando que “um movimento semelhante foi criado após a crise financeira de 2008”.
Cada vez mais jovens desenvolveram uma consciência ecológica, mas o principal motor desta tendência continua a ser o poder de compra, afirma Cheong, que, no entanto, considera esta uma mudança positiva para o planeta.
Para ela, ao transmitir a mensagem de “consumir menos”, o “núcleo do subconsumo” ajuda a popularizar uma abordagem sustentável, ecologicamente responsável e acessível a todos.
O espírito de “subconsumo” vai além das redes sociais.
Em Washington, Anjali Zielinski, 42 anos, e sua filha Mina, sete, participaram recentemente de um workshop de costura. Zielinski quer estimular a criatividade da filha, mas também incutir “o valor das coisas” e “o trabalho necessário para as produzir”, num mundo que considera cada vez mais desligado destas realidades.