Imagem divulgada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 18 de julho de 2024 mostra paleontólogos trabalhando em escavação onde foi descoberto fóssil de dinossauro em São João do Polêsine, no Rio Grande do Sul
Folheto
As intensas chuvas que causaram inundações históricas no sul do Brasil revelaram um fóssil de dinossauro com cerca de 230 milhões de anos que está “quase completo” e com “muito boa preservação”, disseram os cientistas.
O fóssil foi descoberto em maio no município de São João do Polêsine, no Rio Grande do Sul, em importante sítio paleontológico do Triássico.
Este período entre 250 e 200 milhões de anos atrás é anterior ao Jurássico, que foi popularizado pela saga de Hollywood “Jurassic Park”.
Após quatro dias de escavações, uma equipe de paleontólogos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conseguiu recuperar e transportar o bloco de rochas com o esqueleto fossilizado.
Segundo as primeiras observações, trata-se de um indivíduo de cerca de 2,5 metros de comprimento da família Herrerasauridae, predadores carnívoros que habitavam os atuais pampas da Argentina e do Brasil.
“Esse material é interessante porque, além de estar entre os dinossauros mais antigos do mundo, está quase completo e tem uma preservação muito boa. Então vai nos trazer muitas informações sobre a anatomia desses dinossauros”, explicou Rodrigo Temp Müller. à AFP, que liderou as escavações.
Segundo o especialista, este é possivelmente o segundo exemplo mais completo de Herrerasauridae encontrado até agora.
O primeiro foi descoberto em 2014 nesta mesma região e revelou-se uma espécie até então desconhecida, que recebeu o nome de Gnathovorax cabreirai.
– Trabalho delicado –
No entanto, é necessário realizar testes para determinar se os fósseis correspondem a outro indivíduo desta espécie ou a um novo, segundo Temp Müller.
O trabalho em laboratório para extrair os ossos e preservá-los pode demorar “alguns meses”, por se tratar de um processo “muito detalhado, quase cirúrgico”.
“Cada pequena parte que pudermos estragar será uma informação que talvez não consigamos recuperar”, acrescentou.
Uma vez removidos, os ossos serão objeto de análises anatômicas comparativas e outros estudos.
Os dados são processados com programas de computador que mostram o grau de parentesco do animal e outras informações que vão ajudar a “entender um pouco mais sobre a evolução do grupo”.
Os resultados serão posteriormente publicados em publicações científicas.
– Chuvas reveladoras –
O atual pampa gaúcho, na fronteira com Uruguai e Argentina, abriga centenas de sítios paleontológicos, visíveis principalmente por seu solo avermelhado, que ajudam a compreender o remoto período Triássico.
As intensas chuvas que atingiram esta região do centro do Rio Grande do Sul em maio causaram enchentes históricas que deixaram mais de 180 mortos, milhares de desabrigados e danos materiais incalculáveis.
Desta vez, a precipitação foi aliada, mas também inimiga das descobertas destes fósseis de dinossauros.
O excesso de chuvas em maio “acelera muito esse processo de erosão nos locais”, o que levou à descoberta do novo indivíduo Herrerasauridae.
Mas esse volume muito superior ao tradicional “também destrói muito material”, principalmente as partes menores, se não forem resgatadas rapidamente, explica Temp Müller.
Por isso, equipes do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa) Quarta Colônia da UFSM foram até o local para monitorar os sítios em busca de fragmentos expostos, e estão trabalhando arduamente nas escavações para recuperá-los.
Além do esqueleto quase completo do dinossauro, outros fósseis também foram recuperados nos municípios de Faxinal do Soturno, Agudo, Dona Francisca e Paraíso do Sul nos últimos meses.