Ricardo STUCKERT
A ONG ambientalista Mighty Earth associou nesta terça-feira (17) os grandes frigoríficos JBS, Marfrig e Minerva à “destruição química” do Pantanal brasileiro, após constatação de que a organização como fornecedora pulverizou agrotóxicos em vasta área deste bioma para abrir espaço para a pecuária.
A Mighty Earth citou em reportagem uma operação policial realizada em abril no estado de Mato Grosso contra o “desmatamento químico” de mais de 81,2 mil hectares em onze propriedades localizadas na maior área úmida do mundo.
A degradação deste santuário de biodiversidade ocorreu entre 2021 e 2023 com a pulverização aérea de 25 tipos de “pesticidas”, incluindo o 2,4-D, componente do Agente Laranja, utilizado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietname, segundo o Departamento de Meio Ambiente de Mato Grosso.
A Fazenda Soberana, uma das onze propriedades envolvidas em crimes ambientais, está no “centro de uma cadeia produtiva de carne bovina que conecta os três maiores frigoríficos com quatro grandes redes de supermercados do Brasil: Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí”, disse Mighty Earth em um comunicado.
– Grave bem –
O proprietário da fazenda foi multado em R$ 2,8 bilhões em abril por danos causados ao meio ambiente, valor recorde para Mato Grosso em casos desse tipo, segundo a secretaria.
A agência afirmou na época que a pulverização “irregular” também poderia ter contaminado a água da área inundada, colocando em risco a vida selvagem, principalmente peixes, e até seres humanos.
Por meio de imagens de satélite, a investigação da Mighty Earth, feita em parceria com as organizações Repórter Brasil e AidEnvironment, constatou que a operação destruiu 3.447 hectares na Fazenda Soberana.
“O uso desse agente laranja e outros componentes químicos para a destruição da floresta já havia sido identificado, mas a dimensão que vimos nisso foi a primeira vez”, disse João Gonçalves, diretor da Mighty Earth no Brasil, à AFP.
No total, incluindo o desmatamento atribuído à Fazenda Soberana, o estudo constatou a destruição de 4.651 hectares em cinco propriedades pecuárias na Amazônia, Cerrado e Pantanal, supostamente ligadas direta ou indiretamente à JBS, Marfrig e Minerva.
– “O desmatamento ilegal não é tolerado” –
Em resposta enviada aos autores do relatório em maio passado, a JBS afirmou que os casos citados não constam nos sistemas de alerta de desmatamento que utiliza: o estatal Prodes e a rede MapBiomas.
Uma das propriedades, localizada no estado do Pará, não está cadastrada como fornecedora, e as compras de outras três, que a JBS não menciona, “foram realizadas antes de serem identificadas possíveis irregularidades socioambientais”, garantiu.
As políticas de compras da empresa “não toleram o desmatamento ilegal”, afirmou em nota enviada à AFP na segunda-feira.
A Marfrig, por sua vez, disse à AFP que a Fazenda Soberana “forneceu-lhe animais para abate” em setembro de 2018 e janeiro de 2019.
“No momento do abate, a propriedade atendia a todos os critérios socioambientais”, afirmou.
Em comunicado enviado à AFP, a Minerva indicou que, em relação à Fazenda Soberana, no concelho de Barão do Melgaço, “não há comercialização”.
O Carrefour argumentou na resposta à ONG que, “após um estudo cuidadoso”, pode confirmar “que nenhuma das cinco propriedades citadas abastece o grupo”.
A Poderosa Terra também denunciou que 27 frigoríficos da JBS que fornecem produtos para os supermercados Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí estão “ligados” à destruição de quase 470 mil hectares na Amazônia e no Cerrado entre 2009 e 2023.
Se forem incluídos nove frigoríficos “associados” à Marfrig e à Minerva, a área é superior a 550 mil hectares, segundo seus cálculos, atualizados periodicamente.
O estudo foi publicado num momento em que os incêndios devastam o Pantanal.
Embora o incêndio esteja ligado a uma seca extrema agravada pelas alterações climáticas, as autoridades afirmam que a maioria dos casos tem origem criminosa.