O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, voltou a defender neste sábado 22 a necessidade de regular as plataformas digitais e criticou o fato de elas terem “tribalizado” o mundo e levado os usuários à radicalização. Segundo ele, é preciso “fazer com que mentir volte a ser errado”.
Barroso participou, neste sábado, 22, do Brasil Forum UK, na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
“Precisamos regularmente as plataformas digitais, neste mundo que se tribalizou por conta dessas plataformas em que as pessoas vivem nas suas vias de comunicação, sempre lendo as mesmas coisas e se radicalizando”, disse o magistrado. “Em um mundo em que a imprensa sofreu uma crise no seu modelo de negócios, nós perdemos esse espaço importante de criação de fatos comuns sobre os quais as pessoas formam as suas próprias opiniões.”
Na Câmara dos Deputados, por decisão de Arthur Lira (PP-AL), o chamado PL das Fake News voltou à estaca zero. Em abril, ele anunciou o reinício da discussão com a formação de um grupo de trabalho.
Com isso, deve recorrer ao STF a tarefa de se debruçar sobre o assunto, embora em outros termos. O ministro Dias Toffoli avisou que liberaria até o fim deste mês uma ação sob sua relatoria que questiona parte do Marco Civil da Internet.
O processo trata do artigo 19 do Marco, a disposição sobre as situações em que um provedor de internet pode ser responsabilizado por mensagens de internautas.
Diz a norma:
“Com o intuito de garantir a liberdade de expressão e evitar a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros, ordem judicial específicanão tomar as precauções para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.”
O Supremo foi instaurado a possibilidade de punir as plataformas para permitir a circulação de postos com teor golpista ou alusão à violência contra determinados grupos sociais, independentemente de decisão judicial.
“O que esse mundo das plataformas digitais criou foram tribos que têm narrativas próprias e que já não reúnem mais os mesmos fatos”, afirmou Barroso neste sábado. “E isso é muito grave, porque o ideal é que as pessoas formem as suas opiniões a partir de verdades – relatadas, mas pré-estabelecidas. E nesse mundo das plataformas digitais as pessoas criam suas próprias narrativas. Precisamos fazer com que mentir volte a ser errado.”
Assim que Toffoli liberar os autos do processo, caberá a Barroso agendar os dados do julgamento.